Os dias seguintes àquele encontro na praia ficaram gravados na mente de Isabela como uma marca indelével. Era como se sua vida tivesse entrado em um novo ciclo, um que ela não conseguia controlar, mas que de alguma forma a atraía. Ela sabia que algo havia mudado, e embora não soubesse exatamente o que, sentia que o universo estava lhe apresentando um caminho diferente do que ela havia seguido até então.
O trabalho, que sempre foi seu porto seguro, agora parecia distante. As horas se arrastavam e ela se sentia desconectada, como se estivesse vivendo em um mundo paralelo, onde nada parecia fazer sentido. Cada reunião, cada e-mail, cada tarefa parecia se distanciar mais daquilo que ela realmente queria ou precisava. O vazio dentro dela parecia crescer, como se ela estivesse cada vez mais afastada de quem realmente era.
Era um sábado quando ela decidiu retornar à praia. Havia algo naquela paisagem que a chamava, como se o mar tivesse o poder de limpar a mente e restaurar o equilíbrio. O som das ondas quebrando na areia, o cheiro da maresia no ar, a brisa suave que acariciava seu rosto – tudo parecia em perfeita harmonia. Talvez fosse ali, naquele espaço de tranquilidade, que ela pudesse encontrar as respostas para as questões que surgiam em sua mente.
Quando chegou, percebeu que a praia estava relativamente tranquila. O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados, e as ondas se quebravam suavemente na areia. Isabela caminhou pela orla, os pés descalços tocando a areia fria, enquanto seus pensamentos flutuavam, tentando encontrar sentido naquilo tudo. Ela ainda pensava em Ricardo, no olhar penetrante que ele tinha, nas palavras que trocaram, na presença dele que parecia ter um magnetismo inexplicável.
Não sabia exatamente o que procurava, mas sentia que o mar, com sua imensidão, era o único lugar onde ela podia se conectar com algo mais profundo dentro de si. O encontro com Ricardo a havia tocado de maneiras que ela não conseguia explicar, e mesmo com a presença de Sofia naquele momento, algo nele ainda a atraía, algo que ela não conseguia controlar ou entender.
Ela parou em frente ao mar, fechando os olhos por um momento, permitindo que a brisa do oceano a envolvesse. A sensação de liberdade e paz que ela experimentava ali era inebriante. Porém, quando abriu os olhos, notou uma figura familiar à distância. Era ele, Ricardo. Estava de costas, olhando para o horizonte, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos. A simples visão dele fez seu coração acelerar. Era como se o destino a tivesse levado de volta a esse momento, e algo dentro dela sabia que ele era uma parte de algo maior.
Isabela hesitou por um momento, sem saber o que fazer. Mas a força que a puxava em direção a ele foi maior que sua dúvida. Ela deu um passo à frente, depois mais outro, até que, finalmente, se aproximou. Quando ele a percebeu, virou-se lentamente, e seus olhos se encontraram. Não havia surpresa em seu olhar, apenas uma calma profunda, como se ele já soubesse que ela viria. Havia algo sobre ele que parecia transcender a razão, algo que fazia com que ela se sentisse atraída, mas ao mesmo tempo com medo de se entregar a essa sensação.
— Oi, — disse ele, com uma voz suave, mas firme. — Fico feliz que tenha voltado.
Isabela sentiu um nó no estômago, mas ao mesmo tempo, algo a fez sorrir. Ela sentiu que precisava estar ali, como se aquele fosse o lugar certo para ela naquele momento.
— Eu também, — respondeu ela, com a voz baixa, mas sincera. — Eu… precisava voltar.
Ricardo assentiu com a cabeça, como se entendesse perfeitamente o que ela queria dizer. Ele caminhou em direção a ela, e a distância entre os dois foi se fechando, até que estavam próximos o suficiente para sentir a presença um do outro, mas ainda sem tocar-se. O olhar dele era penetrante, mas ao mesmo tempo acolhedor. Isabela sentia uma mistura de nervosismo e curiosidade, como se estivesse prestes a descobrir algo importante.
— Você sabia que voltaria? — perguntou ele, quebrando o silêncio com uma pergunta aparentemente simples, mas carregada de significado.
