Em casa eu mexia nos números antigos de telefone e os discava rapidamente escondido de minha mãe. Ela não sabia que eu sabia onde ela escondia as cartas que meu pai enviava para mim, nelas tinha o número dele embaixo delas, minha mãe as razuravas quando chegavam em mim para não saber o número, mas eu as colocava contra luz e conseguia ver alguns números e os discavas quando ela não estava presente.
E nas várias vezes que discava, mais esperançoso ficava, eram menos números para eu decorar. E nesse ritmo escondido em meu quarto buscando ajuda pelo meu pai, não havia percebido que alguém havia abrido a porta.
_ Que você está fazendo, Murilo? (Era minha mãe me olhando curiosa).
Com ela me perguntando, desliguei meu celular rapidamente e o guardei, e debaixo do lençóis escondi as cartas no fundo para que ela não visse. Minha mãe odiava meu pai, se ela soubesse que eu queria falar com ele, com certeza iria surtar.
_ N-nada! (Assustado eu a encarei sério).
_ Por que escondeu o celular? Está fazendo coisas erradas? (Michelle me olhava bem séria e se aproximou de mim).
_ Não! (Eu a encarei sorrindo sem graça e ela ficou do meu lado me pedindo o celular).
_ Deixa eu ver! (Aí ela pegou o meu celular me olhando desconfiada).
Assim ela o olhou e viu que não tinha nada e depois me entregou ele de volta e passou a mão em minha cabeça. É claro que eu não devia nada ela, mas meu coração havia parado por uns minutos quando ela mexeu em meu celular e me devolveu.
_ O que você estava vendo, Murilo? Estava vendo desenhos de novo ao invés de estudar? (Ela me olhava bem séria).
_ Eu vou estudar, prometo! (Sem graça eu desviei meu olhar do dela).
_ Então estuda! Sua professora falou que você anda se distraindo demais na aula, e fica fazendo cara feia para ela e se encolhendo na carteira para não fazer o dever! Eu sei que você se dispersa fácil, mas não ter interesse na aula, não faz você ter mais dificuldades para aprender a lição? (Ela dizia calmamente comigo).
_ É! Foi sem querer, eu não faço mais! (Eu nem sabia do quê ela falava para mim, mas sabia que era sobre minha professora de novo, com certeza ela me pegou colando de novo).
_ Não vai fazer mais? Então porquê você ainda faz? Eu não estou te levando na neuropsicopedagoga e você não fica atento com ela? Por que com a professora é diferente? (Minha mãe me olhou perplexa).
_ Não sei! Não vou fazer mais! (Eu acenava para ela sorrindo).
_ O quê que você não vai fazer mais? (Ela me encarou bem séria e eu fiquei atencioso a ela).
_ É...é, ficar colando na aula? Tá bonita à noite não é? (Eu sorria para ela confuso).
_ É Murilo, você está disperso de novo! Parece que isso está acontecendo mais vezes que o normal! Está tomando seus remédios no horário certo? (Ela mexia em minha bolsa, olhando meus pertences).
_ Eu esqueci! (Eu sempre esqueço as coisas, principalmente depois que meu relógio parou).
_ Pois é, vai tomá-los! Amanhã você compra uma bateria nova e não compra porcarias, ouviu? (Ela me deu dinheiro e escreveu um bilhete nele para saber o que eu deveria comprar).
_ Mãe, quando vou poder ver meu pai? Tou com saudade dele! (Eu dizia descontraído para ela mexendo no dinheiro).
_ Não vamos falar do Dantes, Murilo! Não quero saber de você falando dele aqui! E pra quê você quer saber dele? Eu já não lhe dou tudo o que você precisa! Então não fale dele! (Minha mãe falava de um jeito grotesco e melancólica).
_ Desculpa! (Cabisbaixo eu dizia aquilo para ela).
_ Vem cá, você já comeu? Eu não quero você comendo porcarias enquanto estiver sozinho em casa! Isso faz mal! (Ela me fez um carinho e sorriu para mim, mas eu sempre que fazia a minha comida, ela sempre estava fora com o namorado ou no serviço).
_ Mãe, por que não posso ver meu pai antes de quinze dias? (Eu a olhei chateado).
_ Murilo, esquece o seu pai! Ele já levou o Hugo embora e você quer ir embora também! Não faz isso comigo! (Ela me olhava completamente triste).
