Câmera

Will e Cleberson saíram rapidamente do quarto, o ambiente carregado com um peso que parecia aumentar a cada passo. A experiência que acabaram de vivenciar os deixou com uma sensação de urgência — seja lá o que estava manipulando suas mentes, era algo que não estavam preparados para enfrentar sem suporte. Com passos largos, eles correram pelo corredor escuro, iluminados apenas pelas lanternas de mão que tremiam com o movimento.

"Acho melhor nos reagruparmos e sair daqui o quanto antes," disse Cleberson, tentando controlar sua respiração ofegante. Ele sempre fora um homem de lógica e cálculos precisos, mas a situação no orfanato estava além do que ele poderia ter previsto.

Will concordou com um aceno de cabeça. "Vamos alertar os outros e voltar para a base. Precisamos reunir as informações que temos e tentar entender o que está acontecendo aqui antes que alguém se machuque."

Descendo as escadas, o som de seus passos ecoava pelos corredores vazios. Eles finalmente chegaram ao saguão, onde encontraram o resto da equipe — Kath, Leo e Arthur — esperando com expressões sombrias. Todos pareciam ter sentido a mesma presença maligna, e o rosto de Kath, normalmente confiante, estava pálido.

"O que encontraram lá em cima?" perguntou Leo, segurando firmemente sua espingarda.

"Fomos vítimas de uma ilusão," disse Will, olhando para todos. "Algo estava nos fazendo ver um ao outro como monstros. Foi perturbador. E seja lá o que for, é inteligente e tem o poder de manipular nossas mentes."

"Isso explica os sussurros que ouvimos," comentou Kath, trocando um olhar preocupado com o irmão. "Leo e eu ouvimos vozes de crianças pedindo ajuda, mas o som vinha de todas as direções ao mesmo tempo. Algo não está certo neste lugar."

Arthur, que normalmente fazia piadas para aliviar a tensão, estava em silêncio, a expressão mais séria que eles já tinham visto. Ele olhou para os outros antes de finalmente falar. "Concordo com Will e Cleberson. Precisamos sair daqui e analisar tudo com calma. Não temos ideia do que estamos enfrentando."

Com o consenso do grupo, Leo fez um rápido movimento com a mão, sinalizando para que todos seguissem para a saída. O som de passos apressados e respirações tensas enchia o saguão enquanto eles se dirigiam para a porta de entrada do orfanato.

O vento frio da noite os atingiu assim que saíram do prédio, como se a própria escuridão os estivesse expulsando. Eles não olharam para trás. O orfanato parecia ainda mais sinistro à distância, uma sombra ameaçadora contra o céu nublado.

A equipe subiu no carro preto que receberam da Oculta Venatorum, e Cleberson assumiu o volante. Sem perder tempo, ele ligou o motor e acelerou pela estrada sinuosa que levava de volta à base. O silêncio no carro era quebrado apenas pelo som do motor e pela respiração tensa dos ocupantes.

***

Uma hora depois, eles chegaram à base da Oculta Venatorum. Era um edifício discreto, aparentemente um galpão abandonado, mas ao entrar, revelava uma infraestrutura tecnológica impressionante. O lugar era equipado com telas de computador, servidores potentes e equipamentos de vigilância de última geração. Mr. Oculto já estava esperando por eles, sentado na mesma cadeira de sombras que havia usado quando os convocou pela primeira vez.

Ao entrarem na sala de reuniões, Kath foi a primeira a falar. "Encontramos evidências de uma presença paranormal no orfanato. As ilusões eram poderosas, o suficiente para nos fazer atacar uns aos outros. Não estamos preparados para lidar com isso de forma eficiente."

Mr. Oculto inclinou-se para frente, suas feições sombreadas visíveis apenas como um contorno escuro. "Era esperado. Enviei vocês para testar as águas, por assim dizer. Precisávamos saber se o que estamos enfrentando é uma simples manifestação ou algo mais sinistro."

"É mais do que uma manifestação," respondeu Will. "Isso é algo que manipula nossa percepção, distorce nossa realidade. Precisamos de mais informações sobre o histórico do orfanato e qualquer possível evento que possa ter causado essa presença."

Cleberson cruzou os braços, o rosto sério. "Também precisamos de equipamentos especializados, talvez algo que possa bloquear ou minimizar as ilusões. Sem isso, estaremos lutando às cegas."

Mr. Oculto fez um som baixo de assentimento. "Vou providenciar o que precisarem. Enquanto isso, vou reunir o máximo de informações sobre aquele local. Vocês têm uma missão mais difícil pela frente do que imaginavam, mas acredito que podem lidar com isso."

