CAPÍTULO 5

Narração: Sophie

— Você está grávida, Sophie.

O mundo ao meu redor parou. Minha cabeça girava, e eu não sabia se era o choque ou o peso da informação.

— G-grávida? — murmurei, como se a palavra não fizesse sentido.

Clara engoliu em seco, igualmente surpresa.

— Mas... isso não pode ser — continuei, a voz quase inaudível.

— É sim. Está no início, cerca de 6 ou 7 semanas.

Meu olhar cruzou com o da minha tia, que parecia tão assustada quanto eu, mas ainda assim tentou me confortar.

— Vamos resolver isso, querida — disse ela, firme.

De volta à casa, o silêncio foi quebrado apenas pela minha explicação hesitante.

— Foi naquela noite, tia. Quando... quando Henrique me traiu. Eu saí, bebi, e... acabei com um estranho.

Eu estava envergonhada, e esperava uma bronca, mas ao invés disso ela não me julgou. Apenas me abraçou, sua voz cheia de carinho.

— Você não precisa se culpar. Vamos passar por isso juntas.

Eu sabia que não seria fácil, mas pelo menos não estava sozinha.

Narração: Damian

Nova York estava especialmente viva naquela noite, mas eu não tinha tempo para isso. Meu lugar era no meu território: a boate L'ombre Noire.

Cheguei ao escritório com o humor sombrio, pronto para lidar com os problemas do dia. A música abafada ecoava pelas paredes, mas aqui dentro, só havia o som de Marc relatando os atrasos de Valente e um cliente difícil.

— Eles estão testando minha paciência, Marc — resmunguei, acendendo um charuto. — Ligue para os checos novamente. Diga que, se não resolverem isso esta semana, vou até lá pessoalmente.

— Sim, senhor — respondeu ele, antes de hesitar. — Ah, Damián... há duas mulheres que pediram para falar com você.

— Duas mulheres? Interessante. Quem são?

— Elas se recusaram a dizer, mas parecem... sérias.

Levantei uma sobrancelha, intrigado.

— Mande entrar. Estou curioso.

Quando a porta se abriu, o impacto foi imediato. Era ela. Sophie. A mulher que eu jurava ter esquecido.

Ela parecia diferente. Nervosa, mas determinada. Seus olhos cruzaram os meus, e por um momento, fui transportado de volta àquela noite.

— Sophie. — Meu tom era frio, mas algo no fundo me queimava. — A que devo a honra?

Ela olhou para a mulher mais velha ao seu lado e pediu baixinho:

— Tia, me deixe sozinha com ele.

A senhora hesitou, mas assentiu e saiu, fechando a porta atrás de si.

Sophie se aproximou, e por mais que minha postura fosse rígida, minha mente era um turbilhão.

— Fale — exigi, cruzando os braços, minha voz carregada de tédio forçado.

— Estou grávida — disse ela, de forma hesitante.

Por um segundo, o silêncio preencheu a sala. Mas então, ri. Um riso curto, seco.

— Grávida? Incroyable (Incrível). Você não é a primeira a vir com essa história.

Ela piscou, surpresa pela dureza das minhas palavras.

— Eu não estou mentindo.

— S'il te plaît, Sophie. Não seja ingênua. Mulheres como você sempre têm um plano.

— Mulheres como eu? — Ela deu um passo para trás, magoada.

— Sim. Você acha que pode aparecer aqui, jogar essa bomba e esperar que eu acredite? Merde.

Ela ficou em silêncio por um momento, e então uma lágrima deslizou por seu rosto.

— Não se preocupe. Se depender de mim, você nunca verá essa criança. E nunca verá a mim novamente. Passar bem.

Ela saiu, a porta se fechando com um estrondo.

Narração: Sophie

As palavras dele ecoavam na minha cabeça enquanto eu corria para fora da boate.

Tia Clara me encontrou no carro, preocupada.

— Sophie, o que aconteceu?

— Ele... Ele é um monstro, tia. Disse que eu estava mentindo. Que planejei isso.

Ela segurou minha mão com força.

— Esqueça ele, querida. Nós vamos dar um jeito.

De volta à casa, desabei no sofá, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Não sei o que fazer, tia. Ele é o pai... mas ele me despreza.

Clara me abraçou novamente, sua voz firme.

— Você não precisa dele, Sophie. Tem a mim, e vamos superar isso juntas.

Narração: Damián

O som da porta se fechando reverberou pelo escritório, mas era como se ainda pudesse sentir a presença dela no ar. Sophie. Ela havia saído, mas deixado um rastro de caos em mim.

Eu estava furioso. Com ela. Comigo. Com tudo.

— Merde! — esmurrei a mesa, o som ecoando no ambiente.

Ela havia mexido com algo em mim que eu não reconhecia. Aquela noite deveria ter sido apenas isso: uma noite. Sem consequências, sem vínculos. Filhos? Isso era impossível.

