armadura

O quarto estava mergulhado em penumbra, iluminado apenas pelo suave brilho da luz que vazava da janela entreaberta. Eu estava deitada na cama, tentando controlar minha respiração enquanto o calor das últimas horas ainda queimava em minha pele. Zion estava sentado na poltrona ao lado, os olhos me observando com uma intensidade que sempre me fazia sentir nua, mesmo quando estava coberta.

Ele era como uma tempestade controlada – capaz de destruir, mas com uma precisão que me mantinha fascinada. Havia algo em seus cuidados depois das nossas sessões que me confundia. Ele era possessivo, sim, mas também atencioso de um jeito que parecia impossível de conciliar com o homem que me comprara.

—Você está bem?— A voz dele era grave, baixa, quase gentil, mas havia um tom de autoridade impossível de ignorar.

Assenti lentamente, evitando seu olhar. —Estou bem. — Minha voz saiu mais suave do que eu queria, mas era difícil soar firme com o corpo ainda tremendo.

Ele se levantou e veio até mim, sentando-se ao meu lado na cama. Seus dedos roçaram meu rosto, afastando uma mecha de cabelo da minha testa. O toque era quente, mas firme – um lembrete constante de quem ele era.

—Eu já disse que não gosto quando você esconde seus pensamentos de mim." Ele segurou meu queixo, me obrigando a encará-lo. —O que foi? Algo que fiz te incomodou?—

Zion tinha essa habilidade infalível de parecer vulnerável e perigoso ao mesmo tempo. Eu nunca sabia ao certo como responder sem quebrar alguma barreira invisível que ele colocava entre nós.

—Não... não é isso. — Respirei fundo, tentando organizar as palavras. —Às vezes, eu só... me pergunto quem você realmente é. Por que cuida de mim assim? Por que parece tão...

— Humano? — Ele me interrompeu com um sorriso enviesado, como se minhas palavras fossem uma piada particular. —Você se esquece de que todos carregamos sombras, inclusive eu.

— Mas você não é só sombra, Senhor. Pelo menos, não comigo.

Ele ficou em silêncio por um momento, como se minhas palavras o tivessem desarmado. Então, sua mão deslizou até o meu ombro, apertando-o levemente.

— Talvez você seja a única pessoa capaz de enxergar isso.— Ele falou com uma honestidade que me pegou de surpresa. —Mas não deixe isso te enganar. Eu sou o que sou, e você sabe disso.

Era um aviso. Claro como cristal. Mas, de alguma forma, senti que havia algo mais profundo naquela confissão – uma rachadura na armadura que ele vestia tão bem.

—Não sei se consigo separar o que você é do que eu sinto.— As palavras escaparam antes que eu pudesse contê-las.

Ele me encarou por um longo momento, e então um sorriso lento, enigmático, se formou em seus lábios. — Talvez você não precise.

Zion se levantou e foi até a janela, cruzando os braços enquanto olhava para a cidade lá fora. Eu o observei em silêncio, sentindo que algo havia mudado. Talvez não fosse uma revelação, mas uma faísca de entendimento entre nós – um jogo de poder que oscilava mais do que eu estava pronta para admitir.

Quando ele finalmente se virou, seus olhos estavam novamente controlados, frios como aço. — Descanse. Amanhã será um longo dia.

Eu sabia que ele não me daria respostas tão cedo. Mas, naquele momento, algo em mim decidiu que eu não desistiria de procurá-las.

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