CAPÍTULO 15#

O caminho de volta à mansão parecia mais longo, cada solavanco do carro fazia meus músculos doloridos protestarem. Gabriel me segurava firme, como se tivesse medo de que eu desaparecesse a qualquer instante. Seus braços protetores eram um conforto raro em meio ao caos que ainda pulsava em meu peito.

— Me desculpa, Chloe. — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro, carregada de culpa. — Eu deveria ter te protegido melhor.

Eu levantei o rosto, tentando sorrir, mas minha expressão só refletia o cansaço.

— Não foi culpa sua, Gabriel. Eles estavam preparados... ninguém poderia ter previsto isso.

Ele balançou a cabeça, inconformado, apertando meu ombro com mais força.

— Prometo que nunca mais vou deixar isso acontecer.

Não respondi. Apenas encostei a cabeça em seu ombro, tentando absorver aquela promessa como se pudesse me proteger das sombras que ainda me rondavam.

Quando o carro finalmente parou diante da mansão, a grandiosidade habitual do lugar parecia pequena comparada ao peso que eu carregava. Minha mãe, estava parada na porta junto com Olívia, ambas parecendo aliviadas, embora algo em Olívia fosse... superficial.

— Chloe! — Minha mãe correu até mim, os braços já abertos. — Meu Deus, você está machucada...

Eu me deixei ser abraçada, sentindo seu calor e seu perfume familiar. Ela me afastou um pouco, passando a mão suavemente pelas marcas nos meus braços e rosto.

— Estou bem, mãe. — menti, mas a dor física era a menor das minhas preocupações.

— Vamos entrar. Precisa descansar.

Enquanto caminhávamos pelo corredor, meus olhos se cruzaram com os de Matías, encostado na parede, as mãos nos bolsos. Seu olhar era sombrio, fixo em mim, como uma sombra fria que parecia espreitar de longe. Não disse nada. Apenas me observou, e aquilo era o suficiente para me fazer sentir como se estivesse sendo vigiada.

Desviei o olhar rapidamente, concentrando-me em colocar um pé à frente do outro. Minha mãe segurava minha mão com firmeza.

Horas mais tarde...

No quarto, me sentei na poltrona ao lado da cama. Mamãe trouxe uma bandeja com água e algumas frutas, insistindo para que eu comesse.

— Você precisa de forças para hoje à noite. — Ela acariciou meu rosto antes de sair.

Fiquei ali por um tempo, tentando encontrar lógica naquilo. Meu casamento seria hoje, depois do inferno pelo qual eu tinha passado. A simples ideia de vestir algo luxuoso parecia absurda, mas, quando abriram a caixa enviada pela mãe de Louis, tudo se tornou ainda mais surreal.

O vestido era um espetáculo de exagero: um tecido de seda branco pérola que fluía como água, bordado com diamantes ao longo do corpete justo e nas mangas longas que terminavam em pontas delicadas cobrindo parte das mãos. O decote em coração era elegante, mas chamativo, com uma cauda longa que parecia ter sido feita para uma rainha.

— Exagerado... — murmurei para mim mesma, encarando o brilho absurdo. — É bonito, mas...

Eu nunca compraria algo assim, mesmo podendo. Havia algo quase opressivo naquele luxo extremo.

— Deixe-me ajudá-la. — Olívia entrou no quarto sem bater, seu sorriso doce contrastando com os olhos analíticos.

Ela pegou o vestido com delicadeza, como se fosse uma relíquia, e começou a me ajudar a vesti-lo.

— É lindo, não é? — perguntou, ajustando os botões nas costas.

— Lindo demais. — Minha voz estava neutra, mas Olívia percebeu minha hesitação.

Ela continuou em silêncio por alguns minutos, cuidando dos ajustes, até que sua voz voltou, suave e calculada.

— Sabe, Chloe... você é forte. Muito mais do que eu seria nesta situação. Mas me pergunto... — Ela fez uma pausa, fingindo pensar. — Louis conseguiu o que queria, não é?

Eu franzi o cenho, olhando para ela pelo espelho.

— O que você quer dizer?

— Ele é inteligente, manipulador. Conseguiu o apoio da nossa família e agora você. — Ela suspirou, ajeitando uma mecha do meu cabelo. — Só quero que você não esqueça de que ele vê isso apenas como um acordo vantajoso. Nada mais.

Aquelas palavras foram como veneno, espalhando-se rapidamente pela minha mente.

