CAPÍTULO 20

Sophie Narrando

Era uma manhã fria e cinzenta em Nova York. Eu e Liam revisávamos os detalhes finais do projeto.

— Sophie, essa estrutura na ala sul precisa ser reforçada — disse Liam, apontando para os cálculos na tela. — A inspeção que fizemos levantou um ponto importante.

Assenti, ajustando os óculos e me concentrando nos números.

— Concordo. Vou recalcular as cargas e ajustar o material aqui. Não podemos arriscar nenhuma falha estrutural.

Liam sorriu, inclinando-se sobre a mesa.

— Você é meticulosa. É por isso que confio tanto no seu trabalho.

Olhei para ele rapidamente, tentando não mostrar que estava distraída. Minha mente voltada para Noah, estava morrendo de saudades.

O telefone em minha mesa vibrou, e vi o nome de tia Clara na tela.

— Preciso atender. É urgente.

Ele acenou, compreensivo. Afastei-me da mesa e fui para um canto mais silencioso.

— Tia Clara, está tudo bem?

A voz dela estava tensa do outro lado da linha.

— Sophie, Noah não está bem. Ele está muito abatido, sente sua falta e anda chorando muito. Está difícil acalmá-lo.

Fechei os olhos, segurando o celular com força. O peso da distância entre mim e meu filho parecia insuportável.

— Eu sabia que isso seria difícil, mas... ele não pode continuar assim, tia. Preciso fazer algo.

— Sophie, ele precisa de você. Talvez...

Interrompi-a, a decisão já tomada em meu coração.

— Traga Noah para Nova York. Pelo menos até ele melhorar. Eu não posso continuar desse jeito.

— Tem certeza? — perguntou ela, preocupada.

— Absoluta.

Minha tia ficou em silêncio por um momento antes de responder:

— Vou cuidar disso, querida. Ele estará com você em breve.

Desliguei o telefone, sentindo um alívio misturado com apreensão. Voltei à mesa onde Liam estava me esperando.

— Tudo bem? — perguntou ele.

— Sim. Vamos continuar.

Voltamos ao trabalho, ajustando os cálculos e revisando as plantas. Liam era detalhista e sempre fazia questão de tornar o ambiente leve, mas minha mente estava dividida.

Estávamos terminando os ajustes quando uma presença familiar dominou o ambiente. Eu olhei para cima e vi Damián entrando no escritório com sua habitual confiança avassaladora. O terno sob medida, a postura imponente e os olhos que pareciam perfurar minha alma.

— Senhor Castelli. — Liam foi o primeiro a cumprimentá-lo.

— Liam. — Damián assentiu, antes de olhar para mim. — Mademoiselle Sophie, como vai?

Tentei manter a postura profissional, ignorando o modo como meu coração acelerava toda vez que ele dizia meu nome daquele jeito.

— Estamos finalizando os detalhes que o senhor pediu. A ala sul foi ajustada de acordo com a inspeção.

Ele se aproximou, analisando os documentos que Liam entregou.

— Bon. Quero tudo perfeito, sem margem para erros.

— Claro, senhor Castelli — respondeu Liam.

Enquanto falávamos sobre o projeto, senti os olhos de Damián em mim, queimando como sempre. Mesmo quando se dirigia a Liam, ele parecia me observar, como se tentasse me decifrar.

— Alguma outra observação? — perguntei, tentando quebrar a tensão.

Ele inclinou levemente a cabeça, os olhos fixos nos meus.

— Non, mademoiselle. Parece que você sempre faz o impossível parecer fácil.

Corei ligeiramente, mas mantive o tom firme.

— Apenas faço meu trabalho.

Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas carregado de significado, antes de se virar para sair.

— Continuem assim. Preciso resolver outras questões. Bonne journée.

Ele se retirou, mas dessa vez Liam parecia ter notado algo, ele começava a desconfiar.