Minha mente voltou ao passado, à decisão de garantir que jamais me tornaria pai. Uma decisão fria, cirúrgica, necessária. Filhos eram fraqueza. Eles amarravam você, tornavam-no vulnerável. No meu mundo, fraqueza era morte. Há dois anos eu havia feito um procedimento para não ter que lidar com esse tipo de problema.

E mesmo assim, ali estava ela. Dizendo estar grávida. E eu... Eu acreditei por um instante.

Meu corpo estava tenso, os pensamentos uma guerra. Sophie e sua ousadia. Seu olhar nervoso, mas firme. E aquela lágrima, que caiu enquanto ela jurava não querer nada de mim.

Antes que pudesse processar mais, ouvi passos na porta.

— Damián?

A voz era suave, mas com uma nota de autoridade. Margot. Minha noiva.

Respirei fundo, ajustando a postura antes de ela entrar.

— Entre, ma chérie.

Ela surgiu, impecável como sempre, seu vestido azul escuro moldando-se ao corpo elegante. Mas seu olhar era de preocupação.

— Está tudo bem? — perguntou, fechando a porta atrás de si.

— Claro. Apenas negócios. — Forcei um sorriso, tentando dissipar a tensão.

Ela se aproximou, observando-me com atenção.

— Não parece só negócios. Você está... distraído.

Margot sempre foi perspicaz. Parte do motivo pelo qual nossa aliança fazia sentido. Ela era esperta e sabia jogar o jogo.

— É apenas um cliente complicado, mon amour. Nada que eu não possa resolver.

Ela estreitou os olhos, claramente não convencida, mas deixou passar.

— Espero que resolva logo. Não quero que nada atrapalhe o jantar com meu pai amanhã.

Assenti, controlando a vontade de dizer algo cortante.

— Não se preocupe. Estarei lá, perfeito como sempre.

Ela sorriu levemente e depositou um beijo no canto dos meus lábios antes de se afastar.

— Vou te esperar no salão. Não demore.

Assim que ela saiu, o sorriso sumiu. Sophie ainda estava em minha mente, e eu odiava isso.

Narração: Sophie

A noite parecia interminável. Eu me revirava na cama, incapaz de encontrar um momento de paz.

Meus pensamentos eram um turbilhão. A bolsa de estudos, o Canadá, meu sonho de cursar Arquitetura... Tudo parecia escapar pelos meus dedos.

— Está acordada, minha menina?

A voz da minha tia soou baixa, mas cheia de carinho. Ela entrou no quarto e sentou-se ao meu lado, puxando-me para um abraço.

— Não consigo dormir, tia. Não paro de pensar em tudo.

— Em tudo o quê?

— Na bolsa. No Canadá. Era o meu sonho, tia. E agora... — Minha voz falhou, e senti as lágrimas voltarem.

Clara segurou meu rosto, forçando-me a olhá-la nos olhos.

— E agora você vai realizar esse sonho.

— Como? Eu estou grávida! Como vou estudar em outro país e cuidar de um bebê?

Ela respirou fundo, séria, mas com um olhar decidido.

— Nós vamos dar um jeito. Eu vou com você, Sophie. Vou te ajudar. Você não está sozinha.

— Tia, eu não posso pedir isso a você...

— Você não pediu. Eu estou oferecendo. Porque é isso que a família faz.

Senti o peso das palavras dela, o amor incondicional que eu sabia que sempre teria.

— Mas e o bebê? Como vou cuidar dele e ainda estudar?

Clara sorriu, enxugando minhas lágrimas.

— Um passo de cada vez. Primeiro, você vai para o Canadá. Vamos dar esse presente a você e a esse bebê. Ele ou ela merece uma mãe feliz e realizada.

Por um momento, a esperança brilhou novamente.

— Você acha mesmo que consigo?

— Eu sei que você consegue.

Ela me abraçou novamente, e pela primeira vez naquela noite, consegui respirar um pouco melhor.

Meu sonho não estava perdido. E, com a tia Clara ao meu lado, talvez houvesse uma maneira de reconstruir tudo.

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Comments

Maia Maia

Maia Maia

Ele fez um tipo de vasequitomia, provavelmente aquele que pode fazer reversão quando quiser. Pelo visto não foi bem feito e desfez sozinho 🤭

2024-12-05

59

Joane Miranda

Joane Miranda

Quando a gente tem um sonho na vida e aparece algo pra impedir,e encontra alguém pra ajudar é ótimo,mas o pai da criança vai se arrepender,pois ela vai se formar,trabalhar e voltar ,pois a tia dela vai ajudar ela dá a volta por cima.

2025-01-06

1

Gedna Feitosa Gedna

Gedna Feitosa Gedna

Não é que ele te despreze, mesmo pq ele nem te conhece. vc que " procurou" por isso, mas ele tbm sabia que vc não estava em seu estado normal psicológico e nem orgânico. Então a culpa é dos dois.

2025-02-13

2

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