Aquele dia: O leilão e o segredo

DIA DO LEILÃO

Eu nunca gostei de surpresas. Minha vida foi construída em cima do controle. Saber o próximo passo dos outros antes mesmo que eles o fizessem era o que me mantinha à frente. Foi por isso que, quando Demetri mostrou um interesse inusitado no leilão daquela noite, minha curiosidade foi inevitável.

O salão estava lotado, um espetáculo de pessoas buscando algo – poder, prazer, ou simplesmente uma distração. Para mim, era apenas mais um evento previsível, até que o inesperado aconteceu.

Eu vi Demetri, sempre tão calculado, e agora interessado em algo. Sinto que hoje vai ser divertido. Ele nunca demonstrava muito interesse em nada, e aquilo chamou minha atenção. O que poderia ser tão fascinante a ponto de tirá-lo de seu usual desdém? Então, meus olhos a encontraram.

Ela estava no centro do salão, de pé, mas parecia deslocada, como se aquele lugar fosse indigno dela. Sienna.

A visão dela me atingiu como um soco. Seus cabelos estavam levemente bagunçados, como se até mesmo a ordem tentasse falhar ao seu redor. A roupa que vestia era fina, mas parecia lutar para conter o que realmente era – uma combinação de força e fragilidade que me desarmou.

Mas foram os olhos dela que realmente me prenderam. Intensos, grandes, com um brilho que parecia gritar uma história que eu ainda não conhecia. Eles não me encaravam diretamente, mas eu sentia como se soubessem de mim. E sua boca... Ah, aquela boca. Carnuda, convidativa, tão pecaminosa que eu só conseguia imaginar as coisas que ela faria. Coisas que eu faria com ela.

Eu me percebi imerso, incapaz de desviar o olhar. Era como se o mundo ao meu redor tivesse parado. O murmúrio do salão, os olhares furtivos das pessoas, tudo desapareceu. Era só ela. Cada parte de mim gritava para tê-la. Não apenas possuí-la, mas reivindicá-la como algo que me pertencia por direito.

— Senhor? — a voz do anfitrião do leilão cortou meus pensamentos. Percebi que já havia começado, e ela era a próxima.

— 100 milhões. — Minha voz saiu firme, cortante. Não havia espaço para competição.

O silêncio no salão foi instantâneo. Ninguém ousaria desafiar.

Quando o martelo bateu, um alívio misturado com um fervor quase animalesco tomou conta de mim. Ela era minha agora.

Dias atuais

Os dias ao lado de Sienna têm sido um tormento. Não de forma convencional, não como os problemas com os quais estou acostumado. É um tipo de inquietação que me devora por dentro.

Ela é diferente de qualquer outra que já tive. Não se curva facilmente, mas também não desafia diretamente. É um equilíbrio sutil que me intriga e me enfurece ao mesmo tempo. Ela é uma tempestade contida, e eu nunca fui bom em lidar com o que não posso controlar.

Os olhares dela, os movimentos graciosos, até mesmo a maneira como sua voz soa quando fala comigo – tudo nela me puxa, me desestabiliza. Eu nunca me importei com ninguém antes. Não assim.

Essa noite, enquanto ela dorme no quarto ao lado, eu me pego encarando o teto, perdido em pensamentos que nunca deveria ter. Não deveria querer tanto saber o que se passa na mente dela. Não deveria me importar se ela me deseja ou não. Mas me importo. E isso me enfraquece.

Peguei o telefone antes que pudesse pensar demais. A voz do outro lado atendeu após o terceiro toque.

— Zion? O que houve?

— Preciso de um favor. — Minha voz estava firme, mas algo nela parecia vulnerável até para mim.

— Claro. O que você precisa?

Hesitei, o nome dela preso na minha garganta.

— Quero informações sobre alguém. Tudo.

— Quem?

Fechei os olhos por um momento antes de responder.

— Sienna.

Do outro lado, houve um breve silêncio, como se meu pedido o tivesse surpreendido.

— Isso pode levar algum tempo.

— Não demore. Quero cada detalhe, cada segredo, tudo o que ela esconde.

Desliguei o telefone antes que pudesse ouvir qualquer resposta. Coloquei o aparelho na mesa ao lado e me levantei, caminhando até a janela. A noite estava silenciosa, mas dentro de mim, tudo estava em caos.

Ela era minha, sim, mas isso não era o suficiente. Eu precisava entendê-la. Decifrá-la. Saber por que ela tinha esse poder sobre mim. Porque, no fundo, eu sabia que se não a controlasse, ela destruiria tudo o que eu era.

Olhei para a escuridão lá fora e respirei fundo. Ela havia se tornado minha obsessão. E eu não era um homem que aceitava perder.

Não me basta ter seu corpo, seus gemidos, a forma que ela se esfrega em cima de mim. Eu quero mais, preciso de mais dela.

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