Boate Castelli
No escritório, com vista para a pista de dança, Marc me esperava ao lado de uma maleta de aço aberta. Dentro dela, o brilho metálico de armas perfeitamente organizadas era uma visão que poucos homens podiam ver e continuar respirando.
— Tudo está aqui, chefe. — Marc disse, com a voz baixa e calma como sempre. — A remessa está pronta para o transporte.
— Certifique-se de que a entrega seja limpa. Nenhuma surpresa. — Ajeitei os punhos da camisa enquanto observava a mercadoria.
Marc assentiu e saiu do escritório, deixando-me sozinho por um momento. Um cigarro aceso no cinzeiro preenchia o ar com o cheiro acre do cigarro, mas meus pensamentos estavam em outro lugar. Sempre estavam.
Naquela garota.
Ela era como um espinho fincado na minha cabeça desde o dia em que cruzei com ela. Impossível ignorar, impossível arrancar. O problema era que ela estava começando a se tornar meu ponto fraco, o que eu mais temia.
Meu telefone vibrou sobre a mesa, e o nome "Maman" iluminou a tela. Suspirei pesadamente antes de atender.
— Maman.
— Louis, esta noite você e sua esposa virão jantar conosco. Eu quero me despedir antes de voltar para a França.
— Esta noite? Você decide isso agora?
— Mon fils, não me faça perder a paciência. Você estará aqui. Com Chloe. Às oito.
E com isso, ela desligou, deixando-me com um gosto amargo na boca. "Merde" resmunguei jogando o telefone de volta na mesa. Mães tinham o talento de transformar qualquer homem em um garoto de cinco anos.
Depois de finalizar os últimos detalhes do negócio, peguei meu telefone para ligar para Chloe. Uma, duas, três vezes. Sem resposta.
Meus dentes se apertaram.
— Putain(Porra). — Murmurei, o som baixo e carregado de irritação. Uma sensação fria começou a subir pela minha espinha. Não era só irritação; era aquele maldito medo que eu me recusava a admitir, odeio sentir essa merda. Desde que ela foi sequestrada, algo em mim havia mudado. Eu não podia controlar o que acontecia com ela, e isso me deixava louco.
Peguei as chaves do meu carro e saí da boate. Minha Maserati negra cortava as ruas de Nova York com uma agressividade que fazia os outros motoristas saírem do caminho. Liguei para a empregada.
— Chloe foi para a faculdade? — Minha voz era cortante.
— Sim, senhor. Ela saiu por volta das duas.
Desliguei sem responder, a tensão em meu peito aumentando. Ela deveria estar lá, mas eu precisava ver com meus próprios olhos. Queria ter certeza se ela estava bem.
Cheguei ao campus em menos de vinte minutos, estacionando o carro de qualquer jeito. O porteiro tentou me parar quando entrei no prédio, mas um olhar meu o fez recuar.
— Senhor, o senhor não pode... — ele começou.
— Estou aqui pela minha esposa. Se quiser tentar me impedir, poursuivre (vá em frente). — Minha voz era baixa, mas a ameaça era clara. Ele ficou parado, hesitante, enquanto eu avançava.
Subi até o andar onde ficava a sala dela, empurrando a porta sem cerimônia. O professor, um homem franzino com óculos, engasgou ao me ver.
— Desculpe, mas o senhor não pode estar aqui...
— Estou procurando alguém. Não me interrompa. — Minha voz ecoou na sala, e todos os olhares se voltaram para mim. Os alunos estavam em silêncio, e, lá no fundo, eu a vi. Chloe, com o rosto vermelho de vergonha, sentada ao lado de uma amiga.
Ela se levantou lentamente, sussurrando algo para a amiga antes de caminhar até mim. O constrangimento estava estampado no rosto dela, mas eu não me importava.
No corredor, ela fechou a porta atrás de nós com força.
— Que diabos você está fazendo aqui, Louis?
— Você não atendeu o téléphone. — Cruzei os braços, mantendo minha postura firme.
— Eu estava em aula, droga! — Ela exclamou, a voz cheia de indignação.
— Quando eu ligar, você atende. Sempre. Não me interessa onde você está ou o que está fazendo. — Minha voz era um rosnado, mas ela não recuou.
— Você está ouvindo a si mesmo? Isso é ridículo! — Ela jogou as mãos no ar, claramente irritada.
— Ridículo é você me ignorar depois de tudo que aconteceu, não esqueça que temos um inimigo à solta. — Minha paciência estava se esgotando. — Você não quer seguir minhas regras? Tout va bien (Tudo bem). Mas, nesse caso, você não vai mais estudar.
Os olhos dela se arregalaram, e eu soube que tinha tocado em um ponto sensível.
— Você não pode fazer isso, Louis.
— Posso e vou, se for necessário. — Meu tom era final.
