CAPÍTULO 9#

Naquela noite

A fumaça do cigarro pairava no ar, misturando-se com o cheiro de couro e whisky caro. O silêncio no escritório era quebrado apenas pelo som do gelo batendo no copo enquanto eu girava o líquido âmbar com calma. Do outro lado da mesa, Diego Montenegro me observava com um sorriso controlado. Ele era o líder da família Montenegro, que dominava o tráfico de drogas em toda a Costa Leste. Era um homem perigoso, mas sabia reconhecer poder quando via. E naquela noite, ele estava ali para firmar uma nova aliança.

As quatro famílias que comandavam o submundo estavam em constante equilíbrio. Os Salazar, com seus cassinos clandestinos e rede de lavagem de dinheiro. Os DeLuca, mestres em contrabando humano e tráfico de influência. Os Montenegro, donos absolutos do narcotráfico. E, por fim, nós os Castelli, que controlam o fluxo de armas e segurança. Cada família tinha sua especialidade, mas todas sabiam que, sem armas, nenhum império prosperava.

Diego limpou a garganta, apoiando-se na cadeira de couro. Seu olhar fixo encontrou o meu.

— Louis, vou direto ao ponto. Com Damián fora, muitos duvidaram da força dos Castelli. Mas agora, com seu noivado com a filha de Paulo Salazar, as dúvidas se dissiparam. Isso trouxe estabilidade. E, honestamente, precisamos dessa estabilidade.

Inclinei-me para frente, apagando o cigarro no cinzeiro.

— Você quer estabilidade ou quer armas para proteger seus carregamentos? Vamos pular os elogios, Diego. Je n'ai pas le temps pour la diplomatie (Não tenho tempo para diplomacia).

Ele riu, mas o som era seco.

— Você é direto, gosto disso. Sim, queremos suas armas. A rota de distribuição está mais perigosa. E sabemos que com os Castelli cuidando da segurança, ninguém ousaria interferir. Em troca, você terá acesso ao nosso fluxo de drogas. Não só lucro, mas controle. Montamos um novo império, juntos.

Eu me recostei na cadeira, tomando um gole do Whisky, avaliando cada palavra. Diego sabia jogar. Ele estava me oferecendo mais do que uma simples parceria. Ele queria garantir que, com as armas dos Castelli, os Montenegro se mantivessem no topo do tráfico. E, em troca, me dava a chave para um novo mercado, e poder absoluto.

— intéressant (Interessante). Mas me diga uma coisa... — Minha voz saiu baixa, mas firme. — Se eu aceitar essa parceria, você entende que está entrando no meu jogo? Que a última palavra sempre será minha?

Seus olhos brilharam, mas ele manteve o sorriso.

— Entendido. O poder está nas suas mãos, mas juntos seremos ainda mais fortes.

Levantei-me, estendendo a mão.

— Então temos um accord (acordo). Mas, se tentar qualquer merda, Diego, não vou pensar duas vezes antes de enterrar você e sua família junto com seus carregamentos.

Ele apertou minha mão, firme.

— Não haverá traições, Louis. Só negócios.

Quando Diego saiu, fiquei em silêncio por um momento, observando a porta fechar-se lentamente. O casamento com Chloe estava se revelando mais vantajoso do que eu imaginava. Com os Montenegro ao meu lado e os Salazar fortalecendo minha posição, eu não só consolidava o poder dos Castelli, mas também tornava impossível qualquer tentativa de desafio.

 A luz fria do monitor iluminava o quarto, dançando em reflexos na tela enquanto eu tentava me concentrar nos estudos. Mas minha mente estava a quilômetros de distância, perdida no caos que o dia trouxe. O casamento. Matías. Meu pai. Tudo parecia uma onda avassaladora, prestes a me engolir.

Uma batida suave na porta quebrou o silêncio, me arrancando dos pensamentos.

— Entre. — Minha voz soou mais firme do que eu esperava.

Gabriel entrou, carregando aquela expressão que eu conhecia bem: séria, mas com uma preocupação latente nos olhos. Ele fechou a porta atrás de si, cruzou o quarto com passos firmes e se sentou na beirada da cama, de frente para mim.

— Podemos conversar? — Ele perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.

— Claro. — Fechei o laptop e endireitei a postura, antecipando algo pesado.

Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto típico dele quando estava frustrado, antes de soltar um suspiro carregado.

— Falei com o papai. — A amargura em suas palavras era palpável. — Não adiantou. Ele está decidido, irmã.

 Suspirei, sentindo o peso da realidade se solidificar ainda mais.

— Eu já imaginava... — Admiti, tentando manter a voz estável.

Gabriel estendeu as mãos, segurando as minhas com firmeza, mas também com uma ternura que só ele conseguia transmitir.

— Chloe, você precisa fugir. Eu vou te ajudar.

Meu coração acelerou com o impacto dessas palavras.

— Fugir? — A incredulidade tingiu minha voz.

— Sim. — Ele apertou minhas mãos, os olhos fixos nos meus. — Você não precisa aceitar isso. Eu posso arranjar tudo. Te levo para longe, para um lugar seguro, onde ele nunca vai te encontrar.

A ideia era tentadora, quase irresistível. Mas ao mesmo tempo, o medo me segurava como correntes invisíveis.

— E a faculdade? E... tudo o que eu tenho aqui?

— Faculdade você retoma depois. irmã, isso é sobre a sua vida. — Ele fez uma pausa, a voz suavizando, mas não menos intensa. — Eu só quero te proteger.

As palavras dele atingiram um ponto frágil dentro de mim. Minha garganta apertou com a emoção, e precisei respirar fundo para manter a compostura.

— Vou pensar... — Respondi, minha voz carregada de incerteza.

Gabriel não insistiu. Em vez disso, me puxou para um abraço forte, o tipo de abraço que parecia prometer que ele faria qualquer coisa para me proteger.

— Estou aqui para o que você precisar. Sempre. — Ele murmurou antes de se levantar e sair do quarto.

Horas depois

O celular vibrou ao meu lado, iluminando a tela escura. Uma mensagem de Júlia.

"Vamos sair hoje? Preciso te distrair".

Distração. Talvez fosse disso que eu realmente precisava. Algo para afastar as nuvens carregadas que pairavam sobre mim.

"Certo. Me manda a localização" Digitei rapidamente e enviei.

Mal sabia eu que aquela noite me levaria diretamente para a toca do leão.

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