CAPÍTULO 8

Narração: Damian

A manhã começou como tantas outras na mansão Castelli, mas com um peso que eu não conseguia identificar. Margot descia as escadas com elegância, impecável em seu vestido de grife, enquanto eu ajustava os botões da minha camisa preta.

— Pronta? — Perguntei, minha voz carregando um toque de impaciência.

— Sempre, querido. — Ela respondeu, com um sorriso que não alcançava os olhos.

Margot era tudo o que alguém poderia esperar de uma esposa no meu mundo: bonita, refinada, e estrategicamente útil. Mas havia algo de insosso na nossa relação. Mesmo assim, eu a acompanhava até o carro, mantendo a fachada de perfeição que era exigida de nós.

No caminho para a empresa, ela comentou sobre o jantar que planejava para a noite com a família dela.

— Espero que você não esteja atolado com o novo projeto. Meu pai vai querer discutir alguns detalhes da empresa.

— Claro. — Respondi, seco.

— Damian... você nem parece animado. — Ela disse, lançando-me um olhar de advertência.

— Estou animado o suficiente para lidar com o que importa, chérie.

Ela revirou os olhos e desviou a atenção para o celular.

Assim que cheguei ao escritório, minha secretária já esperava com uma pilha de papéis e relatórios para minha assinatura. O ambiente era exatamente como eu queria: minimalista, moderno, funcional. Meu refúgio do caos exterior.

Mal tinha começado a revisar os documentos quando a secretária entrou com passos rápidos.

— Senhor Castelli, os arquitetos do Canadá acabaram de chegar.

— Mande-os entrar.

Levantei-me e ajeitei o terno, pronto para encarar a reunião. Quando os dois entraram, meu olhar foi direto para a mulher que caminhava ao lado de um homem de cabelos castanhos. Meu mundo parou.

Sophie.

Não era a mesma Sophie que eu havia conhecido. Ela estava mais madura, confiante, como se carregasse anos de aprendizado. Os olhos dela, antes tão transparentes, agora eram barreiras impenetráveis.

— Senhor Castelli. — Ela começou, estendendo a mão com firmeza.

Por um momento, eu não respondi, perdido na visão daquela mulher que, cinco anos atrás, havia me desafiado como nenhuma outra. Finalmente, segurei sua mão, minha voz firme:

— Senhorita...

Ela me cortou, fria.

— Sophie Duval, arquiteta-chefe. Este é Liam Beaumont, meu colega.

Engoli a surpresa, mantendo meu exterior impenetrável.

— Seja bem-vinda, senhorita Duval. — Falei com um leve toque de sarcasmo no tom. — Vamos direto ao ponto.

Narração: Sophie

Quando vi Damian, meu coração quase disparou de raiva e algo mais. Ele estava exatamente como eu me lembrava: imponente, perigoso, um homem que parecia controlar o ambiente só com a presença. Mas eu precisava ser profissional. Ele não era nada além do sócio do meu chefe agora, e eu precisava me lembrar disso.

Apertar sua mão foi como tocar uma chama, mas mantive meu rosto impassível.

— Vamos direto ao ponto. — Ele disse, como se quisesse me testar.

Na sala de reuniões, ele apresentou o projeto. Eu ouvi cada palavra, analisando as plantas e detalhes técnicos que surgiam na tela. Liam fazia algumas perguntas, mas eu sabia que o olhar de Damian estava fixo em mim.

— Senhorita Duval, o que acha dessa proposta inicial? — Ele perguntou, finalmente, com um sorriso que parecia um desafio.

Olhei diretamente para ele, recusando-me a recuar.

— Eu acho que o conceito é sólido, mas há falhas na logística do cronograma. Se permitirem, eu posso propor ajustes que otimizem os prazos.

— Très bien. — Ele disse, com um sorriso enviesado. — Estou curioso para ver sua solução, mademoiselle.

