CAPÍTULO 6

Narração: Damián

A madrugada era minha companheira habitual, mas naquela noite, ela parecia insuportavelmente longa. Depois de deixar Margot em sua casa, voltei ao meu apartamento no coração da cidade. Era espaçoso, luxuoso, com paredes de vidro que ofereciam uma vista privilegiada da metrópole. Mas tudo aquilo parecia vazio.

Eu andava de um lado para o outro, o eco dos meus passos preenchendo o silêncio. Peguei um copo de cristal e despejei uma dose generosa de uísque. O líquido dourado desceu queimando pela garganta, mas não conseguiu apagar os pensamentos.

Sophie. O nome dela ecoava na minha cabeça como uma maldita canção que não saía do repeat.

Finalmente, desisti de tentar ignorar o incômodo. Peguei meu celular e disquei para Marc.

— Boa noite, chefe. Algum problema?

— Preciso que descubra algo para mim, Marc. — Minha voz era firme, e o francês deslizou entre as palavras como sempre fazia quando eu estava sério.

— Claro. O que devo procurar?

— Uma garota. Sophie. Quero saber quem ela é, onde mora, com quem vive... tout. Não poupe esforços.

Houve uma pausa do outro lado da linha, mas Marc sabia melhor do que questionar minhas ordens.

— Entendido. Algo mais?

— Não. Me mantenha informado. Bonne nuit.

Desliguei e encarei o copo vazio em minha mão antes de jogá-lo sobre a mesa de mármore. O som do cristal contra a pedra era um reflexo perfeito da minha inquietação.

Por que, diabos, aquela mulher estava me afetando tanto?

Narração: Sophie

Uma semana depois, tudo parecia surreal. A vida que conhecíamos ficou para trás, junto com a cidade que um dia foi nosso lar.

Tia Clara havia vendido a casa, os móveis, tudo que acumulou em uma vida inteira. E agora, aqui estávamos nós, embarcando em um avião com destino ao Canadá.

Olhei pela janela enquanto o avião decolava, as luzes da cidade se tornando pequenos pontos no horizonte. Era como se estivesse deixando uma parte de mim para trás, uma parte que talvez nunca mais encontrasse.

— Está pronta para essa nova vida? — ela perguntou, sua voz doce e encorajadora.

Respirei fundo e olhei para ela.

— Eu não sei, tia. Mas acho que sim.

Ela apertou minha mão, oferecendo um sorriso caloroso.

— Vamos ficar bem, querida. Você vai estudar, construir seu futuro. Esse bebê vai ter uma mãe forte e determinada.

As palavras dela me deram forças. Olhei para a pequena mala de mão onde guardei todos os meus documentos e uma cópia da carta de aceitação da faculdade. Era a prova de que, apesar de tudo, eu ainda tinha algo pelo que lutar.

Enquanto o avião cruzava as nuvens, fechei os olhos e fiz uma promessa silenciosa: de que eu daria o meu melhor, por mim e pelo meu filho.

Narração: Damian

A música alta da boate e o barulho das conversas abafavam qualquer pensamento que tentasse emergir. Estava cercado por sócios e parceiros de negócios, homens que entendiam o que era comandar um império no limite entre o legal e o ilegal.

O uísque fluía livremente, e eu ouvia as conversas sem realmente prestar atenção, até que Marc apareceu ao meu lado.

— Chefe, tenho o que você pediu.

Sinalizei para que ele continuasse enquanto tomava outro gole da bebida.

— O nome dela é Sophie Duval. Perdeu os pais ainda jovem, foi criada pela tia, Clara Duval. Elas moravam em uma casa modesta na cidade, mas venderam tudo há alguns dias.

Meu interesse despertou, mas mantive a expressão neutra.

— E onde estão agora?

— Ainda não tenho esta informação.

Deixei o copo sobre a mesa com um movimento controlado.

— Interessante.

Marc me observava, esperando instruções.

— Isso é tudo?

— Sim, chefe. Elas desapareceram sem deixar muitos rastros.

Assenti lentamente, dispensando-o com um gesto.

Talvez fosse melhor assim. Longe de mim, longe dos problemas que inevitavelmente surgiriam se ela continuasse perto.

Mas outra parte, aquela que eu odiava admitir existir, se incomodava. Sophie Duval. A mulher que ousou bagunçar minha vida.

Respirei fundo, tentando afastar os pensamentos e focar nos negócios.

Sentimentos são fraqueza, Castelli. Você sabe disso.

Narração: Sophie

Cinco meses se passaram. Quem diria que minha vida tomaria um rumo tão diferente? Aqui, no Canadá, eu tinha encontrado um novo começo. Meu filho crescia dentro de mim, e minha barriga já redonda era um lembrete constante de que eu não estava mais sozinha.

Os dias eram ocupados com aulas e projetos, a faculdade de Arquitetura era tudo o que eu sempre sonhei, mas o que realmente fazia tudo mais suportável era o apoio das pessoas que conheci. Um deles, em especial, havia se tornado um amigo muito próximo.

