Meu nome é Chloe Salazar. Tenho 18 anos e, até um mês atrás, antes do meu aniversário, eu era feliz. Não uma felicidade perfeita ou constante, mas suficiente para acreditar que o mundo ainda podia ser bonito. Que eu ainda podia ser inteira.
Tudo isso acabou numa noite. Desde então, meu mundo se transformou em cinzas. O que aconteceu naquela noite é uma sombra que me persegue, sufocando cada resquício de quem eu era. Não vou entrar em detalhes. Não consigo. Só sei que algo dentro de mim se quebrou, algo que jamais poderá ser consertado.
E foi ele quem fez isso.
Meu próprio irmão.
Não Gabriel, o único que me estendeu a mão quando eu estava à beira do abismo. Estou falando de Matías, Matias Salazar, meu meio irmão. Ele destruiu mais do que minha confiança. Ele tirou minha vontade de viver.
Ontem à noite, tentei encerrar tudo. Pensei que a dor da lâmina cortando meus pulsos seria a última coisa que eu sentiria. Pensei que o frio do metal contra minha pele seria meu último toque. Eu queria o silêncio. A paz que a morte prometia.
Mas acordei.
O cheiro do hospital me atingiu primeiro, aquele ar estéril e sufocante. Abri os olhos devagar, piscando contra a luz fluorescente acima de mim. Minhas veias queimavam com o soro que escorria lentamente pelo meu braço. E então ouvi vozes.
— Ela está acordando.
A mão da minha mãe estava na minha, quente, trêmula. Valentina Salazar, sempre tão controlada, agora parecia prestes a desmoronar. Seus olhos castanhos estavam vermelhos, mas ela não chorava. Minha mãe nunca chorava. Não na frente de ninguém.
— Chloe, meu amor... você está aqui. Graças a Deus... — Sua voz estava carregada de alívio, mas também havia algo mais. Medo.
Tentei responder, mas minha garganta estava seca, como se eu tivesse engolido areia. Antes que pudesse tentar novamente, a porta se abriu.
Paulo Salazar entrou. Meu pai.
Ele não demonstrava emoção. Nunca. Era como encarar uma parede de granito: frio, inabalável, indestrutível. Ele era o homem que comandava um dos maiores cartéis americano, temido por muitos, mas para mim, ele sempre foi apenas o peso constante de expectativas impossíveis.
— Chloe... — Sua voz era grave, quase uma sentença. — O que aconteceu?
Eu não conseguia responder. Meu corpo tremia sob seu olhar, não de medo dele, mas pelo que eu sabia que viria a seguir.
E então, ele entrou.
Matías.
Meu coração disparou. Ele estava encostado na porta, os braços cruzados, o rosto sereno. Mas seus olhos... aqueles olhos que eu conhecia tão bem, eram como facas. Penetrantes, frios, cruéis.
— Bem-vinda de volta, Chloe. — Sua voz era suave, mas carregada de cinismo.
Meu estômago revirou. O quarto ficou menor, o ar mais denso. Eu queria gritar, mas minha garganta parecia fechada, meus pulsos doíam e eu me sentia completamente sem forças.
Gabriel, meu irmão mais velho, se aproximou e segurou minha outra mão. Sua presença era a única coisa que me mantinha sã naquele momento. Seus olhos azuis, tão diferentes dos de Matías, estavam cheios de preocupação.
— Irmã, você está segura agora. Estou aqui. — Sua voz era calma, mas firme. Ele sabia. Talvez não tudo, mas sabia que algo estava errado.
Olhei para ele, tentando encontrar algum vestígio de força. Eu precisava acreditar nisso. Que estava segura.
— Quem me trouxe aqui? — minha voz saiu rouca, quase inaudível.
Minha mãe trocou um olhar rápido com meu pai, mas ele permaneceu imóvel.
