CAPÍTULO 3#

Dois dias haviam se passado desde a noite em que arranquei aquela garota ensanguentada de seu carro. Dois dias em que tentei ignorar a lembrança dos olhos quase apagados dela. Agora, eu estava diante de outro desafio: Paulo Salazar.

Estávamos no salão privado de um restaurante italiano em Manhattan. Um lugar discreto, porém luxuoso, escolhido cuidadosamente por ele. Salazar sempre gostou de ostentar poder, mesmo quando tentava parecer humilde.

Ele era um homem de presença, com um olhar calculista e palavras afiadas. Um velho aliado de Damián que, desde a saída dele, não escondia sua insatisfação comigo. Claro, eu sabia lidar com tipos como ele. Aliados que viravam obstáculos precisavam ser... convencidos.

O garçom nos serviu vinho tinto, e Salazar ergueu a taça, seus olhos fixos em mim.

— Aos novos tempos, Castelli. — Sua voz soava amistosa, mas havia veneno nas palavras.

Ergui minha taça lentamente, mantendo o olhar.

— Aux alliances nécessaires, Salazar(A alianças necessárias, Salazar) — Respondi com um leve sorriso, mas sem calor.

Tomamos um gole em silêncio antes de começar a verdadeira conversa.

— Você sabe que a saída de Damián deixou muitos... descontentes. — Ele começou, cortando o ar com sua faca ao partir o pão. — Homens como eu precisam de garantias.

Cruzei os braços, encostando-me na cadeira.

— Garantias? Mon ami(meu amigo), você está sugerindo que eu não sou capaz de manter esta mesa em ordem?

Ele riu, mas seus olhos permaneceram frios.

— Estou sugerindo que o peso do nome Castelli não é o mesmo nas suas mãos. Damián nos respeitava. Você usa o medo para tentar nos convencer.

Meu maxilar ficou tenso, mas não deixei transparecer. Eu já esperava esse ataque.

— Medo é uma ferramenta, Salazar. Respeito vem com o tempo.

Ele inclinou-se para frente.

— Ou com o sangue.

Houve um momento de silêncio tenso. A ameaça estava ali, pairando entre nós. Salazar não era um homem fácil de lidar, mas eu não estava aqui para agradá-lo.

— E o que você quer, hein? — Inclinei-me para frente, as palavras afiadas. — Se veio apenas para me insultar, estamos perdendo tempo.

Salazar colocou a faca de lado e limpou a boca com o guardanapo. Seus olhos encontraram os meus, sérios.

— Vim para fazer uma proposta. Algo que beneficiará nós dois.

Meu interesse foi despertado, mas mantive a postura fria.

— Estou ouvindo.

Ele respirou fundo antes de falar.

— Casamento.

Franzi o cenho, rindo baixinho.

— Mariage(Casamento)? Você perdeu a cabeça?

— Não estou brincando. — Ele apoiou os cotovelos na mesa. — Minha filha, Olívia, está voltando da Alemanha. Um casamento entre ela e você consolidaria sua posição, traria o apoio das famílias que ainda estão... relutantes.

Olhei para ele, avaliando cada palavra, tentando encontrar a armadilha.

— Você quer me prender a sua família? Amarrar meu nome ao seu?

— Quero garantir estabilidade. — Ele respondeu, impassível. — Para você, para mim, para todos nós.

Bebi mais um gole de vinho, sentindo o sabor amargo na língua.

— E o que sua filha pensa disso?

— Olívia não será um problema.

Ri novamente, mas desta vez sem humor.

— Putain de merde(puta merda). Isso soa mais como uma aliança forçada do que uma proposta.

— Chame como quiser, Castelli. — Ele se inclinou ainda mais. — Mas você sabe que precisa disso. Sem apoio, seu reinado será curto.

Eu odiava admitir, mas ele tinha razão. Consolidar meu poder era necessário, e essa aliança poderia ser útil. Porém, casar por conveniência? Parecia uma prisão disfarçada de coroa.

— Vou pensar. — Disse finalmente, levantando-me. — Mas não me subestime, Salazar. Nem pense que pode me manipular.

Ele sorriu, levantando a taça novamente.

— Não é manipulação. É sobrevivência.

Deixei o restaurante com Marc ao meu lado, o gosto amargo ainda na boca. Casamento? Isso não fazia parte dos meus planos. Mas talvez fosse o preço a pagar pelo controle absoluto.

...---------------...

A noite

A música pulsava nas paredes da boate, um ritmo vibrante que mascarava a podridão que se escondia nos bastidores. As luzes estroboscópicas transformavam o espaço em um teatro de decadência, mas eu não estava ali para me divertir. Minha atenção estava voltada para meu escritório, onde o verdadeiro espetáculo acontecia.

Marc entrou primeiro, mantendo sua postura rígida, seguido de perto por dois dos meus homens, levando um terceiro pelo colarinho. Raul Vargas, um dos muitos que pensaram que poderiam brincar com o nome Castelli. Ele estava acabado, com o rosto suado e as mãos tremendo.