— Sophie! — Liam chamou do outro lado da cafeteria da universidade, acenando com um sorriso confiante. Ele era alto, com cabelos castanhos bagunçados e olhos verdes brilhantes. Um charme natural que fazia qualquer um gostar dele instantaneamente.

— Ei, Liam. — Sorri de volta, sentando na mesa ao lado dele.

— Como está a futura arquiteta hoje? E o bebê? — Ele perguntou, apontando para minha barriga enquanto mordia um pedaço de croissant.

— Estamos bem. Cansados, mas bem. — Respondi, rindo.

— Você devia descansar mais. — Ele se inclinou para frente, seu tom genuinamente preocupado. — Não quero que você exagere.

— Eu estou bem, de verdade. Além disso, tenho que terminar aquele projeto.

— O projeto pode esperar. — Ele piscou. — Ah, e antes que eu esqueça, meu pai quer conhecê-la. Eu mencionei sua ideia para o novo centro cultural, e ele adorou.

Meus olhos se arregalaram.

— Você falou do meu projeto para o seu pai?

— Claro. Ele é o dono da maior construtora da cidade, Sophie. Você precisa de contatos, e eu quero ajudar.

Liam Beaumont

— Liam, você é incrível, sabia?

Ele riu, balançando a cabeça.

— Só faço minha parte.

Narração: Sophie – em casa

O dia passou voando, e quando voltei para casa, tia Clara estava no quarto do bebê, com várias caixas abertas ao seu redor.

— Está pronta para começar? — Ela perguntou, segurando um conjunto de lençóis azul-claro com desenhos de ursinhos.

— Claro! — Respondi, animada.

Enquanto dobrávamos roupas e arrumávamos os pequenos móveis que compramos, senti um calor no peito. O quartinho do bebê começava a tomar forma: o berço branco estava montado, um pequeno guarda-roupa cheio de roupinhas organizadas por cores, e uma poltrona confortável ao lado da janela.

— Ele vai ser tão amado, tia. — Falei, com a voz embargada.

Clara colocou a mão no meu ombro e me abraçou de lado.

— Ele já é. E você vai ser uma mãe maravilhosa, Sophie.

Passei a mão pela minha barriga, sentindo o leve movimento dele.

— Espero que sim. Quero que ele tenha tudo o que eu não tive.

— Ele vai. Porque você está fazendo isso acontecer.

Narração: Damian

O dia do meu casamento havia finalmente chegado. A mansão Castelli estava decorada com a sofisticação que Margot exigia: flores brancas por toda parte, cristais refletindo as luzes, mesas dispostas em perfeição. Mas eu não via mais do que os detalhes básicos.

— Está nervoso? — Margot perguntou, ajustando o véu em frente ao espelho.

Margot Moreau

Ela estava linda, como sempre. Seu vestido era impecável, sua postura perfeita.

— Eu? Jamais, ma chère. — Respondi, colocando as abotoaduras.

Ela riu, virando-se para me encarar.

— Espero que não. Afinal, somos um casal de poder.

— Claro. E poder exige controle absoluto. — Completei, oferecendo meu braço para acompanhá-la ao salão principal.

No caminho, encontrei o pai dela, Georges Moreau, um homem que comandava o ramo imobiliário com punho de ferro.

— Castelli, precisamos discutir os detalhes finais da nova empresa. — Georges era direto e prático.

— Claro. Esta fusão será lucrativa para ambos, monsieur. — Respondi, mantendo o tom calmo e autoritário.

Conversamos sobre a abertura de uma nova empresa de construção e arquitetura, um negócio que fortaleceria nossas alianças. Georges confiava em mim, e isso era essencial para o sucesso.

Horas depois, a cerimônia começou. Minha noiva entrou ao som de violinos, sua beleza atraindo os olhares admirados de todos os presentes. Quando ela parou ao meu lado, o padre iniciou as palavras que selariam nossa união.

Minutos depois, estávamos oficialmente casados.

Enquanto o salão enchia de aplausos e felicitações, minha mente vagou por um momento.

Sophie.

Eu não buscara mais notícias. Era melhor assim. Ela não importava mais, na verdade, nunca importou.

Pelo menos era o que eu dizia a mim mesmo.

Mas, lá no fundo, uma parte de mim sabia a verdade. Ela me afetava de um jeito que ninguém jamais havia feito. E isso me irritava profundamente. Afinal, sentimentos eram fraquezas, e eu nunca poderia me dar ao luxo de ser fraco.

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Comments

Danielle Pereira

Danielle Pereira

sinceramente queria que ela casse com liam já que outro vai casar com outra não é justo depois de tudo isso ficar com ele de novo muito hipocrisia

2024-11-17

82

Rarissa Passos Dos Anjos

Rarissa Passos Dos Anjos

gente sobre o casamento forçado,na máfia é normal e ser tivesse assumido os sentimentos e lutado por ela e contra o conselho eles tavam juntos.

2025-03-01

0

Marly G Vieira

Marly G Vieira

acho difícil acusar ele já que ela se entregou por livre espontânea vontade ele fez vasectomia como acreditar que o filho era dele ambos tiveram culpa ela mais que ele .

2024-12-22

1

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