_ Mas eu sinto falta dele! O que ele fez, para você ficar com raiva? (Eu dizia curioso para ela, eu sabia que ele não fez nada, foi ela que o traiu covardemente).
_ Nada! Ele não fez nada! Agora vai tomar banho para jantar! (Seu olhar ficou frustado e franzido para mim).
Aí ela saiu do quarto brava, e eu a obedeci silenciosamente. Depois comemos e ela me ensinou o dever, me obrigou a estudar, e mais tarde fui pra cama. Na cama eu me revirava chateado, havia alguém me mandando mensagens desde cedo no meu celular, mas eu estava tão focado em descobrir o número de meu pai, que nem vi aquilo.
E quando olhei, eu estava cheio de mensagens, nunca havia recebido 9 mensagens em meu celular. Por algum motivo me senti famoso, então desconfiei que era engano, pois só minha mãe me mandava mensagem, foi aí que vi um número desconhecido me mandando mensagem, e em seu perfil tinha uma foto de um lugar diferente com neve, era bem bonita aquela paisagem.
As mensagens enviadas eram sem nexo, pois as palavras não tinham concordância, as frases eram muito diferentes do que são ditas, eu nem entendia o que queria dizer, e sem nome no perfil eu não respondi aquele engano que por um momento me deu êxtase. Me sentia um pouco valorizado com aquelas mensagens, me senti importante, até perceber que era só mais um engano.
E na escola os meses iam passando e mais irritado ficava com aquele estrangeiro estúpido que vivia falando "oi, desculpa, retardado e Murilo", o tempo todo comigo e às vezes ele me cutucava mandando eu prestar atenção sorrindo, e eu o encarava com raiva o negando. Ele vivia com o grupo das pessoas mais chatas da escola, aquelas pessoas que falavam mal dos outros e faziam maldades com os mais vulneráveis feito eu. Como o odiava junto a todos que o seguiam.
_ Atençon, estudar dever, Murilo! Retardado! (Ele dizia sorrindo para mim).
Eu o encarei revoltado e o ignorei pegando as minhas coisas e me encolhendo na carteira fingindo que não estava vivendo aquilo de novo. Estava cansado de ir para escola, iria ser rico vendendo arte na rua e não precisava da escola para sobreviver! Eu pensava e riscava, iria ser podre de rico e ia explodir a escola com todo mundo dentro, aí ninguém ia sofrer mais bullying e nem sofrer naquele lugar desgraçado!
Sorrindo eu pensava naquilo, e riscando distraído sentia um herói em meus pensamentos, serviria ao exército e salvaria os mais vulneráveis de pessoas ruins, aí todo mundo iria ser feliz com pessoas más morrendo uma seguida da outra! Iria ser menos problemas para a polícia resolver, se eu fosse justiceiro!
E nesse devaneios senti um toque no meu braço delicadamente. Aí me virei e vi que era aquele infeliz de novo me infernizando, não sabia o que ele queria e o ignorei. Mas na terceira vez que ele me cutucou e deslizou seus dedos em meus braços, sorrindo estranhamente para mim o encarei nervoso e me levantei lhe jogando um caderno no rosto o cortando, ele havia me xingado de novo!
_ Para, inferno! Não me chama de retardado! (Eu lhe dei um soco no rosto com muita raiva).
_ Sorry! Deculpe-me! (Assustado ele me olhou e se defendeu me segurando).
Aí todo mundo ficou nos olhando e a professora me pegou pelo braço e me tirou da sala bem brava, ela disse um monte de coisa comigo e ligou para minha mãe de novo, e ficamos nós dois na diretoria.
A diretora reclamava demais, e aquele estúpido respondia tudo errado para ela, e às vezes usava a linguagem estrangeira confundindo as palavras e se embolando todo, e eu o olhava com ódio no coração, queria arrebentar a cara dele!
Depois de um tempo minha mãe chegou e me olhou decepcionada. Aí ela foi conversar com a diretora e me levou junto, lá elas falavam muitas coisas, e eu não ligava pra nada, queria sair da escola, odiava aquele lugar, odiava o estrangeiro!
_ Murilo, jogou um caderno em seu colega e lhe deu um soco, uma atitude inaceitável nessa escola! Está respondendo a professora, e não está entregando as atividades lhe dada! Já o colocamos no reforço, mas seu filho, dona Michelle, parece que não tem interesse em se esforçar para melhorar! Pelo contrário, está piorando suas atitudes que são inadequadas e inaceitáveis aqui dentro! Por isso levará um dia de suspensão, por agressão ao colega e desrespeito ao professor! (A diretora imprimia o papel de suspensão e mandava minha mãe assinar).
