...— Suellen Rivera —...
Estendo a minha mão boa para ela e ela sorri, me dando a mão.
— Você quer entrar na minha casa?
— Não, eu preciso ir. Meu marido me ligou umas dez vezes desde a hora que eu te levei ao hospital. Pensa em um homem ciumento.
Sorrio, me lembrando que o Edson também tinha ciúmes de mim quando estávamos na escola. Nenhum menino podia nem sequer me pedir uma borracha que ele já ficava de cara fechada.
— Foi um prazer te conhecer, Suellen. Espero te ver mais vezes. — Peço para ela esperar um pouquinho, entro em casa, pego um dos meus cartões e volto até ela.
— Aqui tem meu número e tudo que você precisar. Hoje estou assim, mas te juro que eu, em forma de advogada, sou bem mais séria.
— Nossa, meu marido ficou com um advogado por anos, depois, descobri que ele era meu irmão. Mas pode deixar que vou te ligar sim. Tenha uma boa noite.
Desejo o mesmo e ela vai embora. Entro em casa e me deito na minha cama. Olho para o meu braço, e agora que vou ter que ficar uns dias sem trabalhar mesmo, já que machuquei logo o braço direito, que é o que eu escrevo. Tiro o meu sapato, e me ajeito na cama para dormir.
(...)
Dois dias depois, o meu celular toca. Vejo que é um número que não está na minha agenda de contato. Fico pensando se atendo ou não, já que não vou poder trabalhar. Decidi atender antes que a ligação caia na caixa postal.
— Alô?
— Suellen? Sou eu, Amélia. Desculpa não ligar esses dois dias, estava bem ocupada. Como você está?
— Ah, eu.. eu estou bem. — Nem me lembrava dela. Mas para que está me ligando?
— Que bom. Deixa eu perguntar. Você só trabalha na área criminalista?
— Sim, porque? — Aos poucos vou me lembrando da nossa conversa, e acabo me recordando do marido e do irmão dela.
— Eu preciso de uma advogada de família. Você poderia me indicar uma?
— Não, eu trabalho sozinha. Desculpa, estou ocupada agora, Amélia. Pode me ligar outra hora?
— Claro, desculpa. — Desligo o telefone.
Me levanto, amarro uma sacola no braço e tomo um banho. Hoje vou passar na clínica que a minha tia está internada. Passo lá de tempos em tempo, só para saber se ainda está viva. Chamo um carro de aplicativo, e sigo para a clínica. Vou direto para a sala do médico que cuida dela, e pelo vidro, posso ver ela sentada na cadeira, toda magra, só pele e osso.
— Precisamos aumentar a dosagem dos medicamentos dela, mas para isso, você precisa mandar mais dinheiro para o tratamento.
— Não vou mandar mais nada. O que eu mando já é o suficiente. Ela só está viva até hoje porque quero que ela sinta a doença comendo ela, acabando com seus órgãos pouco a pouco. Não quero ter mais prejuízos do que já tenho.
— Até onde eu sei, ela é a sua única família, não é? Porque a trata desse jeito? — Dou uma risada sem humor, para ele, ela é só uma pobre coitada doente, para mim, ela foi o próprio demônio. — Precisamos aumentar os medicamentos. Estou falando sério.
— Não vai aumentar, e se fizer, sairá do seu bolso. Não mandarei mais do que já mando. — Parece que ela está com os dias contados. Talvez, seja a hora de falar com ela para nos despedirmos. — Vou falar com ela.
Ele estende a mão para a portinha que fica do lado para eu saia no jardim. Vou caminhando bem devagar, e me sento ao seu lado. Ela olha para mim e eu devolvo o olhar sorrindo.
— Olha só, nem pra prostituta você está servindo mais.
— O que você quer?
— Eu? Não quero nada. Pensei que você já não estaria mais aqui. Pensei que essa doença já tinha te devorado. Mas esqueci que vaso ruim não quebra fácil.
— Vai embora, sua vadia, não venha aqui me humilhar.