Isabela pensou por um momento. Ela não sabia exatamente o que a havia trazido de volta, mas sentia que havia algo de inevitável nisso, como se o destino tivesse de alguma forma interligado suas vidas.
— Não sei. Mas… parece que o mar me chama, e você também, — respondeu ela, suas palavras fluindo de maneira natural, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Ricardo sorriu levemente, e esse sorriso fez com que algo dentro de Isabela se aquecesse. Ele parecia ser alguém capaz de entender as complexidades da vida de uma maneira que ela não conseguia. Alguém que talvez tivesse respostas para as perguntas que surgiam dentro dela. Mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação de que ele guardava algo, algo profundo e misterioso.
— O mar tem esse efeito sobre as pessoas, — disse ele, olhando para o horizonte. — Ele nos leva a lugares que a gente nem sabia que existiam dentro da gente. Às vezes, ele nos revela coisas, outras vezes, apenas nos deixa com mais perguntas.
Isabela observou-o, sentindo que suas palavras tocavam uma verdade que ela mesma não sabia explicar. Era como se ele entendesse a profundidade daquilo que ela estava vivendo, a busca que ela não sabia que estava fazendo até aquele momento. Ela não sabia o que ele queria dizer, mas sentia que o que ele falava fazia sentido para ela, como se o mar fosse, de fato, um reflexo de suas próprias dúvidas e desejos.
— E o que você acha que o mar está tentando te revelar? — perguntou ela, mais curiosa do que nunca.
Ricardo olhou para ela, e seus olhos brilharam com algo misterioso, como se ele estivesse compartilhando uma parte muito íntima de si mesmo.
— Eu acho que o mar me está mostrando quem eu realmente sou. Mas ainda não sei se estou pronto para aceitar isso.
Isabela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O que ele queria dizer com aquilo? Quem ele realmente era? Por que suas palavras a tocavam de forma tão intensa, como se fossem destinadas a ela? Ela não sabia, mas sabia que precisava entender.
— Você tem medo de se ver? — perguntou ela, não planejando que a pergunta saísse de seus lábios, mas, assim que disse, percebeu que havia algo nela que a impelia a perguntar. Algo que a conectava com Ricardo de uma maneira que não conseguia controlar.
Ricardo sorriu, mas havia uma sombra nos seus olhos, como se ele estivesse escondendo algo. Ele deu um passo mais próximo, e agora, os dois estavam tão perto que Isabela podia sentir a tensão no ar. A proximidade dele a fazia sentir algo que ela não sabia como interpretar. Havia algo de inusitado nesse momento, algo de inevitável.
— Todos nós temos medos, Isabela. Mas talvez o medo seja apenas o começo de algo muito maior. Algo que podemos encontrar, se tivermos coragem de enfrentar o que vem com ele.
As palavras dele ressoaram em sua mente. O medo. A coragem. Era como se ele estivesse falando diretamente com ela, tocando em algo profundo que ela ainda não sabia que estava lá. Ela sentia que havia algo em jogo, algo que iria mudar sua vida para sempre.
Por mais que quisesse entender o que estava acontecendo entre eles, Isabela sentia que as respostas não estavam ali, naquele momento. Elas estavam se formando, lentamente, como as ondas que se quebravam na praia. Algo maior estava acontecendo, e ela sabia que não podia controlar isso. Mas, de alguma forma, isso não a assustava. Pelo contrário, fazia com que ela se sentisse viva.
O vento aumentou um pouco, e as ondas pareciam mais intensas, quebrando com força contra as pedras na costa. Era como se o próprio mar estivesse respondendo ao que estava acontecendo entre eles, como se as ondas do destino estivessem se alinhando, levando-os a um caminho que ambos estavam, de alguma forma, destinados a seguir.
Isabela olhou para Ricardo, e ele olhou de volta para ela, seus olhos mais profundos do que nunca. Ela sabia que este era o começo de algo maior, algo que mudaria tudo, mas que ela não poderia prever. E, no entanto, estava disposta a seguir, com coragem e curiosidade, sem saber para onde as ondas a levariam.
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Atualizado até capítulo 100
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