capítulo 5

Por não ter almoçado com minha mãe, devido à confusão dela com meu pai, ela veio pessoalmente à empresa trazer uma marmita de comida para mim. Fora a bronca que ela me deu por não ter esperado o almoço. Já era de se esperar.

Mãe é mãe, né?

Acho que podemos envelhecer, mas elas ainda vão se preocupar com a gente.

Comi tudo que ela me trouxe, enquanto escutava ela alegre contar sobre as novidades que estão acontecendo na comunidade.

Dá para ver o brilho nos olhos da minha mãe quando fala disso: ajudar os outros, principalmente o nosso povo de raiz, como ela mesma diz. Para ela, isso é tudo.

Algum tempo depois, minha mãe deixou minha sala dizendo que tinha um compromisso inadiável. Voltei ao meu trabalho, e fiquei tão entretido que, quando percebi, já passava das 14:47. Uma pontinha de descontentamento passou por mim.

A senhorita que deveria estar aqui às 14:30 para a entrevista de emprego estava atrasada. Não me dou muito bem com atrasos, principalmente em entrevistas.

Sim, sei que imprevistos acontecem. Por conta disso, levantei e saí da sala na intenção de conversar com Simone.

Assim que saio, a vi de pé, parada, de frente a duas pessoas. E uma delas era minha mãe. Será que ela passou mal?

Mas, após perguntar, descobri que não se tratava de minha mãe passar mal, e sim da linda moça ao seu lado, que por um instante me deixou sem fôlego.

Recuperei-me rápido, ainda mais por estar de frente a minha mãe. Mas acho que não fui rápido o suficiente.

Conhecem o olhar cínico de dona Kiara? Pois é. É assim que ela está olhando pra mim agora, além do sorrisinho de lado, que completa o pacote.

De repente vejo a moça se levantar, e agradecer minha mãe, em seguida se vira para ir embora, apresso-me em chamar por ela, na esperança de que meu palpite de que ela seja a senhorita Ana, esteja correto.

Ela me diz que sim, se chama Ana Vitória! E nesse momento, me perco em seus olhos.

Ela é de uma beleza única: pele clara, olhos azuis acinzentados. Diria que ela tem um olhar marcante, fora sua boca que é carnuda.

Escuto um grunhido vindo ao meu lado. Olho assustado e é minha mãe me encarando com uma sobrancelha arqueada e um sorriso no rosto. Lá vem conversa fiada! Mas antes que ela diga algo constrangedor, vou tomar as rédias da situação.

— Ah, bem. Senhorita Ana! Espero que esteja melhor.

— Sim! Agora estou. Obrigada! — a voz doce dela soa aos meus ouvidos. E nesse momento percebo que estou segurando o ar.

— Acho que... podemos começar com a nossa entrevista! Mamãe! Te vejo mais tarde?

— Não quer que eu te ajude a entrevistar a moça? — Olho para dona Kiara, à minha frente. Ela está com aquele sorriso sarcástico. Respiro fundo; lidar com minha mãe e suas provocações não é uma tarefa fácil.

— Que bem me lembro, a senhora me disse que tinha um compromisso inadiável. — Num pulo, a vejo se levantar da cadeira e correr até mim.

— Meu Deus! Me esqueci totalmente disso. Ian deve estar uma fera comigo! — Sinto seus braços em volta de mim, e sua voz soar baixa em meus ouvidos — Ainda não a conheço, mas já aprovo. E você sabe, dificilmente eu erro. — Minha mãe se afasta, me encara sorrindo. Tento ao máximo disfarçar o que suas falas me causaram. Sinto o toque de seus lábios em meu rosto e a vejo ir até Simone, acariciar rapidamente sua barriga enquanto se despede dela. Em seguida, ela vai até Ana.

— Espero mesmo que esteja bem, minha querida. Queria te conhecer melhor, mas o tempo agora não me permite. Mas, se você aceitar, poderíamos sair qualquer dia desses. Chamo a minha filha Samanta para nos acompanhar. O que acha?

— Eu me sentiria muito honrada! — Ela responde à minha mãe com um sorriso tímido, o sorriso mais lindo que já vi. Em seguida, minha mãe se despede dela e vai embora.

Estamos nós dois a sós em minha sala. A senhorita Ana, sentada à minha frente, parece bem nervosa, o que a deixa ainda mais linda.

Mas que dröga. Por que estou tão eufórico com essa mulher aqui na minha frente? Acabei de conhecê-la, e já me sinto tão atraído assim? É possível?

Levo meus dedos na mesa, batucando-os em sequência. Noto que, nesse momento, os olhos dela se prendem nos movimentos dos meus dedos.

— Bom, senhorita Ana! — chamo a atenção dela para mim. Ela olha em meu rosto brevemente e, em seguida, desvia o olhar para a mesa. Acho graça disso. Paro as batucadas constantes dos meus dedos, cruzo as mãos abaixo do queixo e faço tudo sem tirar os olhos dela — Em seu currículo, informa que a senhorita é fluente em seis idiomas, sendo dois deles: iacuto e sakha. De onde é esse idioma?

— São línguas turcomanas, da Sibéria! — Ela responde relutante, mas não consigo deixar de ficar impressionado.

— Você é da Sibéria?

— Sou obrigada a responder? — Estranho essa pergunta. Mas, por hora — Não, claro que não! Senhorita Ana, ao que vejo, seu currículo é excelente. — Descruzo meus dedos e pego seu currículo em mãos — Não sei como outras empresas não valorizaram um talento como o seu.

Bom! Por enquanto, o que realmente preciso é de uma secretária! Como pôde ver, em breve minha secretária irá tirar licença maternidade!

Preciso ser honesto. Me sinto mal. Pois, com um currículo tão bom como o seu, a senhorita merece mais que o cargo de secretária.

— Eu não me importo em ficar com o cargo de secretária. — Ela fala, e nesse momento a encaro surpreso.

— Mas, senhorita Ana...

— Senhor Pedro, já que foi honesto comigo, me sinto na obrigação de ser honesta com o senhor também. Nunca exerci nenhuma profissão. Essa será a primeira. — A encaro com uma pulga atrás da orelha e uma interrogação na testa. Acho que ela percebe, balança as mãos desajeitadamente enquanto fala na mesma proporção — Não, não, não, não. Espera! Eu não comprei os meus certificados, se é isso que pensa. Apenas fiz a faculdade, os cursos. Mas, até o momento, nunca foi preciso que eu trabalhasse.

— Então está me dizendo que apenas fez os cursos por fazer?

Em meio à relutância visível em seu semblante, ela me explica que o pai sempre foi exigente, queria que ela fosse a melhor em tudo, mas não aceitava que trabalhasse fora. Isso me faz perguntar:

Porque o pai dela exigiu tanto dela, no final? Devo admitir que, a cada segundo que passa, essa mulher me deixa intrigado.

Ajude a autora, curtindo e dando a opinião de vocês a cada capítulo! 🥰

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