"Vida normal"

Adam

Um ano atrás

Acordei num hospital.

Não sentia nada, mas estava num hospital.

Senti o cheiro de um perfume conhecido. Nicole. Era o perfume da minha namorada. Ela deveria estar ali, então comecei a mover minha cabeça para procurar por ela. Mas ouvi sua voz... parecia estar falando ao celular com alguém.

Me virei em direção de onde vinha sua voz. Estava sentada numa poltrona próximo a janela, olhando para fora e falando com alguém no aparelho. Tão distraída que não me viu acordar.

-Sim amiga, essa é a situação dele, acredita?! Um homem tão lindo e virou um vegetal.

De quem Nicole estava falando? Então continuei ouvindo sua conversa.

-Deus me livre amiga. Não sou nenhuma morta de fome para aguentar isso. Nunca. Sou jovem, só tenho 22 anos, linda e serei a futura Gisele Bundchen do mundo da moda. Jamais vou ficar presa a ele, você está doida?!

A pessoa do outro lado fala alguma coisa e Nicole continua.

-Amiga meu pai é riquíssimo. Não como o pai do Adam, verdade. Mas dinheiro nenhum vale uma mulher linda como eu ficar ao lado de um vegetal. Adam está usando fraldas, que nojo! E sem contar que seu brinquedinho nunca mais vai funcionar.

-Não amiga, é como te falei. Ele não se mexe, vai usar fraldas e ser alimentado na boca como um bebê. Que mulher vai querer ficar com cara desses? Ainda dormir com cheiro de fralda suja ao seu lado?

-Isso. Vou só esperar uns dias para a família Wanny se acostumar com a situação do filho e vou terminar esse namoro. Tenho projetos fora do Brasil mesmo, então vou aproveitar e sumir. A família que cuide dele.

-Que consideração?! Adam por acaso tinha alguma quando ficava por aí pondo chifres em mim? O idiota pensa que eu não sabia. Mas queria ser a senhora Wanny sim, então aguentava. Agora isso mudou. Depois que vi ele de fraldas peguei foi nojo.

E ela continuou lá, falando e falando.

E foi assim, através das fofocas e de seu veneno, que eu descobri que estava sem poder movimentar meus membros. Como ela mesma disse, tinha virado um vegetal.

Eu não podia e nem queria enfrentar Nicole naquele momento. Então fingi que continuava dormindo, ou melhor, fiquei sabendo depois que estava em coma desde o acidente a cinco dias.

Nicole parou de destilar seu veneno quando uma enfermeira entrou no quarto. Ela simplesmente levantou e saiu. Quando tive certeza que ela realmente não estava no quarto, abri meus olhos. A enfermeira falou alguma coisa comigo e foi buscar o médico.

A partir daí veio médico e meus familiares. Estavam todos em NY. Minha mãe chorava muito, assim como o senhor Thomas, meu pai.

Aurora grávida, precisou ser medicada, mas soube que estava ali no hospital também. Alice grudou em mim na cama.

Fiquei sabendo do acidente. Bêbado avancei sinal e bati contra outro carro antes de cair do viaduto. Graças a deus ninguém mais, além de mim, teve ferimentos graves.

Eu estava no momento que acordei numa situação de tetraplegia, mais os médicos garantiram que poderia haver reversão, mas eu teria que ir o mais rápido possível para Suiça, e seria uma cirurgia muito cara.

Claro que meu pai não mediu esforços, e eu fui transferido para um hospital na Suiça.

Lá passei por duas cirurgias na coluna, e fiquei muito tempo internado.

Como os médicos prometeram, a tetraplegia era realmente temporária, e foi revertida com as cirurgias. Porém eu fiquei numa cadeira de rodas. Não totalmente paraplégico, graças a cirurgia que fiz na Suiça. Consigo movimentar minhas pernas, mas não consigo ficar em pé. Minha coluna não suporta meu peso.

Claro que o fato de ter movimentos nas pernas, facilita algumas coisas do meu dia a dia, como sair da cadeira para um sofá ou cama por exemplo. Utilizo vaso sanitário normalmente, só que tem apoio em volta, para que eu possa me segurar. Banho tomo sozinho também.

Mas andar a cavalo, de bicicleta, passear a beira mar com os pés na areia, ou dançar numa casa noturna, por exemplo, nunca mais.

Essa é a minha realidade. A vida "normal" que minha família acha que devo ter.

Meu maior sonho atualmente e viver sozinho, sem ter ninguém para me perturbar.

Vou do trabalho para casa, da casa para o trabalho . Evito ver pessoas que não seja Lucas e minha secretária. Reuniões ou festas da empresa, nunca mais participei. Reuniões faço por vídeo conferência. Pessoalmente nunca.

Finais de semana eu trabalho. Sim, levo vários contratos e fico em casa trabalhando.

Já faz um ano. Nicole realmente terminou comigo e foi viver sua vida de modelo. Não a julgo, no seu lugar talvez fizesse o mesmo.

Namorar depois da Nicole ou transar depois da loira do banheiro da casa noturna? Nunca mais.

Quando estou muito, mas MUITO necessitado de sexo, eu me viro sozinho.

Mas na verdade eu evito. Tenho nojo de mim mesmo. Isso aí, nojo! Como Nicole disse que sentia nojo e qualquer outra mulher também teria.

Não uso mais fralda, verdade. Mais usei por muito tempo. E isso ficou na minha mente, junto com as palavras de Nicole.

Aquela mulher fudeu com meu psicológico de tal maneira.

Fiz algumas de sessões de terapia. Mas larguei.

Assim como parei de fazer fisioterapia, minha mãe nem sonha. Mas tenho sentindo tantas dores, que nem o remédio mais forte que uso está fazendo efeito.

Hoje é sábado, e enquanto Lucas está se preparando para sair, eu vou ficar em casa trabalhando.

-Tem certeza que não quer ir cara? É aniversário do Andrew, vai ser na casa dele. Sossegado para você ir.

-Tenho certeza. Vou dormir daqui a pouco. Vai lá e entrega meu presente para ele.

Meu primo me lançou um olhar, aquele olhar que eu odeio. Pena.

Sei que não faz de propósito, mas faz.

E isso me arrebenta por dentro.

"Vida normal" kkk Piada!

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Meninas, nada disso é condizente com a realidade. A situação do Adam foi algo que eu imaginei para poder desenvolver o romance. Espero que vocês entendam a licença poética que vou usar nesse caso. Obrigada ❤️

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Comments

Alessandra Almeida

Alessandra Almeida

É por isso que ela se fingia de cega, só por causa do posto de senhora Wanny, mas era tão mau caráter quanto ele.

2025-03-09

7

Keila Mar

Keila Mar

não deve ser fácil deixar fazer as coisas e de certa forma depender dos outros

2025-01-09

0

Erlete Rodrigues

Erlete Rodrigues

Adam você assumiu o risco quando entrou no carro bêbado

2025-02-14

0

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