Capítulo 5

São exatamente dez da noite de uma sexta-feira. Dez da noite. E o Thomas? Nada. Não atendeu nenhuma das minhas ligações. Nenhuma. Nem respondeu minhas mensagens. Tô deitada na cama com o coração disparado. Não sei se é raiva ou tristeza. Talvez os dois. A Janne tinha razão. Ele deve ter outra ...

A porta se abre. Ele entra no quarto tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Dou um pulo da cama, tomada por um impulso que já não dá pra segurar.

MARIA: — Onde você estava, Thomas?! Que merd@ é essa?!

THOMAS: — O quê? Por que tá gritando desse jeito agora?

MARIA: — São DEZ HORAS da noite! Você some, ignora minhas ligações e entra aqui com essa cara lavada?? Eu te liguei MILHARES de vezes!

THOMAS: — Eu tava no bar com os caras! Só isso. Fui relaxar um pouco. Trabalhei a semana toda sem respirar! Não posso ter um momento meu?

MARIA: — Ah, no bar, né? Ou em algum motel com alguma…

Ele me interrompe segurando meu braço com força.

THOMAS: — Olha como você fala comigo! Me respeita, Maria! Que tipo de homem você acha que eu sou, hein? Já deu disso tudo! Tá ruim pra você? Vai embora então!

MARIA: — Me solta! Tá ficando maluco?

THOMAS: — Droga!

Ele solta meu braço, sai batendo a porta com força. Me deito, ainda ofegante e choro. Choro de raiva, de mágoa, de exaustão. Eu tô cansada. Quero ir embora. Quero o divórcio.

Adormeço chorando. Não sei quanto tempo passou, mas acordo com um toque suave no meu rosto. Abro os olhos e vejo Thomas ali, sentado ao meu lado, me acariciando.

THOMAS: — Me desculpa… por tudo. Por ter falado daquele jeito com você.

MARIA: — Onde você estava, Thomas? Me diz a verdade, só isso.

THOMAS: — Tô falando a verdade. Eu tava no bar. Só isso. Bebendo, desabafando com os caras. Você sabe como meu trabalho é puxado…

MARIA: — E aí você decide “relaxar” num bar, em vez de vir pra casa e estar com seu filho? Comigo? Podíamos ter jantado fora, assistido à um filme… qualquer coisa. Mas você escolheu beber com seus amigos até tarde. E nem se deu ao trabalho de avisar.

THOMAS: — Você tem razão… Eu errei. Desculpa.

MARIA: — Você sempre erra. Sempre pede desculpa. E depois volta tudo de novo. Sabe o que é pior? Você vem, fala manso, e eu acabo caindo. Mas não mais. Eu tô cansada. Eu quero o divórcio.

Ele arregala os olhos. Congela. Nunca ouviu isso sair da minha boca antes.

THOMAS: — O quê? Você quer… o divórcio?

MARIA: — Você mesmo disse: “se tá ruim, vai embora”. Então… eu vou.

THOMAS: —Para com isso. Eu só tava nervoso.

MARIA: —Não vou mais viver nesse ciclo, Thomas. Eu tento, tento, tento… e você não faz nada.

THOMAS: — Amanhã… a gente podia dar um passeio em família. Só nós três.

MARIA: — Você sempre faz isso. Sempre tenta “consertar” com um programa de fim de semana.  Eu não sou idiota. Você acha que um passeio resolve tudo?

THOMAS: — Tô tentando pedir desculpa! Fazer alguma coisa, e nada tá bom pra você! O que mais você quer?

MARIA: — Quero paz. Só me deixe quieta. Por favor.

Ele me dá um beijo leve, e se deita ao meu lado. Fecho os olhos. Não quero mais discutir. Não quero mais pensar. Só quero dormir…

No dia seguinte, sábado, nós realmente fizemos um passeio em família. Achei que ele só tinha dito aquilo pra me acalmar na noite passada, mas aqui estamos… No parque. Juntos. Nós três. Estendemos uma toalha sobre a grama e nos sentamos. Benjamim está ali, sentadinho, encantado com as folhas e os sons ao redor. É a coisinha mais fofa do mundo. Me sento entre as pernas de Thomas e me escoro em seu peito. Sinto o calor dele me envolver. Por um momento, quase consigo fingir que estamos bem. Que ainda somos aquele casal do início.

MARIA: — Thomas...

