...— Suellen Rivera —...
Saio da cela e dou logo de cara com ela, sorrindo para mim ao me ver. Solto um suspiro. Tenho que ser agradecida a ela por isso, mas por que ela tinha que ser irmã do Ed?
— Que bom que você está bem. Vou te levar para casa.
— Como você sabia que eu estava aqui?
— Você acha que o Edson é só um juiz? — ela pergunta rindo, e eu me lembro do que ele falou na minha casa sobre ser muito além de um juiz. Eu já estava desconfiada de algo, já que ele achou a minha tia naquela clínica.
Entramos no carro dela e seguimos para a minha casa. Descemos juntas, e eu convido ela para entrar. Nós sentamos no sofá, e ela começa a falar.
— Olha, Suellen, sei que a sua vida não é fácil. Você é sozinha, já te disse isso, mas isso não é bom. Eu sei o que é solidão, e quero que sejamos amigas. Quero que você possa contar comigo para o que você precisar, e eu possa fazer o mesmo com você. Quando o Edson me falou que você tinha sido presa, eu fui até a delegacia para saber o que tinha acontecido, e me assustei quando soube que você bateu no preso. Como pode isso?
— Eu deveria era ganhar uma medalha e não ser presa. O cara matou a própria filha. Eu gravei tudo e vou procurar a mãe da menina e entregar a confissão para ela.
— Nossa, parece até o meu pai. — Ela fala, abaixando a cabeça, e eu fico sem entender. — O James e o Edson me livraram da vida que eu tinha, e não era fácil não. Eu tinha um pai, e ao mesmo tempo eu não tinha. Consegue imaginar?
Aceno com a cabeça, mesmo que eu tenha tido bons pais. Eles eram tudo que eu tinha, eram aqueles que cantavam para mim, iam em todos os eventos da escola e muito mais. Eu tive pais presentes, mas sei que nem todos são assim.
— Depois, descobri que ele não era o meu pai verdadeiro, e estava me vendendo para um general.
— Eu tive um general em minha vida. Só não morri porque acredito que não tenha sido a minha hora. Mas posso dizer que ele foi o pior homem com quem eu tive que me deitar. — Ela ergue uma sobrancelha, parecendo não entender. Acho que o Edson não contou a minha história para ela. — Eu fui garota de programa forçada pela minha tia.
Ela arregala os olhos e depois faz uma cara de pena. Não gosto dessa expressão nas pessoas, é como se eu estivesse me fazendo de vítima. Me levanto, pego uma taça, coloco gelo e limão e volto para a sala, já que a minha garrafa de gin ainda está aqui.
— Por que você bebe tanto?
— Porque assim eu não me culpo das coisas que eu já fiz, não me sinto como um lixo. Quando eu bebo, minha mente até viaja. Acho melhor beber do que usar outros tipos de droga. — Encho meu copo e ofereço a ela. Ela nega com a cabeça e me deixa beber.
— O que aconteceu para você ser... tão... assim? — Sua pergunta me faz até rir, pois cada homem que passou na minha vida deixou uma história, uma marca, mas um em especial deixou marcas mais profundas.
— Foram dois anos, e para cada cliente que eu tinha, eu escrevia num diário. Eles estão guardados até hoje. Não leio, mas me faz lembrar de cada coisa que eu passei. Quer saber do primeiro? — Ela concorda com a cabeça. — Esse posso dizer que foi o mais calmo de todos, porém o mais insistente. Naquele dia eu apanhei da minha tia, porque eu disse que não queria me prostituir. Tinha um namorado, e eu não queria fazer isso com ele. Então, apanhei até desmaiar. Mas ela me acordou com um banho de água fria, colocou aquela roupa de puta em mim e me obrigou a entrar no carro dele.
Me sirvo de mais uma dose, e a minha cabeça já começa a rodar um pouco. Mas ainda estou em mim, ainda sou eu, o que significa que o álcool ainda não está fazendo efeito.
— Ele me levou para um quarto de hotel. — Continuo a contar. — Tirou a minha roupa com calma, eu chorando, pedindo para ele não me obrigar a fazer aquilo, e a única coisa que ele dizia era que ele já tinha pago e não ia aceitar o dinheiro de volta, mas que não ia me machucar, mas ia me largar no outro dia, quando tivesse esvaziado o saco dele. Tentava a todo custo tirar as mãos dele de mim, mas ele sempre insistia em botar, em me chupar, em me penetrar... E foi assim a noite toda. Ele me devolveu para minha casa às 6h da manhã. Quando eu cheguei em casa, fui direto para o chuveiro. Minha pele ficou vermelha de tanto que eu esfreguei para tirar o cheiro dele de mim, de me limpar, porque eu sabia que aquilo era errado, era nojento.
Fecho os meus olhos e abaixo a minha cabeça. Sinto as mãos dela acariciando as minhas costas, e abro os olhos para olhá-la. As únicas pessoas que faziam isso comigo eram os meus pais e o Edson. Há muito tempo eu não sentia um carinho assim de ninguém.
— Eu não posso imaginar as coisas que você passou, mas às vezes colocar para fora ajuda muito. Eu nunca vou julgar você pelo que você fez, e eu não te acho um lixo. Muito pelo contrário, você foi vítima da sua tia. Era obrigada a fazer isso do mesmo jeito que eu era obrigada pelo homem que eu achava que era o meu pai, a obedecer as coisas que ele fazia. Somos duas ex-sofredoras, mas eu consegui sair do mundo de prisão que eu tinha, e vou fazer de tudo para tirar você desse mundo que te aprisiona também.
— Eu não me sinto presa. Agora eu me sinto livre para fazer tudo que eu quero, Amélia. Só não quero nenhum tipo de homem na minha vida. Eu não quero ser dependente de nada, nem mesmo de um sentimento idiota que muitos chamam de amor.
— Mas você já amou alguém na sua vida, Suellen?
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Janayna Santana
Essa sua tia que é um lixo, e esta pegando em vida por cada maldade dela
2025-02-09
0
Vanessa Costa
Só quem passou por abusos sabe a dor, e os traumas que carrega, é muito difícil, e tem dias piores, só Deus para fortalecer😢
2025-02-02
1
ʎqǝᗡ 🐝
💔 Cicatrizes na alma raramente param de sangrar 💝
2025-01-09
1