Naquela noite
Subi as escadas lentamente, tentando ignorar a sensação estranha que pairava sobre mim. A conversa com o senhor Castelli ainda ecoava na minha mente. Não era apenas o jeito dele, educado, mas com aquela presença intensa que parecia encher o espaço ao seu redor. Era algo mais. Uma familiaridade perturbadora. Eu sentia que já o tinha visto antes, mas não conseguia lembrar onde ou quando.
"Você está exagerando, Chloe", murmurei para mim mesma, tentando afastar a ideia enquanto caminhava pelo corredor até meu quarto.
Assim que entrei, fechei a porta atrás de mim, mas, por algum motivo, isso não foi suficiente. Tranquei. O clique do trinco trouxe um pouco de alívio, mas meu peito ainda estava apertado. Eu sabia que estava sendo irracional, mas a necessidade de segurança era quase instintiva.
Passei a mão pelos cabelos, respirando fundo. Olhar para aquela porta trancada me trazia uma onda de lembranças que eu preferia esquecer. Não era sobre o senhor Castelli. Era sobre o que eu tinha enfrentado dentro dessas paredes, as sombras que insistiam em me perseguir mesmo quando o perigo parecia distante.
Sacudi a cabeça, afastando o peso das memórias. "Concentre-se no presente."
Peguei meu livro e me sentei na cama, tentando mergulhar nas páginas. Era minha forma de escapar, de encontrar uma lógica, uma ordem, quando tudo parecia tão fora de controle. As palavras começaram a fluir, a narrativa me prendendo aos poucos. A sensação de perigo ainda estava ali, mas mais distante, como se observasse à distância.
Estava imersa na leitura quando meu celular vibrou ao lado. Peguei o aparelho e vi a mensagem de Julia, minha amiga da faculdade.
Julia: "Chloe! Amanhã você vem, né? Tenho que te contar tudo sobre o drama do Daniel e da profa de Matemática 😂."
Sorri levemente, a leveza da mensagem quebrando um pouco da tensão que eu sentia.
Eu: "Vou sim. Daniel e a profa? Isso vai ser interessante."
Logo veio outra resposta.
Julia: "Vai por mim, é um caos. Precisamos de você pra dar seu toque de sabedoria irônica haha. Boa noite."
Suspirei, sentindo a tranquilidade de uma conversa normal.
Eu: "Boa noite, Julia. Amanhã me conta tudo."
Bloqueei o celular e o deixei ao lado da cama. Talvez a normalidade do dia seguinte fosse o que eu precisava. Mas, por agora, a sombra do senhor Castelli ainda pairava em meus pensamentos. Quem era ele de verdade? E por que aquela sensação de déjà vu não me deixava em paz?
A manhã nasceu fria, mas a cidade estava viva como sempre. De pé, encostado na ampla janela de meu apartamento, observava Nova York despertar. A vista era grandiosa, mas familiar. A cidade que nunca dorme parecia ser a única que combinava com meu ritmo. O vapor do café subia da xícara em minha mão, enquanto o telefone sobre a mesa piscava com notificações. Sempre negócios. Sempre movimento.
Do outro lado da linha, meus clientes europeus já estavam acordados e prontos para discutir os próximos lotes de vinhos da "Castelli Éternel", minha empresa. Era um negócio de fachada, sim, mas também era legítimo o suficiente para garantir minha influência nos círculos mais exclusivos. Vinhos raros. Luxo intocável. Assim como o controle que exerço sobre tudo que me cerca.
— Monsieur Castelli, — a voz do cliente soava formal, quase reverente. — A remessa para Paris está confirmada. A qualidade... excepcional como sempre.
— Bien. — Minha voz saiu baixa e firme. — Certifique-se de que os detalhes estejam impecáveis. Não aceito menos do que perfeição.
Desliguei, sentindo o peso da rotina se acomodar nos ombros. Era hora de me mover. Vesti meu paletó com a precisão de um ritual e desci até o estacionamento, onde meu Maserati Quattroporte preto já me esperava. Luxo e poder eram ferramentas que usava como armas.
Dirigi até o escritório central da Castelli Éternel, passando algumas horas ajustando as próximas entregas e garantindo que as operações paralelas funcionassem sem falhas. Depois, uma rápida visita à minha boate, onde Marc me atualizou sobre movimentações locais. Tudo estava sob controle, mas meu pensamento estava em outro lugar.
Chloe.
Não era apenas a lembrança daquela noite ou o fato de que eu deveria me casar com ela. Era o mistério. O desafio que ela representava. Incomum. Intocável. Paulo precisava dar essa notícia, mas a paciência não é uma virtude que cultivo.
Peguei o telefone e liguei para ele.
— Salazar, — minha voz era firme, sem rodeios — já falou com sua filha sobre nosso acordo?
— Louis, ainda estou preparando o momento. Chloe é... diferente de Olívia. Ela precisa de tempo.
— Não tenho tempo para isso, — resmunguei, segurando a irritação. — Deixe que eu mesmo contarei.
— Ela está na faculdade agora.
— Ótimo. Onde exatamente?
Paulo hesitou, mas me passou o endereço.
— Boa sorte, vai precisar .
Desliguei sem me despedir e me dirigi direto ao local.
Ao chegar
Estacionei o Maserati em frente ao prédio. Era um contraste gritante: alunos comuns passando ao meu redor, enquanto eu, com meu terno perfeitamente ajustado e óculos escuros, parecia deslocado naquele cenário. Encostei-me ao carro, esperando.
Minutos depois, ela apareceu. Chloe estava com um grupo de amigos, sorrindo de um jeito que eu não a tinha visto na noite anterior. Um contraste fascinante entre leveza e aquela frieza calculada que eu sabia que ela carregava.
Quando me viu, seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão séria e alerta. Ela era perceptiva, rápida.
Ela se aproximou, os passos cautelosos, mas decididos.
— Senhor Castelli...? — Sua voz era controlada, mas eu sentia o desconforto em suas palavras. — O que faz aqui?
Retirei os óculos, deixando que nossos olhares se encontrassem.
— Precisamos conversar, Chéri.
— Conversar? — Ela arqueou a sobrancelha, desconfiada. — Meu carro está estacionado ali...
— Não se preocupe. Mando alguém buscá-lo. — Minha voz era firme, deixando claro que eu não estava pedindo.
Ela hesitou. Seus olhos me estudavam, como se tentasse decifrar minhas intenções.
— Não nos conhecemos direito, senhor Castelli. Isso... é estranho.
Eu me aproximei um pouco mais, mantendo minha postura, mas sem invadir seu espaço.
— Você vai perceber, mademoiselle, que eu não faço nada sem motivo. Vamos conversar. Aqui não é o lugar.
Ela respirou fundo, mantendo aquela máscara de frieza, mas seus olhos diziam algo mais. Desafio. E eu adorava isso.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 79
Comments
Livia Pereira
já anciosa pra ver ele dar o troco no escroto do Matias🙈🙈🙈ah meu lado mafiosa já se soltando
2024-12-23
83
Elisabete Santos
começado a ler hoje 30/01/25 estou amando a história gostaria. muito q esse infeliz 😡 desse irmão não tivesse abusando dela isso é muito triste 😢 espero q ele sofra muito.
2025-01-31
0
Antonia Teófilo
Matias estuprou a Cloe autora, começando a ler, porque não tem idade do Louis, e legados de uma noite Damien não tinha idade, eu gosto de livros que aparece idade dos personagens pra mim é importante ter idade pra imaginação ficar melhor autora, 😘
2025-01-09
2