CAPÍTULO 4#

À noite

A inquietação me consumia. Aquela mulher tinha entrado na minha mente como um maldito veneno. Eu precisava saber mais. Aquele jeito arrogante, o olhar desafiador... ela não era uma vizinha comum, disso eu tinha certeza.

Desci para o térreo e fui direto ao escritório do gerente do prédio. Andrew era um homem baixinho, calvo, sempre suando, mas eficiente em manter os segredos dos inquilinos. Também era ganancioso, o que o tornava fácil de manipular.

Bati na porta e entrei sem esperar resposta. Ele me olhou com aquele sorriso falso que sempre dava quando sabia que eu estava prestes a pedir algo fora das regras.

— Monsieur Castelli, no que posso ajudá-lo?

Fechei a porta atrás de mim e fui direto ao ponto.

— Preciso de informações sobre a nova inquilina que mora no andar abaixo do meu.

Andrew ficou visivelmente desconfortável.

— Senhor Castelli, o senhor sabe que essas informações são confidenciais...

Peguei um maço de euros e joguei sobre a mesa dele.

— Vamos economizar tempo, Andrew. Qui est-elle(Quem é ela)?

Ele hesitou por alguns segundos, os olhos fixos no dinheiro. Finalmente, soltou um suspiro pesado e puxou o laptop.

— Anastásia Abramovich, registrada há dois dias. Russa.

— Mais alguma coisa?

Andrew fechou o laptop, nervoso.

— Isso é tudo o que posso dizer, senhor.

— Ce n'est pas suffisant( Não é suficiente ). Quero a senha do apartamento dela.

Ele arregalou os olhos, levantando-se da cadeira.

— Isso é demais, Monsieur! Se descobrirem que passei essa informação...

Aumentei o maço de dinheiro na mesa.

— Você acha que alguém vai saber? É um bom dinheiro, Andrew. Mais do que você ganha em meses.

O desgraçado hesitou novamente, mas o brilho nos olhos denunciava sua ganância. Ele voltou ao laptop e, depois de alguns minutos digitando, anotou algo em um pedaço de papel.

— Aqui está. Mas, pelo amor de Deus, seja discreto.

Peguei o papel e dei um leve sorriso.

— Je suis ( Sempre sou ).

Naquela noite

O restaurante que eu e Claire escolhemos era elegante, com iluminação baixa e uma vista deslumbrante para as luzes da cidade. Claire, como sempre, estava impecável em um vestido preto justo, o cabelo preso em um coque perfeito. Eu optei por algo mais simples, mas ainda assim elegante: um vestido vinho com decote discreto e um colar de pérolas.

Sentamos em uma mesa reservada, longe dos olhares curiosos. Enquanto esperávamos pelo vinho, Claire começou a falar sobre o caso que estávamos investigando.

— Esses políticos corruptos não vão descansar enquanto não eliminarem qualquer ameaça. — Ela me lançou um olhar sério. — E você está se tornando uma.

Dei de ombros, tentando parecer mais tranquila do que realmente me sentia.

— Faz parte do trabalho.

— Não se trata só do trabalho, Anastásia. Esses homens têm conexões perigosas. Eles podem te apagar sem ninguém perceber.

— Eu sei disso. — Olhei para o copo de vinho que acabava de ser servido. — Mas se eu recuar agora, o que isso vai dizer sobre mim?

Claire suspirou.

— Que você é inteligente.

Sorri de leve.

— Ou que sou fraca.

Usei o código para entrar no apartamento de Anastásia. O ambiente estava impecavelmente organizado, quase clínico. Não havia indícios de bagunça ou descuido, o que combinava com o jeito dela.

Caminhei pelo espaço com passos leves, analisando cada detalhe. Uma estante de livros chamou minha atenção. Clássicos russos, obras de direito internacional, até mesmo alguns romances contemporâneos. Peguei um dos livros e folheei, mas voltei a colocá-lo exatamente onde estava.

Na escrivaninha, uma foto emoldurada. Peguei a moldura. Era Anastásia, vestida com uma toga de juíza. Droga. Ela era uma juíza?

— Merde. — Murmurei.

Isso complicava tudo. Ela era um problema em potencial, uma ameaça ao meu mundo.

Voltei a colocar a foto no lugar e continuei explorando. Não havia câmeras, pelo menos nenhuma visível. Tudo parecia seguro, mas algo na atmosfera começava a mudar.

Foi então que ouvi um som. A maçaneta da porta girando.

Endireitei-me, o coração acelerando. Merda. Alguém estava chegando.

Continua...

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