Ela respirou fundo, os olhos brilhando com raiva.
— Tudo bem... — Disse ela, aceitando minha ordem, mas sua voz dizia o contrário.
— Venha comigo, temos um jantar com minha família hoje.
— Eu ainda tenho aula. E vou terminar. Se você quiser esperar, fique à vontade. Caso contrário, pode ir embora.
Ela me deu as costas, voltando para a sala sem olhar para trás.
Fiquei parado ali por um momento, o calor da frustração e algo mais, algo mais profundo, queimando no meu peito. Eu odiava como ela conseguia me desarmar e desafiar ao mesmo tempo. Ela estava me enlouquecendo.
— Cette fille va me foutre la tête (essa garota vai me foder a cabeça).
Se houvesse um buraco perto de mim naquele momento, eu teria me jogado de cabeça. A vergonha queimava na minha pele como fogo. Todos os olhares da sala, cada risada abafada ou expressão de choque, estavam cravados na minha memória. Louis tinha o talento especial de transformar qualquer situação normal em um espetáculo.
Assim que a aula acabou, Julia e eu saímos juntas. Tentando ignorar os cochichos ao redor, forcei um sorriso enquanto ela tentava me consolar.
— Ah, Chloe, relaxa. Ele só está... sendo ele mesmo? — Julia disse, tentando soar leve, mas sua risada nervosa me fez bufar.
— Ele está sendo um tirano, isso sim. — Respondi, irritada.
Caminhamos até o estacionamento, e lá estava ele. Encostado em sua Maserati, com as mãos nos bolsos do terno perfeitamente alinhado, me esperando como um predador à espreita. Os cabelos dele estavam bagunçados de um jeito que parecia estrategicamente calculado, e o olhar era a definição de arrogância pura.
— Já acabou, épouse (esposa)? — Ele perguntou, o sorriso cínico esticando os lábios.
Eu quis arrancar aquele sorriso à força.
— Louis, meu carro... — Tentei começar, mas ele me cortou com uma impaciência irritante.
— Mando buscar seu carro depois, Chéri.
Revirei os olhos e soltei um suspiro pesado antes de entrar no banco do passageiro. Era impossível argumentar com ele, e, francamente, eu já estava cansada de tentar. Julia me lançou um olhar significativo antes de se afastar, provavelmente achando graça do meu drama. Mal sabia ela que eu estava à beira de explodir.
...----------------...
Mais tarde, no quarto, enquanto me arrumava para o jantar que Louis fez questão de impor, eu ainda sentia a irritação borbulhando em mim. O vestido que escolhi era elegante, justo, com um caimento perfeito que ressaltava minha figura. Era vermelho, como a minha raiva, e provocativo o suficiente para me lembrar que, apesar de tudo, eu ainda tinha controle sobre mim mesma.
Quando desci as escadas, encontrei Louis parado no pé delas, com o olhar fixo em mim. Seus olhos escureceram, examinando cada detalhe, e eu sabia que o vestido havia causado impacto. Ele estava impecável, como sempre, em um terno preto que parecia moldado diretamente em seu corpo. Sua presença era esmagadora, mas eu não me deixaria intimidar.
Ele estendeu o braço para mim, um gesto antiquado e cavalheiresco que só serviu para aumentar minha irritação.
— Está pronta, ma femme(minha esposa)? — Ele perguntou, a voz baixa e controlada.
Revirei os olhos antes de aceitar seu braço, segurando-o com a mão mais leve possível, como se fosse tóxico.
— Vamos acabar logo com isso. — Respondi, com a voz carregada de sarcasmo.
Ele riu suavemente, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo. Enquanto caminhávamos em direção ao carro, senti o calor do olhar dele em mim. Era um olhar que sempre carregava algo perigoso, como se ele estivesse constantemente calculando, planejando, avaliando.
Eu sabia que essa noite seria longa, e, pela primeira vez, desejei que os Castelli fossem menos intensos. Mas claro, na minha vida, intensidade era quase sinônimo de sobrevivência.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Thayane Portal
Acho ela totalmente contraditória, com marido ela enfrenta e não tem medo. Com o Matias ela fica igual uma gatinha acuada não tem voz.
2024-12-22
100
Andréa Lepsch
Sinceramente: Essa Kloe é um pé no saco e esse mafioso é uma fraude.
Eu nunca vi um mafioso tão boboca.
Essa menina sofreu abuso, ela era para ser tímida e retraída com qualquer homem, não só com o abusador.
Um predador pode está escondido em qualquer lugar, por isso que as vítimas têm dificuldade para relacionar.
Loucura.
2025-01-28
1
karla daniely gomes nogueira
é difícil isso não sei se autora já sofreu abuso mais ela super bem ,meus parabéns a gente pode a mulher mais determinada do mundo mais na frente do abusador somos indefeso , é bem enfrentar o marido.
2025-02-01
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