CAPÍTULO 11#

Semanas depois...

Duas semanas. Catorze dias sufocantes. Cada minuto foi uma batalha contra o homem que parecia dominar cada espaço da minha vida. Louis Castelli. Eu tentei de tudo. Tentei negociar, tentei me esconder. Até considerei aceitar a ajuda de Gabriel. Mas sempre que eu pensava em fugir, a realidade me esmagava como uma onda implacável.

Amanhã será o casamento. Amanhã, a última corda que me mantém livre será cortada, e eu estarei presa ao imperador da máfia de Nova York.

Pensei em fugir. Em desaparecer. Mas fugir não é apenas sobre mim. É sobre Gabriel. Somos filhos de Paulo Salazar, o homem que controla um dos cartéis mais poderosos dos Estados Unidos. Não há como escapar do nosso sobrenome. Não há como escapar do destino que foi forjado para nós.

Se eu fugir, o preço não será apenas a minha vida. Gabriel pagará também. Talvez meu pai o veja como uma fraqueza, uma vergonha que precisa ser eliminada.

Não há saída. Não para mim. Não para Gabriel. Amanhã, serei Chloe Castelli. Não porque eu quero, mas porque não tenho escolha.

Eu sou Matías Salazar. Tenho 20 anos. Sou filho de Paulo Salazar, mas nunca fui apenas isso. Sempre fui mais. Fui o segredo. Fui a sombra que ninguém queria. Minha mãe morreu quando eu tinha 16 anos. Foi quando meu pai finalmente me assumiu e me trouxe para o centro do império que ele construiu.

No início, fui ignorado. Valéria me desprezava, Olívia me evitava. Mas Chloe... Chloe era diferente. Ela me viu. Ela me fez sentir como se eu pertencesse. Seu sorriso era um raio de sol em meio ao meu caos. E cada vez que ela me abraçava, eu sentia o mundo parar.

No começo, eu pensei que era amor de irmão. Mas não era. Não podia ser. Cada vez que eu a via sorrir para outro homem, sentia algo mais. Algo profundo. Algo escuro.

E isso só piorou.

Eu tentei dizer a ela. Tentei explicar que o que sentia era real, era mais do que laços de sangue. Ela riu. Disse que era loucura. Que éramos irmãos. Mas eu sabia. Eu sabia que não era loucura.

No dia em que Chloe completou 18 anos, tudo mudou. Eu a observei naquela festa, rindo, dançando. E então, eu a vi beijar outro homem.

A raiva consumiu tudo. Meu sangue ferveu, meu coração acelerou. Não pensei. Apenas agi. Naquela noite, Chloe se tornou minha.

Ela não seria de mais ninguém. E naquela noite, eu fiz com que ela entendesse isso.

Eu achei que, com o tempo, ela aceitaria. Que entenderia o que somos. Mas agora, ela vai se casar. Com o maldito Castelli.

Eu a avisei. Disse que não permitiria isso.

Mas parece que ela esqueceu. Então, preciso refrescar sua memória. Este casamento não vai acontecer.

Naquele dia...

O cheiro de sangue fresco misturava-se ao mofo do porão, e a única luz pendurada balançava suavemente, projetando sombras nas paredes rachadas. O traidor estava ajoelhado à minha frente, a respiração ofegante, o rosto sujo de suor e medo. Seus olhos tremiam, procurando qualquer resquício de humanidade em mim. Mas ele não encontraria. O filho da puta estava passando informação para a polícia.

Com a arma firme em minha mão, o cano pressionado contra sua testa, observei seu desespero.

— Sabe o que acontece com aqueles que ousam me trair? — perguntei, minha voz baixa e mortal. — Eles aprendem, da pior forma, que há pecados imperdoáveis.

Antes que ele respondesse, meu celular vibrou no bolso. Suspirei, mantendo o cano da arma onde estava, e atendi.

— Bonjour? — minha voz soou casual, mas meus olhos continuavam fixos no traidor.

— Louis... C'est moi (sou eu), Damián. — Sua voz estava calma, mas eu detectava uma tensão escondida. Ele havia deixado esse mundo, mas sabia que ainda estava profundamente enraizado nele.

— Primo, pensei que não me ligaria.

— Ouvi um boato. Est-ce vrai que vous vous mariez (É verdade que você vai se casar)?

Sorri, meu tom carregado de ironia.

— Oui, c’est vrai(Sim, é verdade). E você e Sophie estarão lá. Seria... imperdoável se faltassem.

— Louis, você sabe que Sophie...

— Sophie é sua esposa, não a minha. Damián, é um convite, não uma escolha. Não apareça, e eu posso ser forçado a lembrar o mundo que o sangue Castelli não desaparece tão facilmente.

Do outro lado da linha, Damián suspirou, um som que parecia carregar anos de batalhas e decisões difíceis.

— Não venha com ameaças, primo, n'oublie pas à qui tu parles ( não esqueça com quem está falando)... Mas não se preocupe, estaremos lá.

— Bom. Espero que Sophie aprecie o espetáculo. — Minha voz soou fria, quase brincalhona. — E Damián... ne sois pas en retard (não se atrase).

— Je ne suis jamais en retard (Nunca me atraso).

Desliguei, o sorriso desaparecendo do meu rosto. Voltei minha atenção para o homem ajoelhado.

— Infelizmente, você não terá o mesmo privilégio de testemunhar o grande dia.

Antes que ele pudesse reagir, apertei o gatilho. O som do disparo ecoou pelo porão. O corpo caiu com um baque seco, sangue escorrendo pelo chão de concreto.

Guardei a arma, tirei o celular e disquei um número conhecido.

— Maman?

— Louis! Tudo pronto. Chegaremos amanhã com seus irmãos.

— Espero que estejam preparados para tudo. Quero este casamento impecável.

— Ce sera impeccable, mon fils (Impecável será, meu filho).

— Merci, maman.

Desliguei, ajustando meu terno. Cada detalhe estava sob meu controle. E se alguém ousasse interferir, bem... eles aprenderiam que eu não perdoo.

A brisa fria da tarde carregava o cheiro de folhas úmidas enquanto eu abraçava Júlia no estacionamento da faculdade.

— Não acredito que isso está realmente acontecendo... — ela sussurrou, segurando minhas mãos. — Casar com um Castelli? Você tem certeza, Chloe?

— Não tenho escolha, Júlia... — murmurei, minha voz quebrando. — É um jogo perigoso. E fugir... significa sacrifícios que eu não posso arriscar.

Júlia apertou minhas mãos, seus olhos brilhando de preocupação.

— Prometa que vai se cuidar.

— Prometo.

Nos despedimos, e caminhei até meu Audi. O ar estava pesado, como se algo invisível me pressionasse. Quando estendi a mão para abrir a porta, senti uma presença atrás de mim.

Antes que pudesse reagir, um braço forte me puxou e um pano foi pressionado contra meu rosto. O cheiro forte de clorofórmio invadiu meus pulmões.

Tentei lutar, mas minhas forças desapareceram. A última coisa que vi foi o reflexo do meu próprio olhar aterrorizado no vidro do carro antes de tudo escurecer.

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