Victor Valentine entrou na sala nesse momento, limpando o sangue de uma pequena ferida na bochecha. Ele parecia ter terminado sua missão solo e ouviu o final da conversa. "Então, o que eu perdi?"

Kath virou-se para ele, ainda abalada pela experiência. "Monstros, ilusões e um orfanato possivelmente amaldiçoado. O de sempre."

Victor sorriu, mostrando um brilho estranho nos olhos. "Parece que a diversão só está começando. Estou dentro."

Mr. Oculto observava com atenção as reações da equipe enquanto explicava a situação. Sua presença sombria deixava o ambiente pesado, mas sua voz metálica continuava firme e clara:

"Entendo a preocupação de vocês em relação às ilusões. O orfanato não é um lugar comum, e a entidade que manipula suas mentes parece estar se fortalecendo a cada dia. Contudo, Victor não poderá se juntar a vocês dessa vez."

Victor soltou um suspiro e abriu um sorriso brincalhão, ajeitando os óculos redondos. "Sabia que tinha algo grande na jogada. Que tipo de encrenca você quer que eu resolva agora, chefão?"

Mr. Oculto cruzou os dedos sobre a mesa, sua voz ecoando pelo escritório. "Recebemos informações de atividades estranhas na Europa relacionadas a um grupo conhecido como 'Culto do Sangue'. São indivíduos profundamente envolvidos em rituais demoníacos e sacrifícios. Não sabemos muito sobre seus objetivos, mas parece que estão preparando algo grande, e preciso de você para investigar isso. Suas habilidades como exorcista serão cruciais para essa missão."

Victor sorriu de canto, claramente animado com o desafio. "Parece interessante. Vou preparar minhas coisas. Se vocês encontrarem algum fantasma aqui, não se esqueçam de tirar uma foto pra mim."

Kath, sentada ao lado de Leo, franziu o cenho e cruzou os braços, ainda relutante em aceitar a ideia. "Mas, senhor, estamos lidando com uma entidade que mexe com nossas cabeças. Sem Victor, podemos acabar todos mortos ou, pior, presos em ilusões para sempre."

Mr. Oculto ergueu uma mão para interrompê-la. "Já pensei nisso, Kath. Para evitar que caiam em mais ilusões, estou providenciando câmeras especiais. Elas foram projetadas para captar a realidade, mesmo sob manipulações mentais. Assim, vocês poderão ver através das mentiras da entidade e manter o foco."

Cleberson soltou uma risada nasal. "Tecnologia enfrentando o sobrenatural... Isso soa como um episódio de ficção científica, mas estou disposto a tentar. Essas câmeras vão ser nossa única garantia de saber o que é real."

Leo assentiu, visivelmente aliviado. "Teremos um recurso a mais para distinguir o que é falso e o que não é. Parece uma abordagem justa."

Mr. Oculto continuou, seu tom agora mais sério. "Além disso, estarei enviando um novo reforço para ajudar vocês. Ele foi recrutado ontem, mas já mostrou um conhecimento extenso sobre a Bíblia e assuntos relacionados a exorcismos e demonologia. Seu nome é Lashy Sakamoto. Acredito que suas habilidades e seu entendimento das escrituras serão extremamente úteis no orfanato, especialmente considerando o tipo de entidade com a qual estão lidando."

Arthur, curioso, ergueu uma sobrancelha. "Alto conhecimento sobre a Bíblia, huh? Um tipo de padre moderno, então? Parece que vai ser interessante ter esse tal de Lashy com a gente."

Kath ainda parecia inquieta, mas sua expressão suavizou um pouco ao saber do reforço. "Se ele conhece sobre demonologia, pode nos ajudar a entender o que estamos enfrentando. Isso é bom, pelo menos."

Mr. Oculto acenou com a cabeça, concordando. "Exato. Lashy chegará em breve. Enquanto isso, recomendo que descansem e se preparem para o retorno ao orfanato. Vocês partirão ao amanhecer. O objetivo principal é coletar informações sobre a entidade e a origem das ilusões. Não façam movimentos precipitados até termos uma noção mais clara do que estamos enfrentando."

Com essa instrução, a reunião foi encerrada. A equipe se levantou, ainda processando as novas informações e se preparando mentalmente para o que estava por vir. Victor deu um último aceno antes de sair para preparar sua viagem à Europa. Os outros seguiram para seus aposentos, sabendo que, em breve, estariam de volta ao orfanato, desta vez com um novo aliado, Lashy Sakamoto, e equipamentos que poderiam fazer toda a diferença na missão.

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