— Castelli parece estar gostando bastante do seu trabalho Sophie. O jeito que ele te olha, parece te conhecer bem... — Ele insinuou e eu engoli em seco.

— É impressão, apenas. — Eu desconversei, mas sabia que precisava falar a verdade para ele

Narrando: Damián

Deixei o escritório e entrei no carro onde Marc já me aguardava. Coloquei os óculos escuros, o semblante sério.

— A reunião está pronta? — perguntei.

— Sim, senhor. Os investidores já estão na sala de conferências.

Assenti e fiquei em silêncio durante o caminho. A reunião foi breve, mas intensa. Negócios sempre eram conduzidos com precisão cirúrgica.

Mais tarde, dirigi até um café discreto no centro da cidade, encontar ma fille. Para minha satisfação, lá estava ela, sentada em uma das mesas próximas à janela. Ela não me esperava, digamos que eu sempre sei onde ela está.

Eu me aproximei sem fazer barulho, e ela levantou os olhos surpresa quando me viu.

— Damián? Como sabia que eu estava aqui?

— Tenho meus métodos, ma chère. — Sentei-me, ajustando o paletó.

Ela suspirou, claramente irritada.

— Se veio falar sobre algo que não seja o projeto, pode voltar.

— Sempre tão direta. — Sorri de lado. — Mas hoje estou apenas desfrutando de um café.

Enquanto conversávamos, meus olhos captaram algo. Um homem, no canto do café, fingindo estar alheio, mas claramente nos observando.

Eu sabia o que aquilo significava.

Interrompi Sophie com uma desculpa rápida e me levantei, caminhando calmamente até o homem. Quando ele percebeu que eu o havia notado, tentou sair, mas eu fui mais rápido.

— Quem te mandou? — perguntei, empurrando-o contra a parede do beco ao lado.

— Eu... eu não sei do que está falando!

Dei um soco no rosto dele.

— Não minta para mim. Fale agora.

— Foi a senhora Castelli! — gritou ele, assustado.

Minha fúria aumentou. Margot. Claro.

Soltei-o, ajeitando meu terno com calma. Quando me virei, vi Sophie na entrada do beco, os olhos arregalados.

— Damián, o que foi isso?

— Nada que precise se preocupar.

— Não pareceu nada, Damián!

— Confie em mim, ma chère. Vou resolver algo que deveria ter feito há muito tempo.

Virei-me e saí, eu estava furioso, esse assunto tinha que ser resolvido.

Um tempo depois, as portas da mansão se abriram com um estrondo quando atravessei o hall de entrada. Os passos firmes de minhas botas ecoavam pelo mármore polido, marcados pela minha raiva contida. Margot estava no salão principal, sentada em um sofá de veludo vermelho, uma taça de vinho na mão e a expressão de quem sabia que eu viria. Ela era sempre teatral.

— Damián. — Sua voz cortou o silêncio como uma lâmina. — Que honra receber sua atenção tão cedo. Algo aconteceu?

O sorriso falso que ela exibia me provocava, mas eu não ia ceder ao jogo. Parei à sua frente, minhas mãos enfiadas nos bolsos do casaco enquanto a encarava com frieza.

— Você realmente acha que sou cego, chérie? Que não saberia de seus joguinhos?

Ela inclinou a cabeça, fingindo inocência.

— Não sei do que você está falando.

Meu riso foi curto, seco, carregado de sarcasmo.

— Não brinque comigo, Margot. Eu vi o homem que você mandou me seguir. Ele falou antes que eu precisasse insistir.

O sorriso dela vacilou por um momento, mas Margot sempre foi boa em esconder suas emoções. Ela cruzou as pernas com uma elegância ensaiada, levando a taça aos lábios antes de responder.

— Eu apenas quis proteger nossos interesses. Você tem andado... distraído ultimamente. Eu precisava saber onde você estava enfiando o nariz.

Inclinei-me para ela, aproximando meu rosto do seu. A raiva pulsava em minha voz, mas era controlada, como a ameaça de uma tempestade prestes a desabar.

