Narração: Sophie
O ar no quarto parecia mais pesado do que nunca. A presença de Damián dominava o espaço, e o olhar dele queimava, perfurando cada tentativa minha de esconder o que realmente estava acontecendo. Eu cruzei os braços, mantendo-me firme, mas por dentro... meu coração estava em uma batalha caótica.
Ele deu um passo na minha direção, a mandíbula rígida.
— Vamos, ma belle, não me faça repetir. Quem era a criança?
Respirei fundo, buscando a força que eu sabia que teria que usar.
— Já disse, Damián. É o filho da minha tia. Ela adotou uma criança recentemente, e ele não estava se sentindo bem.
Os olhos dele se estreitaram, como se pudesse desmontar minha mentira com apenas um olhar.
— Mente para outro. Ta gueule (cale a boca) com essas histórias sem sentido! — A voz dele era baixa, perigosa. — Eu sei que sua tia não tem filhos. Uma mulher velha, viúva, que mal sai de casa vai adotar uma criança? Acha que sou idiota, Sophie?
Eu segurei o fôlego, tentando não transparecer o pânico que começava a crescer dentro de mim.
— Você não sabe tudo sobre mim, Damián. Ela não comentou isso com ninguém. Foi uma decisão recente.
Ele riu, mas o som estava carregado de descrença.
— Interessante. Très intéressant. E você acha que essa historinha vai colar? Porque, para mim, parece mais um segredo sujo que você está tentando esconder.
A raiva subiu à tona antes que eu pudesse controlar.
— Por que isso importa tanto para você? por que? Eu não sou nada sua, Damián! Você não tem o direito de aparecer aqui e fazer esse tipo de interrogatório!
— Merde! — Ele deu um passo mais próximo, a pouca distância entre nós desaparecendo. — Eu sempre tenho o direito quando algo não bate. Você mentiu. Está escondendo algo, Sophie. E se eu descobrir que essa criança é...
Parei ele ali. Minha respiração estava acelerada, e eu precisava manter o controle.
— Para com isso. Você não tem ideia do que está insinuando.
Ele inclinou a cabeça, o olhar tão intenso que fez minha pele formigar.
— Ah, mas eu vou descobrir, Ma fille(minha garota). Vou descobrir exatamente o que você está escondendo. Não há segredos que possam ficar enterrados para sempre.
A ameaça implícita nas palavras dele era clara, mas eu me recusei a recuar.
— Faça o que quiser, mas eu já disse a verdade.
Ele me analisou por mais alguns segundos, como se procurasse qualquer rachadura na minha armadura. Então, sua expressão mudou, ficando mais suave, mas de uma maneira que não era reconfortante. Era algo mais possessivo, perigoso.
— Você pode fingir o quanto quiser, Ma fille, mas eu sei que há algo mais.
Antes que eu pudesse responder, ele estendeu a mão e roçou meus cabelos para trás, seu toque inesperadamente gentil, mas cheio de controle.
— Pare com isso. — Minha voz saiu firme, mas fraca ao mesmo tempo.
— Por que está tão tensa? — Ele murmurou, sua voz baixa, mas carregada. — Está com medo de mim ou da verdade?
Eu recuei um passo, tentando manter a distância entre nós.
— Vá embora, Damián. Isso não vai levar a nada.
Ele não se moveu.
— Eu não vou a lugar nenhum até que você seja honesta comigo.
— Eu já fui. — Minha voz saiu trêmula, mas eu endureci o tom. — E agora, você precisa ir.
Ele riu de novo, dessa vez de forma mais sombria.
— Você acha que pode me mandar embora, mon ange? — Ele inclinou-se para perto, os olhos presos nos meus. — Não sou tão fácil de dispensar.
Minha respiração ficou presa, e meu corpo inteiro estava em alerta. Mas eu sabia que ceder não era uma opção.
— Então fique aqui, Damián. Fique e descubra o que quiser. Mas não ache que pode me intimidar.
Ele me encarou por um longo momento antes de se afastar, mas não o suficiente para me fazer relaxar.
— Eu vou descobrir, Sophie. E quando eu descobrir... espero que você esteja preparada para as consequências.
Com isso, ele se virou e saiu do quarto, mas não antes de me lançar mais um olhar que fez meu coração pesar. A porta se fechou, e eu caí no sofá, exausta.
Eu sabia que a guerra só tinha começado.
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Assim que a porta bateu, deixando um silêncio ensurdecedor no quarto, meu corpo cedeu. As mãos tremiam enquanto eu tentava processar o que tinha acabado de acontecer. Damián estava desconfiado, e eu sabia que ele não descansaria até encontrar as respostas que queria.
Peguei o celular, desesperada por ouvir a voz de Noah. Disquei o número de minha tia rapidamente, andando de um lado para o outro no quarto. Ela atendeu no terceiro toque, sua voz carregada de preocupação.