— Humilhação. Isso você sabia fazer muito bem, não era? Lembra do dia que me jogou para aquele cara do carro vermelho? Eu pedi para não me deixar ir, e você me arrastou do meu quarto até o carro dele me puxando pelos cabelos. Lembro do sorriso dos dois ao me ver tão humilhada. E da vez que você cuspiu em mim, me chamando de lixo na frente dos seus machos escrotos? Eu tinha uma vida, tia, eu tinha um noivo e íamos nos casar assim que eu ficasse de maior. Você me obrigou a largar dele.
Ela não responde nada, mas sinto uma lágrima nos meus olhos querendo cair. Limpo ela, pois nada e nem ninguém desse mundo vai me fazer chorar novamente.
— Tínhamos que pagar as contas. E você rendeu muito dinheiro para nós duas. Se eu não tivesse ficando doente, você estaria até hoje vendendo o seu corpo.
— Não, eu não estaria. Eu estaria aqui nesse mesmo lugar em que estou. Pois ia te largar e seguir a minha vida. Você que ia ter que virar brinquedo dos seus cachorros. Bom, eu só vim mesmo para me despedir. Agora, pelo seu estado, posso apostar que da próxima vez que eu vier aqui, vai ser para levar seu corpo para o IML. Tenha um excelente resto de vida, titia, e morra logo, está me dando muita despesa.
Me levanto e ela fica me olhando com aquele olhar matador dela. Antes eu morria de medo, agora, só me faz querer rir. Nego com a cabeça e vou embora. Tomara que apodreça antes do coração parar, pois é isso que ela merece.
Chamo outro carro de aplicativo, e volto para minha casa. Assim que eu desço, vejo a Amélia parada do lado do meu portão. Será que ela quer mesmo chamar a minha atenção?
— O que aconteceu? — pergunto me aproximando dela.
— Eu sei que você mora aqui sozinha. Não quero te incomodar, só que eu te atropelei, e não quero te deixar sozinha.
— Eu já disse que sei me virar. Não precisava vir aqui.
— Mas eu vim, e vou te ajudar no que você precisar. Mesmo que você seja advogada criminalista, eu quero conversar com você, e pode me cobrar o que você quiser. Quero só me consultar com uma advogada, pode ser?
Reviro os olhos e concordo com a cabeça. Abro o portão e ela entra. Conduzo ela até a sala, ela se senta em um sofá e eu em outro.
— Do que você precisa, Amélia?
— Quero que você trabalhe comigo. Tipo, quero que seja a minha advogada particular.
— Não trabalho dessa forma. Se precisar dos meus serviços, você tem o meu cartão, pode me ligar, e se eu estiver disponível, eu te atendo. Isso é tudo que eu posso fazer. — percebo que ela só está me enrolando. — O que você realmente veio fazer aqui?
— Tá bom, só queria ver se você realmente está bem. Sabe, eu vivi uma boa parte de minha vida presa, sem amigas, sem nada, e vejo que você é assim.
— Estou bem desse jeito. Não gosto de amigos, apenas de trabalho.
— Isso não é certo. Almoça na minha casa amanhã? Podemos ser amigas.
— Não podemos, você é muito... Docinha, melosa, não combinamos.
— Eu não vou embora até você aceitar. — Ela cruza as pernas e os braços e eu percebo que ela não vai embora se eu não responder.
— Tá bom, almoço e venho embora. Não gosto de ficar muito nas casas dos outros. — Ela se levanta sorrindo e me abraça. Quanto melação.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Marta Monteiro
Acho o seguinte; Quando a gente está de fora, acho tudo, porque não está na pele da pessoa que está sendo quebrada por dentro sem perceber e principalmente quando tem uma outra pessoa te matando por dentro e te humilhando. que é da própria família, é horrível isso então fica a dica.
2024-12-14
12
Rachel
Autora gostei muito da docinho e o limãozinho rsrs
tem muita doçura debaixo de toda essa casca protegida da Suellen?
2024-11-07
13
ale
autora, agora me apaixonei totalmente por vc, pois docinho e limãozinho, foi tudo🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣
2024-12-01
0