Quando a reunião terminou, me tranquei no banheiro, ofegante. Meus nervos estavam à flor da pele, e minha mente girava com perguntas. O que eu estava fazendo ali? Será que eu conseguiria passar por isso?

Olhei para o espelho e respirei fundo.

— Você é forte, Sophie. Não vai deixar ele te afetar. — Murmurei para mim mesma, endireitando os ombros.

Quando saí, encontrei Liam me esperando no corredor.

— Você foi incrível lá dentro. — Ele disse, sorrindo.

— Obrigada, Liam. Vamos voltar para o hotel.

Narração: Damian

Após a reunião, voltei para meu escritório, mas minha mente estava longe.

— Senhor Castelli. — Um funcionário entrou, hesitante. — Os arquitetos já saíram.

Respirei fundo, lutando para manter a compostura. Ela havia ido embora, mas aquela sensação de inquietação não me deixava. Antes que pudesse me afundar mais nos pensamentos, Margot entrou no escritório.

— Damian, espero que esteja tudo pronto para esta noite.

— Claro. Está tudo sob controle.

— Às vezes parece que você está a milhas daqui. — Ela disse, cruzando os braços.

— Não se preocupe, chérie. Estou onde preciso estar.

Ela me lançou um olhar suspeito, mas não insistiu.

Narração: Sophie

No hotel, meu quarto parecia apertado, sufocante. Não conseguia parar de pensar em Damian, naquela reunião. Como o destino havia sido cruel de nos colocar frente a frente de novo?

Peguei o telefone e liguei para minha tia.

— Sophie, querida! Como estão as coisas? — Ela perguntou, animada.

— Um pouco... intensas. Como está o Noah?

— Ele está bem, mas sente sua falta. Vou colocá-lo no telefone.

A voz de Noah veio clara, cheia de alegria:

— Mamãe! Quando você volta?

— Em breve, meu amor. Você está sendo um bom menino para a vovó?

— Estou, mas quero que você volte logo.

Meu coração apertou, mas forcei um sorriso na voz.

— Eu também quero, meu anjo.

Após a ligação, deitei na cama, exausta. Precisava me recompor. Damian não podia ter esse poder sobre mim de novo. Não desta vez.

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O dia começou cedo, mas o peso dele já parecia dobrado antes mesmo de chegarmos à empresa. Liam e eu compartilhávamos o táxi, ele sempre disposto a aliviar o clima com sua energia calorosa.

— Você está muito quieta hoje. Nervosa? — Ele perguntou, seus olhos brilhando de curiosidade.

— Não é nervosismo. Acho que é só cansaço. — Respondi, olhando pela janela.

— Sophie, você é a pessoa mais preparada para isso. Qualquer um que duvidar do seu talento vai se arrepender em segundos. — Ele disse, sorrindo e tocando de leve minha mão.

— Obrigada. Espero que esteja certo.

Ele sorriu ainda mais, inclinando a cabeça de forma brincalhona.

— Estou sempre certo. Além disso, você vai esmagar qualquer obstáculo que vier pela frente. Inclusive aquele "senhor arrogante".

Ri, apesar do nó no estômago que o comentário trouxe.

Quando chegamos à empresa, respirei fundo antes de entrar no prédio. A atmosfera era densa, cheia de pressões invisíveis. Entramos na sala reservada para a equipe, um espaço amplo, moderno, com telas enormes e documentos espalhados pela mesa.

— Certo, vamos começar. — Disse, colocando meu laptop na mesa e começando a analisar os detalhes do projeto.

— Essa parte aqui sobre os materiais... — Liam apontou para um trecho das especificações. — Eles estão insistindo em algo que não faz sentido para o clima do local.

— Exatamente. É um erro básico. Vamos precisar revisar toda essa seção e apresentar algo mais sustentável.

Liam acenou, enquanto eu digitava notas no computador. Ele se inclinou sobre a mesa para pegar um relatório, o rosto próximo ao meu. Eu sabia que não era intencional, mas o movimento foi notado pela pessoa que acabava de entrar na sala.

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