Escondidos na floresta

...Toshion Lee...

Mortos, toda a minha equipe, os melhores soldados com quem já trabalhei, tão jovens e destemidos, empenhados, só faltava uma melhor disciplina neles, se não fosse por isso, não teriam me desobedecido e talvez ainda estivessem vivos. Sem falar no sargento Seok, tão divertido e bem humorado, agora morto.

Eu só pensava em como suas famílias irão sofrer ao saber do que aconteceu.

Caramba!

Agora pensando nisso, eu também poderia ter morrido, escapei por pouco. Um deslize e a minha mãe também iria receber a notícia da minha morte. Esse trabalho é sempre tenso e arriscado, e eu nunca vou me acostumar com isso, perder meus homens assim.

Me afastei do doutor, eu sei que não deveria deixa-lo sozinho, mas eu precisava respirar, chorar, e colocar a minha mente no lugar, pois eu estava com raiva e culpando ele pelo que aconteceu, mas eu sei que ele não tem culpa alguma, ele não pediu pra ser sequestrado e precisar de um resgate.

Na real, os únicos culpados eram os malditos bandidos que sequestraram o doutor, e a melhor maneira de vingar e honrar os meus homens era acabando com esses bandidos, e eu vou fazer isso.

Voltei até onde havia deixado o doutor, enquanto retornava eu fiz um prece aos deuses pra que ele não tivesse fugido assustado. Mas para o meu alívio, ele estava lá sentado embaixo de uma árvore.

— Doutor! — Falei , ele se levantou e me olhou, parecia até feliz em me ver. — Me desculpe pela maneira como te tratei. Eu estava angustiado pela perda que sofri. O doutor não tem nenhuma culpa.

— Tá tudo bem, eu realmente sinto muito pelos soldados e pelo sargento Seok. — Ele falava com um olhar e um sorriso que me acalentou. — E o senhor também não tem culpa pela morte deles. Foi uma fatalidade.

— Sim, aqueles que te sequestraram é que são os culpados. E eu garanto que eles irão pagar. — Falei sério. — Mas primeiro temos que sair daqui e te deixar num lugar seguro.

Passei as mãos pelos bolsos procurando o dispositivo de localização e o meu rádio, nele estava registrado onde havia deixado o restante do equipamento e o nosso veículo. Mas não o encontrei, foi então que lembrei que havia deixado meu dispositivo com o soldado Joo. E o rádio deve ter caído durante a batalha.

— Merda! — Praguejei.

— O que houve? — O doutor perguntou.

— Deixei meu rádio e o dispositivo de localização no laboratório. E agora não tenho ideia de como faremos pra sair dessa maldita floresta. — Comecei a andar em círculos tentando pensar. — Deixamos nosso equipamento e nosso veículo em algum lugar, mas não tenho ideia de onde foi. Eu sou péssimo em orientação e localização.

— Achei que um militar tinha que saber se localizar. — Ele falou tentando fazer graça, mas não teve graça.

— É, mas temos tecnologia pra isso. — Falei sério. — Enfim, o doutor deu azar de cruzar com um militar desqualificado.

— O senhor não é nada desqualificado, capitão Lee. — Ele sorriu, engraçado que essa merda de sorriso dele me acalmava, e me irritava ao mesmo tempo, era estranho. — Mas eu sei me localizar muito bem. Já vai amanhecer, podemos usar o sol como localização, tendo como base o lado onde ele nasce.

— Como assim? — Falei curioso.

— Pelo que consigo observar, estamos na floresta de Flaunt.

— Sim, está correto. — Falei impressionado.

— Então Leung fica pro Oeste, mas é muito distante. — Ele falava como se estivesse pensando alto.

— Vamos voltar para a cidade de Ramasami, seu resgate virá de lá. — Falei já meio que entendendo a ideia dele. — Nesse caso devemos ir para o sudeste. Deixamos o veículo quase na entrada da floresta. Se seguirmos uma trilha pelo sudeste podemos encontrá-lo.

— Isso mesmo Capitão Lee. — Ele sorria largamente agora. — Bom, vamos procurar um lugar para nos escondermos, afinal devem estar nos caçando e assim que sol raiar, vamos seguir em direção ao sudeste.

— Muito bem, doutor, parece que você será de grande ajuda. — Falei olhando ele sorrir, era como se eu estivesse hipnotizado por esse maldito sorriso.

— Quem sabe não entro para o exército depois dessa e viramos uma equipe? — Ele sorria bastante.

— Você sorri bastante para quem passou por maus bocados! — Acabei pensando alto, merda! — Me desculpe, não é como se você tivesse que ser triste, eu só...

— Tá tudo bem, capitão. — Ele me olhou ainda sorrindo. — Minha mãe dizia que não adiantava se lamentar, na vida a gente tinha que sempre sorrir e lutar, e é assim que eu vivo, lutando e sorrindo para deixar as coisas mais leves.

— Entendi. — Falei agora admirando esse jeito esquisito dele.

Olhei ao redor para desviar meu olhar dele, acho que ele já deve estar me achando um esquisito por o olhar com tanta insistência. Porém, passar essas poucas horas com o doutor estava sendo estranho pra mim. Descobri que ele não é apenas um homem com um rosto e um sorriso bonito, ele é alguém especial, interessante, inteligente, amável. Eu com certeza não consigo me lembrar de ninguém com todas essas qualidades.

— Vamos por ali, onde a floresta é mais densa, deve ter onde se esconder! — Ele falou apontando para uma área da floresta.

Eu balancei a cabeça concordando e o segui.

Cortei algumas folhas e galhos grandes e ajeitei uma espécie de barraca improvisada, tudo ficou meio camuflado pela floresta ao redor. Amontoei várias folhas para fazer uma cama para o doutor.

— Descanse um pouco, eu fico vigiando caso tenha algum sinal do inimigo, e vou verificar de que lado foi o nascer do sol. — Falei e ele obedeceu.

Assim que deitou, adormeceu, ele deve estar acabado de cansaço. Fiquei observando ele dormir, parecia tão sereno, ninguém diria que estava amarrado numa cadeira correndo risco de vida há poucas horas atrás. Eu senti uma vontade gigantesca de passar a mão em seu rosto, então me afastei dele antes que eu fizesse besteira.

Imaginei só, do nada eu estava atraído e querendo fazer carinho num homem, era só o que me faltava.

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