— Ele salvou minha vida. — Minha voz soou meio defensiva, mas minha expressão estava confusa.

— Sim, salvou. Mas... a que custo? Não se iluda, irmã, esse tipo de homem só quer tirar vantagens, nada mais.

Ela me lançou um olhar cheio de preocupação e se retirou, deixando-me com meus próprios pensamentos. Olhei para o reflexo no espelho, o brilho dos diamantes parecia mais pesado agora. Louis realmente me via apenas como uma peça em seu jogo? Um objeto?

Ajustei o botão do punho do meu smoking, sentindo o peso da noite prestes a cair sobre meus ombros. Não era pelo casamento em si, non, mas por tudo o que ele representava. Poder. Controle. Estratégia. Eu sabia o que estava fazendo. Diferente de outros, eu não misturava negócios com sentimentos.

— Alors, c’est aujourd’hui que l’inébranlable Louis Castelli se laisse passer la corde au cou(Então, é hoje que o inabalável Louis Castelli deixa o laço pendurado no pescoço)?

— A voz sarcástica de Damián soou atrás de mim, carregada daquele humor típico de quem já esteve na minha posição e acha que sabe de tudo.

Virei lentamente, encarando meu primo com o mesmo olhar frio que eu tinha desde que éramos adolescentes e quebrávamos as regras da máfia. Ele agora estava domesticado, fora do jogo, vivendo aquela ilusão chamada família.

— É apenas negócios, Damián. — Respondi, seco. — Ne me compare pas à toi (Não me compare com você).

Damián riu, cruzando os braços enquanto me analisava.

— Foi o que eu disse antes de Sophie.

— E você caiu. — Minha voz saiu como uma lâmina, cortante. — Je ne tombe pas (eu não caio).

Antes que ele pudesse rebater, Émile entrou na sala, já rindo como se soubesse exatamente o que estava acontecendo.

— Frère(irmão), você vai acabar trocando seu revólver por fraldas, tout comme Damian (igual ao Damián).

Bufei.

— Vocês estão perdendo tempo com essa merde(merda) sentimentalista. Este casamento não é sobre amor. C'est une question de contrôle (é sobre controle).

Damián balançou a cabeça, um sorriso malicioso nos lábios.

— É o que todos dizem no começo.

Ignorando as provocações, continuei ajeitando meu smoking. Não havia espaço para distrações. A noite seria longa, e eu precisava estar no controle.

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Ao entrar na sala principal, fui recebido pelo olhar atento de Sophie. Ela estava com minha mãe, Geneviève, e Charlotte, minha irmã.

Ganeviève Castelli

Charlotte Castelli

Três mulheres fortes, cada uma perigosa à sua maneira, Sophie, principalmente, já que usou o coração para enfraquecer o temido e invencível Damián Castelli.

Sophie Castelli ( Para quem não leu essa história, recomendo a leitura ).

— Sophie. — Inclinei levemente a cabeça. — Merci de nous honorer avec votre présence (obrigado por nos honrar com sua presença).

Sophie cruzou os braços, me encarando como se quisesse perfurar minha fachada.

— Obrigando uma jovem a casar? Isso não parece você, Louis.

— C’est nécessaire(é necessário) . — Respondi, sem piscar. — Não é algo que você precise entender.

Minha mãe observava tudo com um leve sorriso. Geneviève Castelli, sempre analisando, sempre calculando.

— Je n'ai pas encore rencontré cette fille (ainda não conheci essa garota). — Ela comentou. — Mas espero que ela saiba onde está se metendo.

— Ela é forte. — Respondi, firme. — Ela vai aprender.

Charlotte permaneceu calada, mas seus olhos diziam mais do que palavras. Ela entendia.

Na cerimônia...

O jardim estava brilhando sob as luzes penduradas, uma atmosfera sofisticada demais para o tipo de evento que era. Eu caminhava ao lado de Émile, com Damián logo atrás, cumprimentando aliados.

Vincenzo DeLuca estava lá, como sempre, com sua presença intimidadora. Os Montenegro ao lado dele, cada um cumprindo seu papel. Todos esperavam algo de mim, e eu entregaria.

— Êtes-vous prêt pour (Está pronto para isso?? — Damián perguntou baixinho, quase como um desafio.

— Je suis né prêt (eu nasci pronto). — Respondi, sem olhar para ele.

Senhores Castelli

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