...Wong Lee...
— Doutor, hora de acordar! — Ouço o capitão Lee me chamar e desperto lentamente.
— Caramba, faz semanas que não durmo direito. — Falei me espreguiçando. — Mesmo no meio dessas folhas, consegui dormir bastante.
— Que bom pra você, doutor. — O capitão falou com ironia, já que ele teve que ficar acordado durante toda a madrugada. — O sol nasceu daquele lado. — Ele apontou a direção à nascente. — Então o sudeste fica...?
— Para lá! — Apontei na direção que devemos seguir.
— Ok! Vamos para lá então.
Nos levantamos e seguimos juntos pela floresta. Andamos por um longo tempo, e a minha barriga gritava de fome.
— Doutor, sabe subir em árvores? — O capitão falou me olhando sério.
— Não, senhor!
— Não teve infância, doutor? — Ele falou em tom de brincadeira.
— De ter, eu tive, só não foi divertida. — Falei sem graça. — Eu estudei em casa e ficava a maior parte do tempo no laboratório com os meus pais.
— Ahhh! Eu não tinha ideia. — Ele me olhou com cautela. — Bom, vou te ajudar, vai subir nessa árvore e ficar escondido, eu vou dar uma volta e tentar achar algo pra gente comer.
Ele me ajudou a subir na árvore e saiu. Alguns minutos depois ele retornou com algumas frutas, ele subiu onde eu estava e comemos rapidamente.
Nem sei descrever a alegria e alívio que senti ao ver o capitão Lee retornar novamente pra mim. Eu sabia que ele não ia me abandonar nessa floresta.
O capitão Lee se tornou alguém especial pra mim, por mais que ele esteja fazendo o trabalho dele, ele me salvou, arriscou sua vida, e... Verdade seja dita, ele é tão bonito que não consigo parar de olhar pra ele, me sinto super atraído. E, pode ser coisa da minha cabeça, mas sinto como se ele se sentisse da mesma maneira em relação a mim, sempre pego ele me olhando me admirando, essa noite tive a impressão de que ele me olhava enquanto dormia. Posso estar me iludindo, afinal, eu nunca namorei ou coisa parecida.
— Então sua infância foi dentro de casa e dentro de laboratórios de pesquisa. — O capitão começou a puxar assunto, enquanto seguimos andando em direção a Ramasami.
— Isso mesmo, eu nasci e cresci em Leung. — Falei andando ao lado do capitão. — Fiz o colegial em casa. Depois estudei na Universidade onde os meus pais trabalhavam, lá mesmo em Leung, fiz alguns cursos e pesquisas no exterior, mas eu sempre ia focado em estudar, e acabei não indo fazer nenhum passeio. Conheço laboratórios e centros de pesquisas de vários países, mas nenhum ponto turístico.
— Caramba! — O capitão me olhou impressionado. — Mesmo quando saio em missões eu dou um jeito de conhecer algo da cultura local. Eu amo fazer isso.
— Bom, eu apenas tenho olhos para a ciência. — Sorri. — E a sua infância, capitão?
— Eu cresci em Sonadang, minha mãe ainda mora lá. — Ele esboçou um pequeno sorriso que me encantou. — Tive uma infância divertida, eu e meu irmão sempre fomos aventureiros, então sempre tinha um osso quebrado ou coisa do tipo.
— Nossa, eu nunca quebrei um osso sequer. — Sorri um pouco mais forte. — Me diz como entrou para o exército.
— Foi durante o serviço militar obrigatório. — Ele deu de ombros. — Eu estava no segundo ano da faculdade de engenharia civil. Meu pai dedicou sua vida à construtora, então eu e o meu irmão decidimos estudar e dar continuidade ao legado dele. Mas eu me apaixonei pelo Exército. Ainda terminei a faculdade, porém decidi me tornar um militar, e não me arrependo. — Então ele me olhou. — E o doutor, por que escolheu a medicina, e se dedicou a essa pesquisa em especial?
— Bom, antes do meu nascimento, meus pais tiveram uma filha. — Eu sempre me emocionava ao falar da irmã que nunca conheci. — Ela nasceu com o Koron, e faleceu com poucos meses de vida. — Respirei fundo e continuei. — Minha mãe sofreu muito após a morte dela. E quando engravidou novamente veio o desespero de que eu também nascesse com a doença, mas, graças aos deuses, isso não aconteceu. Então eles se dedicaram a me examinar e a pesquisar sobre o problema genético e sobre o Koron em si.
— E você decidiu ajudar. — O capitão me olhou interessado na história.
— Sim, eu cresci em meio a essa pesquisa. — Sorri. — Eu me comovi com a história dos meus pais e o sofrimento de outros pais e seus bebês, e percebi o quanto isso era importante. — Olhei para ele ansioso. — Eu tenho autismo e altas habilidades, por isso me chamam de gênio. Meu hiper foco me deixa super concentrado na pesquisa, por isso não tenho amigos, nem faço outra coisa a não ser estudar.
O capitão parou e me olhou seriamente, ele parecia estar tentando entender ou digerir tudo que falei. Sei que parece que eu tenho uma vida triste, e talvez eu realmente tenha. Mas isso nunca me incomodou, pois eu nem prestava atenção nisso. Sempre fui sozinho, principalmente após a morte da minha mãe.
Eu e meu pai nos amamos, mas não temos uma relação carinhosa. Então tenho vivido de maneira isolada e solitária.
— O que vai fazer, quando a pesquisa estiver concluída? — Ele me olhava de um jeito intenso.
— Não sei! — Sorri sem graça.
— Bom, pode ir até Sonadang e participar do churrasco tradicional da família Lee. — Ele deu um sorriso fraco. — Minha mãe adora visitas, e assim vai poder fazer alguns amigos.
— Eu vou adorar! — Sorri largamente.
Andamos em silêncio por alguns minutos e resolvi fazer uma pergunta que estava martelando na minha cabeça.
— Além da sua mãe e do seu irmão, tem alguém te esperando em casa? — Eu estava muito curioso sobre isso.
— Minha cunhada, meu sobrinho e meus amigos. — Ele deu de ombros.
— E nenhuma namorada ou esposa? — Falei quase num sussurro.
— Não! — Ele respondeu sério. — Não há mais ninguém à minha espera. — Então ele me olhou com certa expectativa. — E o doutor? Tem alguma namorada?
— Eu? — Respondi surpreso, de fato eu não esperava essa pergunta. — Não, não tenho namorada. — Então o olhei seriamente e resolvi ser sincero. — Na verdade eu não me interesso por mulheres. Se tivesse alguém seria um namorado.
— O doutor... É gay? — O capitão Lee parou de andar e me olhou como se eu tivesse dito algo surpreendente.
— Sim, eu sou. — Caramba, espero que ele não seja do tipo preconceituoso.
Na verdade, eu espero que ele seja tão gay quanto eu.
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Atualizado até capítulo 72
Comments
Ediane Santos Araújo
mais autora .
avisa pra ler mais dessa história
2024-12-07
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