_ Mas por que o Murilo agrediu o colega dele? O outro não brigou também? Foi só meu filho que fez isso? (Minha mãe a indagava indignada).
_ Ela me xinga de retardado todos os dias, e fica colocando a mão dele em mim! Eu o odeio, odeio todo mundo dessa escola! Quero que todos vão pro inferno! (Vermelho de raiva eu gritei na sala da diretora indignado).
Aí que eu vi que o que tinha feito foi errado, porquê ganhei mais uma semana de suspensão por xingar na sala da diretoria, batido nos outros e feito um escândalo lá dentro. Então com minha mãe na diretoria, eu saí e fui pegar minha bolsa, eu estava suspenso daquele inferno e iria ter paz ao resto da semana.
Chegando na sala eu olhei o estrangeiro com ódio, e ele me encarava triste e confuso, aí peguei minha bolsa e fiz um dedo do meio para ele. A cima de mim só Deus e os garotos maiores que eu, por isso eu sempre bato com golpe baixos, podia ter dado um chute no saco dele, aí ele ia parar de me infernizar na escola.
Aí saí com ódio daquele lugar e encarei a professora e os outros. Vi que eles sussurravam algo, então fiz o dedo pra todo mundo mentalmente, porquê eu odiava lá, mas se eu fosse expulso da escola minha mãe me mataria. Eu os odiava, mas tinha amor a minha vida pacata de sofredor!
No carro me distraía com as vitrines e pessoas andando na rua, e me encantava com aquilo, até olhar para minha mãe e ver o rosto dela franzido e bem zangada comigo, mas ela não dizia nada. Então para descontrair liguei o som e ela me olhou fuzilando, então o desliguei rapidamente com medo dela.
Em casa minha mãe mandou eu tomar um banho pois ia conversar comigo, e é óbvio que não temia ela! Só estava receoso de levar uma surra por ter batido e xingado todo mundo da escola, mas o que tinha demais nisso? Não era nada, eu não merecia levar uma suspensão, por causa de uma coisa tão boba e banal! Então fiz bastante hora no banheiro, até fazer ela esquecer que queria falar comigo.
Nisso eu me distraía com tudo lá dentro, e olhava as garotas do xampu me vendo pálido de ansiedade e não de medo da minha mãe! E nesse devaneio olhando para elas, ouvi minha mãe batendo na porta me mandando sair do banheiro, pois eu estava demorando muito lá dentro. Eu a obedeci, não por medo de apanhar, mas por respeito a ela!
Depois que me vesti, fui pro sofá e fiquei encolhido lá mexendo em alguns objetos que estavam próximos à mim, até minha mãe sentar do meu lado e me chamar atenção para ela.
_ Olha, eu sei que você tem constantes devaneios, mas bater em uma pessoa, Murilo! E está respondendo e desrespeitando a professora e os funcionários da escola! O que houve com você? (Ela olhava para mim fixamente).
_ Ele que começou! (Eu dizia zangado).
_ Eu não quero saber quem começou nada, quero saber porquê você está agindo desse jeito! (Ela falava seriamente comigo).
_ Ele que começou e ponto! (Zangado desviei meu olhar do dela).
_ O que ele começou? Quem é ele? (Ela falava e puxou meu rosto para encará-la).
_ O estrangeiro estúpido! Eu não quero estudar mais, quero viver com meu pai junto do Hugo! Vou viver de arte na rua e ser rico mãe! Olha, eu que fiz na aula! (Falei empolgado para ela e me levantei e fui correndo para meu quarto mostrar meu trabalho).
Quando abri minha bolsa e joguei meus materiais sobre a cama, saíram várias cartas e bilhetes de lá de dentro, eu fiquei confuso olhando aquilo, eu não tinha feito aquelas cartas! Então eu mexi naquilo confuso e tinham várias frases desconexas na carta que eu abri. E tentando entender aquilo, minha mãe chegou do meu lado me cutucando.
_ Você quer me mostrar isso? (Confusa ela me encarou).
_ Não! Eu não sei de quem é isso! Foi ele que jogou seu lixo nas minhas coisas! Como odeio aquele estrangeiro idiota! (Aí eu joguei aquelas porcarias no chão e abri meu caderno e mostrei minha mãe animado).
*Corrigido
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Atualizado até capítulo 139
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