THOMAS: — Hum?

MARIA: — A gente devia ter mais momentos assim... só nós três.

THOMAS: — Eu sei... você tem razão.

MARIA: — Eu te amo.

THOMAS: — Eu também.

Fico em silêncio por um instante. Engulo seco.

MARIA: — É tão difícil dizer “eu te amo” também?

THOMAS: — Como assim? Eu acabei de dizer.

MARIA: — Não, você disse “eu também”. Isso não é a mesma coisa.

THOMAS: — Ah, sério? Vai implicar com isso agora?

MARIA: — Não tô implicando… só queria ouvir sair da sua boca. De verdade.

THOMAS: — Tá bom. Eu te amo. Feliz agora?

MARIA: —Deixa pra lá...

Suspiro. Me levanto devagar.

THOMAS: — Vai pra onde?

MARIA: — Levar o Benjamim pra ver os patos. Perto do lago.

…...

Mais tarde, já em casa, dou banho em Benjamim e, assim que ele dorme, desço à procura de Thomas. Quero tentar terminar o dia bem. Talvez assistir à um  filme juntos. Mas o encontro na área externa, de costas, falando ao celular. Paro sem fazer barulho e fico em silêncio, ouvindo a conversa escondida.

THOMAS : — ´´Sim, vou almoçar com você... Hum rum, prometo.´´

’’---Você é linda de qualquer jeito, você sabe disso.’’

’’---Eu também te amo.’’

Meu corpo inteiro esfria. O monitor cardíaco no meu pulso começa a apitar. Meu coração dispara.

Thomas se vira assustado com o som.

THOMAS: — Maria? O que foi? Calma! Respira!

Ele vem até mim e me ampara, me sentando numa cadeira.

THOMAS: — Respira fundo, tá? Vai passar. Calma!

Ele diz, ainda com o celular na mão.

THOMAS: — Mãe, preciso desligar! …Não, tá tudo bem… depois eu te ligo.

MARIA: — Mãe?

Tomo o celular das mãos dele e o coloco no ouvido.

MARIA: — Sogra?

SOGRA: — Maria? Tá tudo bem, querida? O que aconteceu?

Meus olhos se enchem de lágrimas. Suspiro aliviada e deixo o celular cair no chão.

O monitor cardíaco começa a desacelerar. O alarme para.

THOMAS: — O que foi isso, Maria? Por que você passou mal assim?

MARIA: — Achei que… que você tava falando com outra pessoa.

THOMAS: — De novo isso, Maria?

MARIA: — É que… a forma como você falou... parecia outra coisa. Soou íntimo demais...

THOMAS: — Minha mãe nos chamou pra almoçar amanhã. Ela tá pensando em pintar o cabelo de vermelho, e ficou insegura. Eu disse que ela é linda de qualquer jeito. Foi só isso. Pelo amor de Deus, Maria… você precisa parar com essas paranoias.

MARIA: — Me desculpa…

THOMAS: — Confia em mim, caramba! Eu sou seu marido!

MARIA: — Eu só tenho medo, Thomas... Medo de você estar me traindo. Medo de perder nossa família. Eu não quero que nosso casamento acabe. Eu tô tentando! Por favor, se esforça comigo... pelo Benjamim, por nós…

THOMAS: — Eu prometo que vou tentar, tá? Me desculpa. Eu te amo, Maria. Eu te amo.

MARIA: — Hum rum… Eu também te amo.

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Comments

엘리 케이로스

엘리 케이로스

PV:A MARIA E UMA TREMENDA MASOQUISTA. ELA SO VAI ACREDITAR QUANDO PEGAR O TRAIDOR COM A MÃO NA MASSA.NO CASO NO CORPO DA AMANTE E E BEM CAPAZ DELA COLOCAR PANOS QUENTES/Puke/

2025-01-17

59

Maria Maura

Maria Maura

Detesto mulher fraca, fica na cola do homem, tem medo de trabalhar ser independente.Falta diálogo nesse casamento, ela é louca e vai jogar o marido pras vadias de tanto encher o saco.Acorda se valoriza.

2025-02-22

2

Analia Jesus

Analia Jesus

olha autora nada contra. Mais porque vejo tantas mulheres agir assim se humilhando por migalhas de amor que fico revoltada /Awkward//Awkward//Awkward//Awkward//Awkward/

2025-02-13

4

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