...— Suellen —...
— Espera. — Ele me interrompe de entrar no carro e eu olho bem para ele. — Não quero o seu dinheiro, ainda mais sabendo de onde ele vem.
— Esse dinheiro veio do meu salário de advogada...
— Sim, mas como você pagou as mensalidades da universidade? — Fico sem resposta e ele coloca o cheque em cima do capô do carro. — Pode ficar com ele, eu não sou mais o pobre que você falou que eu era. Sou um Juiz respeitado por todos, e não precisei fazer o que você fez para chegar onde eu estou. E não preciso do seu dinheiro de garota de programa.
— É fácil jugar quando não se está na pele de outra pessoa. Não se preocupe, eu não vou mais te incomodar. Só me responde uma coisa, se tem tanto ódio de mim, porque fez tudo isso? Porque pagou o vidro do carro e acompanhou o táxi até minha casa?
— Porque... — ele ia responder, mas travou na hora. Olha bem em meus olhos e se vira me deixando com a dúvida na cabeça. Entro no meu carro e sigo para minha casa.
(...)
O dia da audiência chega, e como da outra vez, eu sou a primeira a chegar junto com as crianças e a assistente social. Deixo eles na salinha das testemunhas para entrarem só quando forem chamados, e me direciono ao tribunal.
Arrumos minhas coisas e todos começam a chegar. Seria tão mais fácil se ele não entrasse por aquela porta, tudo sairia perfeito. Ele é o último a entrar e todos se levanta e só se sentam quando ele o faz primeiro. Evito olhar para ele, já fazendo o que ele queria, que é fingir que não o conheço.
— Estamos aqui hoje para dar continuidade ao julgamento do senhor Leone Bravary, podem começar.
Me levanto e chamo o filho mais velho do casal. Ele se senta para depor, e eu sou a primeira a fazer as perguntas para ele.
— Bryan, nos conte o que aconteceu naquele dia que o papai machucou a mamãe.
— O meu pai mandou a gente ir tomar banho, porque a comida já ia ficar pronta. Subiu eu e a Nick, eu ia tomar banho primeiro que ela, porque ela perdeu no joquempô. Mas ai, a minha mãe entrou e falou que era para tomarmos banho juntos. Papai não deixava, então, eu fiquei de cueca e a Nick de calcinha.
Olho para o meu cliente que está com a cabeça baixa. Mesmo que ele esteja sendo julgado, ele criou bem os filhos, mostrando que um não pode ver a nudez do outro, e isso já deveria levar em consideração quem cuidava mais das crianças.
— Porque ela tentou te afogar?
— Ela falou para eu pedir dinheiro pro pai, mas eu disse que não queria, porque o papai não dava dinheiro para gente assim sem explicação. Ela pegou a minha cabeça e afundou. Não conseguia subir e pedi para ela parar porque estava doendo, mas ela continuou. Ela falou a mesma coisa para a Nick, e ela, com medo, balançou a cabeça e falou que ia pedir dinheiro pro papai. Mas ele começou a xingar nós dois, falando que não serviamos para nada, e um monte de coisa que eu não consegui entender por estar embaixo da água. Foi quando ela soltou a minha cabeça, e o papai pegou a gente no colo e saiu de casa.
Todo o tribunal começa com um murmuro. Agora, em vez de xingar o meu cliente de assassino, agora pareciam que o achavam um herói. Me sento, dando a vez para o promotor fazer as perguntas.
— Você disse que a sua mãe tentou te afogar, porque você não tentou se soltar das mãos dela? — Típico homem da lei que acusa a vítima.
— Ela agarrou nos meus cabelos e puxava. Eu não conseguia sair.
— Não conseguia ou foi ensinado pela advogada de defesa para contar essas coisas? — Ele olha para mim e depois para o Edson. Olho para o promotor, querendo o fuzilar, mas mantendo a postura aqui dentro.
— Ela não me falou nada. Foi o que aconteceu. — o menino retruca.
— Pode repetir o que aconteceu? — Bryan conta tudo, do mesmo jeito que contou a primeira vez. Meio que parecendo estar satisfeito, o promotor encerra as perguntas. Edson declara que a mais nova não precisa depor, já que o mais velho já tirou todas as dúvidas que restavam.
Edson então bate o martelo e fala sobre esperar pela resposta do júri, e dá mais 24 horas para encerrar o caso. Junto minhas coisas rápido, e assim que o Leone é levado, eu saio quase correndo para pegar as crianças e a assistente social. Não quero que ele me encontre novamente no estacionamento, então, dou logo partida no carro e levo eles de volta ao abrigo.
Vou para minha casa, tiro toda minha roupa e me enfio embaixo do chuveiro. Ficar no mesmo lugar que ele me deixa tensa, o que nunca aconteceu em nenhum dos meus casos. É tão ruim ficar perto de quem você amou um dia, mas a pessoa te odeia.
— Só mais um dia, Suellen, só mais um dia e você não vai precisar mais ver ele na sua frente. — Falo sozinha comigo, deixando a água levar toda a tensão.
Saio do banho, colocando apenas um roupão, e me sento na cama para olhar os próximos casos. Espero que o júri tenha entendido que o Leone agiu em legítima defesa dos filhos. Tenho muitos emails, vários casos para eu pegar, mas como eu tinha dito antes, se eu não ver inocência na pessoa, eu não entro em sua defesa.
Quer saber, vou dar um tempo. Fecho o notebook e me deito na cama. Desde o dia que me formei em advogada, não tenho dado pause na minha vida. Essa é a hora de eu parar uns dias. Fecho os meus olhos e deixo o sono me dominar.
(...)
Chego no tribunal cedo novamente. Logo todos vão chegando e por último o Edson. O oficial de justiça pega o papel na mão do júri e entrega para ele. Ele olha, avalia e se levanta para dar o veredito final.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Ivanilde T. Serra
Com certeza ela gonhou essa.
2025-01-16
0
Janayna Santana
ele te ama, confia
2025-02-09
0
Janayna Santana
bora responda
2025-02-09
0