— Senta. — Minha voz saiu firme, com o sotaque francês marcando cada sílaba.

Raul foi jogado na cadeira de frente para minha mesa. Ele tentou manter a compostura, mas o medo era visível em seus olhos.

— Louis, eu... eu posso explicar... — começou, a voz vacilante.

Levantei a mão, interrompendo-o.

— Não quero explicações, imbécile. Quero dinheiro.

A tensão no ar era palpável. Raul limpou o suor da testa com a manga da camisa, respirando fundo.

— Eu preciso de mais tempo. Só isso... mais algumas semanas e...

Antes que pudesse terminar, minha mão se fechou ao redor do copo de vidro na mesa, atirando-o contra a parede. O estilhaçar foi como um tiro, silenciando qualquer tentativa de negociação.

— Tempo? Você acha que eu sou um banqueiro de merda? — Levantei-me lentamente, caminhando até ele. — Quando você pega dinheiro comigo, você paga. Não há espaço para desculpas.

Marc se aproximou, encostando-se na parede, observando tudo com um olhar indiferente. Ele sabia que eu estava prestes a mandar uma mensagem.

— Por favor, Louis... Minha família... — Raul tentou apelar, mas eu não tinha paciência para isso.

Segurei seu queixo com força, forçando-o a me encarar.

— Você pensa que eu me importo com sua família? Com seus filhos? — Apertei mais forte. — Eu não me importo. Só vejo um homem que tentou me enganar.

Soltei-o com um empurrão, fazendo-o cair para trás na cadeira. Ele ofegava, mas não se atreveu a se levantar.

— Marc, você sabe o que fazer.

Marc se aproximou sem hesitar, puxando Raul pelo cabelo e o arrastando até o centro da sala. O som dos gritos abafados por socos ecoou enquanto Marc fazia seu trabalho. Eu permaneci impassível, observando sem desviar o olhar. Isso não era apenas punição; era uma lição para qualquer outro idiota que pensasse em testar minha paciência.

Depois de alguns minutos, Raul estava ensanguentado no chão, gemendo de dor. Eu me ajoelhei ao lado dele, segurando seu rosto.

— Isso foi uma advertência. Você tem 48 horas para me pagar. E se falhar... — inclinei-me, sussurrando no ouvido dele — não vou ser tão misericordioso da próxima vez.

Levantei-me, ajustando meu paletó.

— Limpem essa sujeira.

Saí do escritório, descendo de volta para o salão principal da boate. A música ainda pulsava, e o cheiro de álcool misturado ao suor preenchia o ar. Mas para mim, era apenas mais uma noite de negócios.

Enquanto acendia um cigarro, minha mente vagou para a proposta de Paulo Salazar. Casamento. Que piada. Não sou um homem de alianças, nem de promessas. Mas isso não era sobre sentimentos. Era poder. Salazar não confiava em mim, e eu confiava ainda menos nele, mas uma aliança estratégica poderia consolidar minha posição e afastar qualquer dúvida sobre quem controla essa cidade.

Tirei o telefone do bolso e disquei. Paulo atendeu no terceiro toque.

— Castelli. — Sua voz era firme, mas carregava uma ponta de surpresa.

— Salazar, eu pensei sobre sua proposta. — Traguei o cigarro e soltei a fumaça lentamente. — Casamento. Com Olívia.

Silêncio do outro lado da linha. Então ele respondeu:

— Interessante... Achei que você recusaria.

— Não sou um homem de recusas, Salazar. Eu vejo oportunidades onde outros veem problemas. Vamos fechar isso.

— Bom. Vou preparar um jantar no Domingo à noite. Você pode conhecê-la, discutir detalhes.

— Não preciso conhecer ninguém. — Minha voz era fria. — Basta que seja feito.

Salazar riu baixinho.

— Ah, Castelli... Você é realmente implacável.

— J'ai toujours été(Sempre fui). — Encerrei a ligação sem despedidas.

Eu não estava interessado em quem era Olívia ou no que ela pensava. Para mim, ela era apenas uma peça no tabuleiro. Mais um movimento em direção ao controle absoluto.

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GAMER W (TITANS BR)

GAMER W (TITANS BR)

olha não quero ser fofoqueira mas você não vai casar com a Olivia mas sim com a garota que você salvou e vai sentir o que Damian sentiu o amor incondicional

2024-12-05

78

Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

Louis salvou Chloé de morrer. Mas o que será que houve? Parece que sua família tem problemas internos sérios. E Paulo quer jogar Olívia no meio dessa confusão, deve estar precisando de dinheiro, e vivendo de aparências. Mas Louis é igual Damián, NÃO faz pesquisa de campo, só age! Ele já está apaixonado por Chloé, será que esse casamento sairá?!!

2025-01-30

0

Tânia Principe Dos Santos

Tânia Principe Dos Santos

Odeio ambos os homens. Não sei onde Chloé vai entrar nesta história mas espero que Louis seja capaz de a defender

2025-01-27

0

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