Dimitri

A espera parecia interminável. Zion havia saído para buscar algo – chocolate, ele disse, como se isso fosse suficiente para deixar minha mente tranquila enquanto eu permanecia sentada no pequeno café que ele escolhera. Era estranho pensar que alguém como ele se preocupasse com detalhes tão triviais, mas, como sempre, ele era um enigma que me mantinha em alerta constante.

Eu estava distraída, os dedos brincando com a corrente presa à coleira em meu pescoço, quando uma sombra se projetou sobre a mesa.

— Então é verdade — uma voz masculina ecoou, profunda e carregada de emoção contida. Levantei os olhos e meu coração deu um salto.

Demitri.

Ele estava ali, em carne e osso. Vestido impecavelmente, como sempre, com aquele ar de sofisticação que beirava o intimidador. Seus olhos, no entanto, estavam cheios de algo que eu não conseguia identificar – arrependimento, talvez?

— Demitri... — O nome escapou dos meus lábios antes que eu pudesse pensar.

— Eu imaginei que Zion não seria capaz de mantê-la escondida para sempre — ele disse, os olhos se fixando na coleira com o nome gravado. — Mas vê-la assim... não é como eu queria que fosse.

Houve um instante de silêncio desconfortável. Eu não sabia o que dizer. Demitri era o homem que deveria ter me comprado, aquele que prometeu liberdade – uma promessa que nunca se cumpriu. Agora, ali estava ele, de pé diante de mim, olhando para mim como se fosse uma lembrança de sua própria falha.

— Por que você está aqui?— perguntei finalmente, minha voz baixa.

— Eu ouvi rumores— ele respondeu, inclinando-se ligeiramente para mim. — Sobre como ele exibe você. Como você está presa a ele. Eu precisava ver com meus próprios olhos."

— Demitri, isso não muda nada.— Minhas palavras soaram mais duras do que eu pretendia. —Você chegou tarde. Zion... Ele...

— Ele não é o que você merece& Demitri me interrompeu, sua voz firme. — Eu ainda quero cumprir minha promessa. Se você quiser, posso tirá-la daqui. Agora mesmo.

Minha respiração ficou presa. Havia uma sinceridade no olhar dele que fez meu coração vacilar, mas antes que eu pudesse responder, senti uma presença atrás de mim. O ar ficou mais denso.

— Espero não estar interrompendo."

A voz de Zion era fria, cortante como uma lâmina. Ele estava parado ali, uma sacola de papel nas mãos – o chocolate que ele saíra para buscar agora parecia irrelevante diante da tensão no ar. Seus olhos estavam fixos em Demitri, avaliando-o como um predador avalia uma ameaça.

—Demitri — Zion disse, com um sorriso que não alcançou seus olhos. — Quanto tempo. Vejo que ainda não sabe aceitar uma derrota.

— Não estou aqui para você, Zion— Demitri retrucou, sua postura rígida. — Estou aqui por ela.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Zion colocou a sacola sobre a mesa com cuidado exagerado antes de cruzar os braços.

— Ela não vai a lugar algum, e ela não precisa de você.

— Ela pode falar por si mesma, ou isso também foi tirado dela? — Demitri rebateu, os olhos se voltando para mim.

Eu podia sentir o olhar de Zion queimando em minha direção, mas havia algo em Demitri – um eco de esperança que eu não tinha sentido em muito tempo.

—Demitri, eu...— Comecei a falar, mas Zion me interrompeu, sua mão pousando levemente no meu ombro, o toque mais possessivo do que gentil.

— Ela fez sua escolha, mesmo que você se recuse a aceitar. Você perdeu, Demitri. E eu sugiro que aceite isso antes que as coisas fiquem... desagradáveis.

Demitri deu um passo à frente, a raiva evidente em seu rosto. — Se você realmente se importasse com ela, Zion, não a manteria presa. Você a tornaria livre pra escolher o que ela deseja.

— Liberdade é um conceito relativo — Zion respondeu, um sorriso perigoso dançando em seus lábios. — Ela está exatamente onde precisa estar. E, se você ousar interferir novamente, não haverá próxima vez.

Os dois homens estavam frente a frente, a tensão quase palpável. Eu sabia que precisava dizer algo antes que a situação fugisse do controle, mas minhas palavras pareciam presas na garganta.

—Demitri, obrigada por... por tudo. Mas agora não é tão simples.— Minha voz saiu baixa, e eu senti o olhar de ambos os homens em mim, por razões completamente diferentes.

— Isso não acabou, Zion — Demitri murmurou antes de se virar e se afastar, sua silhueta desaparecendo na multidão.

Zion se inclinou sobre a mesa, os olhos cravados em mim. — Você deu ouvidos a ele? Alguma parte de você acreditou que ele poderia te oferecer algo melhor?

Engulo em seco com suas perguntas, abaixando a cabeça enquanto meus olhos ardem. Por que tudo parece tão confuso?

Meu silêncio o deixa irritado, sei disso pois ele aperta a corrente da coleira com força, me enforcando enquanto me puxa para longe daquele lugar, para longe dos olhos daquelas pessoas.

— Já que está confusa deixe-me lembrar você, *meu bem*: você é minha. E só sai do meu lado morta.

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