— Não sabemos. — Gabriel respondeu. — Encontraram você numa rua deserta, sangrando. Foi alguém... mas não deixou nome.
Um estranho. Um mistério.
Eu deveria me sentir grata, mas tudo o que conseguia sentir era vazio. Quem quer que fosse, ele salvou uma garota que não queria ser salva.
E agora, eu teria que encarar os monstros outra vez. E o maior deles estava alí, parado na porta, com aquele sorriso que eu odiava.
Família Salazar
Ele não tirava os olhos de mim.
— Descansa, Chloe. Vamos precisar de você forte. — Ele se afastou, mas sua presença ficou. Ele sempre estava lá.
A dor no meu peito aumentou. Eu sabia que essa batalha estava longe de acabar. E, pior, sabia que estava sozinha.
No dia seguinte...
A luz do sol atravessava as cortinas, ferindo meus olhos. Eu estava viva. Um peso estranho no peito me lembrava disso a cada segundo. Não consegui. A vida me puxou de volta, mesmo quando eu implorava silenciosamente pelo fim.
— Você está bem? — A voz suave da minha mãe quebrou o silêncio.
Bem? Eu nem sabia o que isso significava mais. Seus olhos estavam vermelhos, mas sua postura era firme. Ela sempre mantinha as aparências, mesmo quando tudo dentro dela desmoronava.
Ao lado dela, Gabriel me observava em silêncio, a preocupação estampada em cada linha do rosto. Meu irmão, meu porto seguro. O único que me fazia sentir que talvez houvesse algo pelo qual lutar.
— Podemos ir? — Sua voz era suave, mas firme.
Assenti lentamente. Não havia para onde fugir. A casa me esperava, com todas as suas sombras.
Quando nos levantamos, ouvi passos firmes e controlados atrás de nós. Meu corpo gelou. Matías.
Ele entrou no quarto sem dizer nada, como geralmente fazia. Seus olhos escuros passaram por mim de maneira fria, quase impessoal, mas eu sabia a verdade. Sabia o que se escondia por trás daquele silêncio. Não eram só olhos; eram facas, afiadas e prontas para cortar.
Gabriel soltou um suspiro pesado.
— Vamos.
Seguimos para o carro, cada um carregando seu próprio fardo. Minha mãe entrou no banco da frente, e eu e Matías ficamos atrás. O silêncio era opressor, mas eu sabia que seria assim.
— Você precisa descansar quando chegarmos. — Gabriel quebrou o silêncio, sua voz carregada de preocupação.
— Ela vai. — Foi tudo o que minha mãe disse.
Olhei para frente, tentando evitar olhar para Matías. Ele estava calado, mas eu podia sentir sua presença dominando o espaço. Seu controle não precisava de palavras. Era algo muito mais profundo, muito mais sombrio.
Quando a mansão surgiu no horizonte, meu estômago revirou. As grades altas, os muros imponentes... Aquele lugar nunca foi um lar. Era uma jaula dourada.
Gabriel estacionou e saiu do carro, abrindo minha porta com cuidado.
— Vai ficar tudo bem, chiquita(ele sempre me chama assim). Eu prometo.
Assenti, sem responder. Eu queria acreditar nele, mas sabia que promessas não podiam me proteger de tudo.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
MARIA LUZINETE DIAS SILVA
Espero que Matias não tenha estuprado a própria irmã
2024-12-30
45
Marcia Cristina Carneiro
colega eu pensei A mesma coisa tomará que ele não tenha estuprado éla 13/01/25/concordo plenamente com VC colega espero que ó irmão consiga proteger ela
2025-01-14
2
Tânia Principe Dos Santos
Chloé não disse exatamente o que Matias fez mas deduzo que a tenha estuprado e não tenha sido apenas uma vez.
Como é que naquela casa ninguém é capaz de a ajudar. A mãe e Gabriel parecem amar Chloé mas não protegeram. lamento muito pela Chloé
2025-01-27
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