— Você não tem o direito de me vigiar. Nós dois sabemos que esse casamento nunca foi sobre sentimentos. Foi um negócio, nada mais. E mesmo nesse contrato frio, você ultrapassou o limite.

Margot revirou os olhos, mas havia uma sombra de desconforto ali.

— Vamos, Damián. Não se faça de santo. Desde o início, você sabia que eu nunca me importei com... sentimentos, assim como você. — Ela disse a palavra como se fosse algo insignificante. — Você também nunca quis mais do que a aliança com minha família.

— É verdade. — Admiti, me endireitando, a voz mais baixa, mas ainda perigosa. — Sempre soube que você era vazia, calculista. Mas, até agora, você não tinha me dado um motivo para acabar com isso.

Ela se levantou de súbito, jogando a taça no chão, o som do vidro se partindo ecoando pela sala. Os olhos dela brilharam de raiva.

— Acabar com isso? Você não pode simplesmente sair desse casamento! Não vamos permitir. Vamos te destruir.

Sorri de lado, frio, enquanto tirava o casaco e o jogava sobre uma cadeira próxima.

— Que tentem. Os Castelli não são conhecidos por se dobrar a ameaças, ma chère. E você esquece... esse casamento só tem valor se eu continuar nele. Sem mim, você não é nada.

Ela empalideceu, mas tentou manter a postura altiva.

— Você está cometendo um erro, Damián. Eu conheço seus segredos. Posso destruí-lo.

Minha risada ecoou pela sala, gélida.

— Meus segredos? — Repeti, aproximando-me até que ela precisasse inclinar a cabeça para me encarar. — Margot, você não tem ideia de quem está enfrentando. Você é apenas uma sombra perto de mim. Se tentar alguma coisa, farei questão de apagar até mesmo a memória do seu nome.

Ela recuou, finalmente mostrando o medo que sempre escondeu por trás de sua arrogância. O poder que ela pensava ter estava ruindo diante da minha determinação.

— Você não faria isso... — sussurrou, mas sua voz tremia.

Inclinei-me novamente, sussurrando ao ouvido dela, meu sotaque carregado e cada palavra pronunciada como uma sentença.

— Tente. E você descobrirá do que sou capaz.

Sem esperar resposta, virei-me e subi as escadas, ignorando os gritos de Margot enquanto ela perdia o controle. Ordenei aos funcionários que preparassem minhas malas. Não havia mais nada que me prendesse ali. Ao sair pela porta principal, deixei para trás não apenas uma mansão, mas anos de falsas aparências e amarras que não me pertenciam.

A noite estava fria, mas havia algo libertador no ar. Pela primeira vez em muito tempo, eu era dono do meu destino novamente. E nada, nem Margot, nem os Moreau, nem qualquer outro obstáculo, iria impedir isso.

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Comments

Iara Ruara

Iara Ruara

ahah, meu querido, vc acabou de soltar um demônio, mulher que ama, quando é rejeitada, faz da sua vida um inferno, é sinceramente eu nem julgo a margo, eles deviam ter feito um contrato de 1 ano no máximo 2 já que foi casamento por negócio, ambos deram mole, é agora a Sofia sairá como errada, na vdd ela errou, traiu o Lian, foi fraca, mas errar é humano, cometer o erro novamente que é burrice, tomara que ela fale a vdd é termine com ele, já iludiu ele demais.

2024-12-13

64

Gracielle Guilhermina

Gracielle Guilhermina

Damián poderia ter pensando antes de se casar.esperamos q vc faça tudo por q à Sophia e Noah corre risco,abrir mão desse casamento bom não era pra ter acontecido,

2025-02-24

0

Krystyna emilia

Krystyna emilia

Até que em fim acordou, tomou uma decisão sábia, pode buscar o que seu coração ❤️ procura./Drool//Facepalm//Bye-Bye//Bye-Bye/

2025-02-24

0

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