— Sophie, querida, está tudo bem?
— Como ele está? — Perguntei, sem rodeios. Meu coração acelerava com a antecipação.
Ela suspirou do outro lado da linha.
— Ele está melhor. Depois que desligamos, dei a ele o chá e o coloquei para dormir. A febre baixou, mas ele está muito quieto hoje.
Meu peito apertou ao ouvir aquilo.
— Quieto? Ele disse alguma coisa?
— Disse que sente muito a sua falta. — A voz dela suavizou, mas isso só tornou a culpa mais pesada. — Sophie, ele precisa de você.
Eu passei a mão pelos cabelos, lutando contra a vontade de sair correndo e abandonar tudo.
— Eu sei, tia. Eu sei. Eu... — Minha voz falhou, e precisei me recompor antes de continuar. — Eu vou voltar assim que puder. Não posso deixá-lo assim por muito mais tempo.
— Sophie... — Ela hesitou, e eu podia sentir a tensão no ar. — Você está bem? Desde a última ligação, pareceu tão tensa.
Fechei os olhos, sentindo o peso de tudo cair sobre mim de uma vez.
— Não sei, tia. Ele... ele está quase descobrindo.
— Ele? — Ela parecia confusa por um momento antes de entender. — Está falando de Damián, não está?
— Sim. Ele ouviu Noah me chamando de ‘mamãe’. — Minha voz saiu em um sussurro, como se confessar aquilo tornasse tudo mais real. — E agora está me pressionando. Ele sabe que estou ocultando.
— Sophie... o que você vai fazer?
Passei a mão pelo rosto, tentando me manter calma.
— Não sei. Ele é... implacável, tia. Não vai desistir até descobrir tudo.
— Então talvez seja hora de contar a verdade.
Minha cabeça girou com a sugestão, e uma sensação de pânico me tomou.
— Não! Eu não posso fazer isso. Não posso expor Noah a ele. Damián não é um homem confiável. Ele destruiria qualquer paz que nós temos.
— Sophie, você sabe que isso não vai ficar escondido para sempre.
— Eu sei. — Minha voz saiu trêmula. — Mas eu preciso de mais tempo. Não posso deixar que ele descubra agora.
Houve um momento de silêncio, apenas a respiração suave dela do outro lado da linha.
— Sophie, qualquer que seja sua decisão, você precisa ser forte. Pense no que é melhor para seu filho.
— Eu sempre penso, tia. Tudo o que faço é por ele.
A ligação terminou, mas a tensão permaneceu. Sentada no sofá, olhei para o celular na mão, o rosto de Noah surgindo em minha mente.
Mas também o segredo que poderia mudar tudo.
Narração: Damián
O som grave da música preenchia a boate enquanto eu entrava, ainda com a raiva pulsando em minhas veias. As luzes vermelhas e azuis cortavam a escuridão como lâminas, refletindo nos olhares predatórios das pessoas ao redor. Meu refúgio, meu território.
Mas hoje, nem a atmosfera opressiva conseguia apagar o que martelava na minha cabeça. O que Sophie estava escondendo? E por quê? Mamãe. Aquela palavra não saía da minha mente.
— Senhor Castelli. — Uma voz me chamou ao pé da escada que levava ao meu escritório privado, interrompendo meus pensamentos. Marc estava parado ali, tenso. — Eles estão aqui.
Assenti, passando por ele.
— Que comecem as apresentações.
Meu escritório era um contraste gritante com o caos lá embaixo. Escuro, decorado com móveis de couro preto e detalhes dourados. No centro, uma mesa comprida onde dois homens esperavam. Romanov, um traficante de armas russo que adorava testar minha paciência, e Enzo, um italiano que achava que podia negociar sem mostrar respeito.
— Senhores. — Minha voz ecoou pelo espaço enquanto me aproximava. — Espero que não estejam aqui para perder meu tempo.
Romanov riu, mas não era um som amigável.
— Sempre direto ao ponto, Damián. É por isso que gosto de você.
— O sentimento não é mútuo — retruquei, puxando uma cadeira e sentando à cabeceira da mesa. — Agora, falem.
Romanov foi o primeiro a abrir a boca, falando sobre rotas, carregamentos, e acordos que exigiam minha aprovação. Eu ouvia, mas a irritação ainda latejava sob a superfície. O que deveria ser uma simples reunião começava a se estender.
Foi então que percebi algo. Um movimento no canto do meu campo de visão, refletido no vidro do bar ao lado.
— Enzo. — Minha voz cortou a conversa. Ele congelou. — Quem está com você?
Ele tentou disfarçar, mas seu nervosismo entregou tudo.
— Apenas segurança. Nada com que se preocupar.
