Café da manhã

Mavi

Estava sentindo como se estivesse dormindo numa nuvem. Era tão macio, quentinho e tinha um perfume tão bom.

Fui abrindo os olhos devagar, e percebi que estava num quarto que não era o meu. Passei a mão pelo lençol branquinho e tão macio.

Me sentei e só então me dei conta que estava no quarto do Adam. Pior, em sua cama.

Lembrei que seu primo Lucas me ligou e falou que Adam estava sentindo muitas dores e não queria ir para o hospital. Eu estava no meu apartamento vendo um filme. Só lembro que calcei um tênis, peguei minha bolsa e saí do jeito que estava. Não tinha tempo para ficar me trocando.

Adam estava com febre e sentindo dores pelo corpo. Certamente exagerei nos exercícios. Droga Mavi!

Mas como vim parar na sua cama?

Que vergonha. Devo ter me deitado na maior cara de pau. Affs.

Adam não está no quarto, mas seu perfume está bem presente. Me levantei e procurei pelo banheiro. Vou me arrumar um pouco e enfrentar minha realidade.

Como você pode dormir? E ainda na cama dele Mavi?!

Desci e vi que Adam estava sentado no sofá, com um notebook no colo, sua cadeira ao seu lado.

Estava tudo muito silencioso.

- Bom dia Adam.

- Bom dia Mavi. Dormiu bem?

A porque ele foi me perguntar logo isso?

- Ahh, bemmmm , isso. Dormi, dormi.

Covardes, pede desculpas por ter se enfiado debaixo das cobertas dele. Será que ele estava na cama também?

Além de gaguejar devo estar vermelha agora.

- Fico feliz!_ ele falou com um sorrisinho de canto de boca. - Bem, preparei um café da manhã para nós. Vamos?

Ele falou passando do sofá para a cadeira de rodas.

- Ah, não precisava se incomodar Adam. Vejo que você está melhor, então já vou indo embora.

- Não vai me fazer essa desfeita. Levantei cedo para fazer um café da manhã para nós. É o mínimo depois de passar a sua noite de sábado aqui cuidando de mim.

Adam estava estranho. Falante e ainda disse que ele fez o café da manhã?!

A febre afetou alguma coisa nele kk

- Tudo bem então. Vou aceitar.

Fomos para a mesa, que estava linda e com cheiro maravilhoso. Se foi realmente ele que fez, está de parabéns.

- Café ou suco?_ ele me perguntou.

- Prefiro suco. Não sou muito fã de café.

Ele me serviu um copo de suco e começamos comer em silêncio. Era constrangedor ficar ali, sozinha com ele. ainda mais depois de acordar em sua cama.

Como eu fui parar lá meu pai? Lembro que estava na poltrona.

- Você fala muito bem o português. Quase sem sotaque.

- Ah, é que falo desde bebê praticamente.

- Entendi. Sua mãe é brasileira né?

- Sim, as duas mães brasileira, um pai brasileiro e um americano.

Ele me olhou confuso.

- Você conseguiu me dar um nó na cabeça agora kk

Ele sorriu. Coisa rara.

- Bem, eu sou filha de pais brasileiros, mas nasci aqui nos Estados Unidos. Depois que fiquei órfã, minha tia, irmã do meu pai, que também é minha madrinha, passou a cuidar de mim. Ela e meu padrinho, que é americano, se casaram e se tornaram meus pais. Deu para entender?

- Espera aí. Seus pais biológicos eram brasileiros. Você é americana. Sua tia que também era sua madrinha, hoje é sua mãe? E seu padrinho, que é americano, é seu pai?

- Isso kkk

- Acho que entendi então kkk Sinto muito pelos seus pais.

- Obrigada. Eu era muito pequena, tinha só 4 anos quando tudo aconteceu. Praticamente não me lembro deles.

- Seria muito indelicado da minha parte perguntar o que aconteceu com eles?

- Não. Eles morreram num acidente de carro. Um idiota bêbado bateu contra o carro que eles estavam.

Puta merda Mavi. Só depois que falei me lembrei que Adam estava bêbado quando sofreu o acidente.

Ele só balançou a cabeça como se dissesse que entendeu, e o silêncio voltou a reinar entre nós.

Terminamos o café naquele climão. Quando fui levantar para retirar a mesa, Adam não deixou.

- Não se preocupe. Logo a pessoa que vem fazer a limpeza retira a mesa.

- Ah, tudo bem. Tenho que ir agora. Obrigada pelo café da manhã, estava uma delícia.

Ficamos um tempo nos olhando sem desviar o olhar ou piscar.

- Até amanhã Adam.

- Te levo até a porta._ ele me acompanhou e abriu a porta para mim, posicionou sua cadeira de rodas me dando passagem. - Obrigada por ter vindo. Tenha um bom domingo.

Eu só acenei com a cabeça e saí.

Estávamos conversando tão bem, até eu estragar tudo.

Mas porque será que isso me incomoda tanto?

E como eu fui parar naquela cama?

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