#15 capítulo

Pedro vinha na nossa direção com uma agilidade fora do comum. Segurou firme em meus braços, enquanto olhou feio para o homem que ainda me mantinha preso a ele. Senti os braços do Pedro me puxando para sua direção, e senti o aperto aos poucos se afrouxar na minha cintura. Até sentir aquela angústia se discipar por completo, e me sentir plena nos braços de Pedro.

Olhei pra trás, e vi um homem de semblante sério, encarar Pedro. Meus olhos mais que de presa se voltaram para Pedro, que tinha o olhar mais assustador que o daquele homem. Pensei mil e uma coisa naquele momento; pedir Pedro para se acalmar, mandar aquele homem ir embora. Mas antes de conseguir produzir algum som, olhei para o homem que antes me segurava, e vi sua feição de homem destemido, mudar para uma feição assustado. Suas mãos se levantaram em forma de rendição, logo em seguida o vi sumir na multidão.

Olhei em volta, e Samanta e Manu encaravam a cena. Manu de olhos arregalados, e Samanta, sorrindo pra mim. Em seguida, Samanta puxou Manu para voltarem a dançar.

Voltei o olhar na direção do Pedro. Ele estava sério olhando pra trás de mim. Acho que olhando na direção em que aquele homem fez caminho, mas que agora sumiu de vista.

— Não posso te deixar um segundo sozinha, que os gaviões caem matando.

A voz de Pedro soou nervoso, e agora tendo ele me encarando, me deu até um calafrio. Ele passa a mão no meu rosto em forma de carícias, e sorri lindo pra mim. Escuto o tom da música mudar para uma lenta. Olho em volta, e vejo muitas pessoas se aproximando uma das outras.

Olho na direção das meninas, e não as encontro ali. Procuro por elas, e encontro Samanta perto do cara que está mexendo na aparelhagem de som. Manu está abaixo dela, sorrindo travessa.

Pedro me olha sorrindo, e guia os meus braços na direção do seu ombro, me fazendo repulsa ali. Sinto as mãos quentes dele pousarem em volta da minha cintura, colando os nossos corpos. Sou guiada por ele no ritmo lento da música. Nossos olhos estão fixos um no outro.

A vergonha me bate, e abaixo a cabeça envergonhada.

Somos envolvidos pela dança, vez ou outra, levanto a cabeça encontrando os olhos dele fixo aos meus, só pra em seguida esconder meu rosto envergonhada no peitoral dele novamente. Mas é mais forte do que eu. Acabo olhando pra ele uma vez mais, e dessa vez não teve escapatória. Pedro me beijou. Um beijo calma, um beijo que eu necessitava há tempos. Acho que não só eu. Pedro também parece tão envolvido no beijo.

Só que aí me toco de algo;

Não. Isso não pode acontecer.

Empurro ele o afastando de mim, e corro na direção da saída. Saio dali seguindo caminho para um ponto de táxi mais a frente, Mas antes de conseguir cumprir com meu propósito. Sinto uma mão quente segurando meu braço. Me viro, e encontro os olhos suplicantes do Pedro.

— Pedro! Por favor, eu não posso. Por favor!

— Não faz isso comigo Ana. Não consegue perceber o que estou sentindo por você? – Os olhos dele estão suplicantes, e meu coração se despedaça em ver ele desse jeito–

— Pedro, por favor! Eu realmente não posso!

— Você tem alguém? — Sua pergunta me pegou de surpresa. Não consigo responder de início, fico apenas o encarando – Me fala Ana! Você tem alguém? É por isso que não quer ficar comigo?

Continuo o encarando, vou me aproximando dele vagarosamente. É tão intenso, que até me assusta.

Levo uma de minhas mãos no rosto dele, e o vejo fechar os olhos com meu contato. Deixo uma lágrima escapar. Porque a vida é tão dura comigo?

— Eu não tenho ninguém, Pedro. Mas eu não posso me envolver com você! – ele abre os olhos e me encara intensamente–

— Não me diga que é por eu ser o seu patrão... Ana isso não tem nada a ver... Isso – levo a mão na direção da boca dele, o fazendo se calar. O olhar dele me quebra por inteiro–

— Não é por isso! Ou melhor. Não é só por isso.

— Então me diga o motivo! – Engulo em seco antes de responder –

— Minha vida é uma bomba relógio Pedro. E não seria justo para com você, deixar que faça parte dessa loucura que eu chamo de vida. – Sorrio melancólica–

— Ana me conta! Confia em mim... Seja lá o que for. Eu posso te proteger!

— Ninguém pode me proteger. – Falo o encarando ainda mais. As lágrimas não param de escorrer pelo meu rosto. E sentir o contato da mão quente dele em meu rosto, só me deixa mais aflita. Reúno toda a coragem que não sabia que tinha, para me aproximar mais dele. Uno nossas bocas, e inicio um beijo, assim como de minutos atrás. Acabo me deixando envolver demais no beijo. Esse vai ser nosso beijo de despedida. Já decidi. Não posso mais correr o risco – Me prometa uma coisa Pedro? – Pergunto-me afastando um pouco dele, mas ainda sentindo o seu agarro na minha cintura–

— O quê?

— Promete pra mim que vai ser feliz?

— Que raio de conversa é essa Ana? Não vou te ver mais? É isso?

Não respondo, apenas o encaro sorrindo. É melhor assim, não vou conseguir ficar aqui nessa cidade, sabendo o que estou sentindo por ele. Me aproximo dele mais uma vez, dando um beijo em seu rosto. Em seguida me solto do seu agarro, e me apresso na direção do táxi mais próximo. Entro no táxi, ignorando os chamados de Pedro atrás de mim. Peço que o motorista se apresse, e assim ele faz.

Enquanto o táxi se distancia de Pedro, as lágrimas vão banhando o meu rosto inteiro. Fico olhando pra fora da janela sentindo meu coração se quebrar em mil pedaços. Sei o que estão pesando: "Você está sendo uma covarde por fugir assim".

Mas só eu sei, do que o meu pai e o Vladmir, são capazes. E não posso deixar nada acontecer ao Pedro. Não posso!

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