Levantei-me devagar, os olhos fixos nele.
— Você trouxe mais alguém para a minha boate sem me avisar?
Antes que ele pudesse responder, o estrondo de uma explosão abafada ecoou do andar inferior. Minha mente entrou em alerta total.
— Marc! — gritei, sacando minha arma do coldre no mesmo instante.
Marc apareceu na porta, com o rosto sombrio.
— Temos companhia, senhor. Entraram pelos fundos.
— Romanov, você trouxe esses idiotas aqui? — rosnei, apontando para ele.
— Não são meus homens! — ele retrucou, mas eu sabia reconhecer uma mentira.
Sem mais palavras, empurrei a mesa, derrubando-o junto com Enzo.
— Marc, proteja o perímetro. Quero saber quem está atacando e por quê.
Desci as escadas com rapidez, a arma firme na minha mão. A boate, antes repleta de luz e música, agora era caos. O som de tiros ecoava enquanto seguranças tentavam conter os invasores.
— Quem diabos teve a coragem de entrar no meu território? — murmurei, passando pelos corpos de homens que jaziam no chão.
Do outro lado do salão, um grupo de homens encapuzados avançava, suas armas disparando sem piedade.
Um deles me viu e apontou sua arma, mas eu fui mais rápido. Dois disparos no peito e ele caiu.
— Encurralem-nos! — gritei para meus homens, gesticulando para que cercassem os invasores.
Um deles tentou se esconder atrás do bar, mas Marc o pegou, derrubando-o com um golpe certeiro.
— Romanov! — gritei para ele, que havia descido em meio ao caos. — Se isso foi armado por você, vai sair daqui em pedaços.
— Eu já disse que não é coisa minha! — ele berrou, disparando contra outro invasor.
O som ensurdecedor dos tiros misturava-se com os gritos, mas minha mente estava clara. Avancei em direção ao líder do grupo, que se destacava no meio da confusão, gritando ordens para os demais.
Quando ele me viu, tentou correr, mas eu o alcancei antes que pudesse escapar. Segurei-o pela gola e o empurrei contra a parede, pressionando minha arma contra sua têmpora.
— Quem mandou você aqui? — exigi, meu tom frio como gelo.
Ele riu, cuspindo sangue no chão.
— Você acha que tem controle, Castelli? Seu tempo está acabando.
Antes que pudesse dizer mais, senti uma dor aguda atravessar meu ombro esquerdo. Um dos homens ainda vivo havia disparado. Não hesitei, virei-me e atirei, derrubando-o.
— Veremos quem acaba primeiro. — Disparei contra o líder sem hesitar, encerrando a conversa.
Mesmo com a dor lancinante, mantive a postura firme. O silêncio tomou conta do lugar. Meu olhar passou pelos restos do caos, pelos homens que caíram e os sobreviventes que agora olhavam para mim.
— Limpem essa bagunça — ordenei, guardando minha arma.
Marc se aproximou, preocupado.
— Você está ferido, senhor.
— Não é nada — menti, ignorando o sangue que escorria pelo meu braço. — Cuide disso.
Peguei as chaves do carro e dirigi pela cidade, o ombro latejando e o volante manchado de sangue. Minha mente estava fixa em um destino.
Quando cheguei ao hotel de Sophie, a madrugada já havia caído sobre nós. Bati na porta com força, quase caindo.
Ela abriu, os olhos arregalados ao me ver. Estava de pijama, o cabelo solto, e o rosto se transformou em horror.
— Damián! O que aconteceu? — Ela correu para me segurar, as mãos tremendo enquanto tocavam meu rosto.
— Precisava te ver, Ma fille(minha garota)— murmurei, forçando um sorriso enquanto meu corpo finalmente cedia à dor.
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Cacau
gente não entendo a mulher bem sucedida cria o filho que ele mesmo renegou é só largar, é meu filho e ponto. somente meu não tem pai foi abandonado, ele que lute porque por meios legais ele não toma essa criança.
2024-11-27
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Neuza Lucia
ele renegou sim mesmo com dinheiro ele tinha corrido atrás pra saber a verdade ele não quis saber acusou ela de golpista nada que ele está fazendo está certo sem direito e sem razão e ainda mais casado idiota sim cretino cafajeste babaca nojento escroto mesmo que foi ela que se entregou ela foi honesta ele não agora que o que achou bom quando ela foi embora
2025-02-23
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Carmem Lùcia Pimenta
JÁ ERA CERTO IR ATRÁS DELA,QIE SE CASO MORRECE,MORRERIA COM ELA,FIQUEI ATÉ MENOS RAIVA DELE AGORA KKKKKK,ALGO MAIS SENSÍVEL PARTE DELE, É COMO RECONHECESSE SEUS ERROS E ASSUMISSE SEU AMOR 💘
2025-02-28
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