O ronco grave da moto cortava a noite abafada de Verona, levantando poeira na pista improvisada de motocross. Isadora Valentini acelerava sem medo, o corpo inclinado com perfeição, como se fosse parte da máquina que conduzia. As luzes dos faróis refletiam em seus olhos claros, intensos, e no capacete preto que escondia a expressão calculista. Vencer ou perder nunca importava. Para ela, corridas eram apenas válvulas de escape.
Quando cruzou a linha marcada com fitas, reduziu a marcha e retirou o capacete, revelando os cabelos escuros desgrenhados pelo vento. Enquanto alguns rapazes a olhavam com surpresa e admiração, Isadora permaneceu impassível, indiferente às reações. Guardou a moto com precisão, como quem encerra um ritual.
Foi então que algo a fez parar.
O carro de seu pai.
Estacionado perto da entrada da pista.
Ela estreitou os olhos, irritada. Não costumava ser seguida, muito menos vigiada. Caminhou até o veículo, abrindo a porta do passageiro com a mesma frieza que lhe era natural.
— Perdeu o caminho de casa, pai? — sua voz saiu seca, quase cortante.
Giovanni Valentini, um homem de presença imponente apesar dos cabelos grisalhos, apenas a observou em silêncio por alguns segundos antes de responder.
— Precisamos conversar. Agora.
— Deve ser algo realmente importante para me esperar em um lugar como este. — ela se jogou no banco, cruzando as pernas sem cerimônia. — Vamos, dirija.
O silêncio entre eles no trajeto até a mansão era pesado, denso. Isadora nunca fora de conversas triviais. Preferia o silêncio às palavras vazias.
Ao chegarem, as luzes da casa estavam acesas. Um detalhe não passou despercebido por ela: o carro do advogado da família estava parado na entrada. Seus lábios se curvaram em um quase sorriso irônico.
— Se era segredo, perdeu a graça, pai. O senhor nunca chama Alessandro a menos que esteja prestes a assinar a ruína de alguém.
Giovanni suspirou, mas não rebateu. Apenas abriu a porta da frente.
Na sala, Alessandro já os esperava. Um homem de meia-idade, expressão grave, portava uma pasta de couro que parecia pesar mais que o necessário. Ao ver Isadora entrar, ele se levantou.
— Senhorita Valentini. — ele a cumprimentou com formalidade.
— Alessandro. — ela respondeu fria, atirando o capacete sobre o sofá de couro e se acomodando como se fosse dona do lugar, o olhar fixo nele. — Vou poupar discursos. O que está acontecendo?
O advogado hesitou por um instante, mas abriu a pasta. Retirou alguns documentos cuidadosamente.
— É sobre um acordo antigo, firmado entre seu avô e o senhor Lorenzo Monteverdi...
O nome fez Isadora arquear uma sobrancelha, mas ela permaneceu em silêncio.
— Esse acordo envolve um contrato de união matrimonial.
Ela soltou uma risada curta, sem humor.
— O senhor está sugerindo que, em pleno século XXI, minha vida sentimental está em um contrato de gaveta?
— Não apenas sugerindo. — Alessandro manteve a voz firme. — Estou afirmando. O documento exige o casamento entre você e o neto do senhor Monteverdi... Theo.
Isadora recostou-se no sofá, os olhos gelados fixos no advogado.
— Então é isso. Fui vendida como uma peça de xadrez.
Giovanni se mexeu desconfortável. — Não é tão simples, Isadora. Esse acordo garante a união de duas das maiores fortunas da Itália. Há cláusulas que, se rompidas, podem colocar em risco parte da herança da família.
Ela apertou os dedos contra o braço do sofá, mas sua voz permaneceu firme, controlada.
— O senhor realmente acredita que eu vou aceitar isso sem reagir?
O advogado pigarreou. — O contrato estabelece convivência mínima de dois anos. Depois... podem decidir se mantêm ou não a união.
Por um momento, o silêncio reinou. Então, Isadora ergueu o queixo, com um meio sorriso carregado de veneno.
— Dois anos com Theo Monteverdi... Imagino que o destino tenha um senso de humor cruel.
Seus olhos brilharam, mas não de medo. E sim de desafio.
Continua…
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Atualizado até capítulo 36
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