...— Suellen Rivera —...
Vinte anos depois...
Nunca mais soube do Edson, ele mudou de casa depois de um tempo e não tivemos mais contato, até uma reportagem sair sobre ele ter ajudado a prender um general. Ao ver que ele se tornou um advogado, embarquei também, e consegui fazer advocacia. Me dediquei ao máximo enquanto fazia trabalhos para poder me manter, já que eu paguei todos os anos da universidade.
Me formei, e escolhi ser advogada de defesa. Claro, não são todos os casos que eu pego. Se eu vejo que o cara é um condenado de verdade, eu não aceito o caso, mesmo precisando do dinheiro. Eu não aceito, pois eu aprendi muito na minha vida, e agora, eu só quero ganhar.
Até que o caso do Loren Bravary cai na minha mão. Estudo o caso, vejo se ele fala a verdade em seu depoimento, se ele não se contradiz, se ele gagueja. Tudo isso eu percebo, e assim eu posso garantir se o cara é inocente ou culpado.
Por ser advogada de defesa, muitos me chamam de cruel, por estar soltando os caras que deveriam mofar na cadeia, e não com uma advogada no caso. Mas como eu disse antes, não aceito os verdadeiros bandidos, apenas aqueles que estão sendo condenados injustamente.
Leio todo o caso dele, e ele é um desses. Ele não é culpado, afinal, agimos sem pensar quando estamos nervosos, até mesmo por impulso. E no caso dele, eu teria feito a mesma coisa, mesmo que não fossem os meus filhos. Uma maluca que se diz mãe, tentar matar os filhos afogados merece a morte. Nada menos que isso.
Marco a audiência para ele, recebo o nome do juiz, do promotor e das testemunhas. Junto todas as provas e levo no dia do julgamento. Sou uma das primeiras a chegar. Eu odeio atrasos, prefiro achar antes do que depois do horário marcado. Começo a arrumar tudo em cima da mesa quando todos começam a chegar. O Loren é quase um dos últimos. Ele fica do meu lado e eu balanço a cabeça para ele, indicando que vai dar tudo certo.
Até que a porta se abre e o juiz entra. Olho firme para ele, não acreditando que ele esteja aqui. Olho novamente na folha, pois tenho certeza de que ele não é o juiz do caso, mas ele responde à minha pergunta interna, revelando que o outro passou mal. Viro as costas para ele, ficando de frente para o meu cliente. Nunca, em nenhuma audiência, eu me senti tão nervosa quanto estou aqui. Sei que ele me odeia, e vai me odiar mais ainda por me ver nesse tribunal.
Viro de frente e nos encaramos por alguns segundos, me sento na minha cadeira, pois agora não tem mais jeito. Não posso voltar atrás, e o Loren precisa de mim. A audiência começa, e eu sinto o olhar dele sobre mim, mas quando eu o olho, ele sempre desvia o olhar. Parecemos dois desconhecidos, nem parece que um dia trocamos juras de amor.
Tudo desaba. Eu não imaginei que o nosso reencontro seria tão ruim assim. Depois da audiência, suas palavras me quebraram por inteiro. Depois de tantos anos, não sendo mais taxada de prostituta, ele vem com essa conversa, e eu, no automático, dou um tapa em seu rosto. Meu peito chega a doer. Realmente, ele não me ama mais.
Chego em casa, deixo tudo arrumado para a próxima audiência. Tento me controlar, mas acabo não conseguindo: eu preciso beber. Tomo um banho, me troco e saio em busca do primeiro lugar que vende bebidas. Vou direto para o balcão, sem olhar para nada, e peço um gim, a única bebida que me faz esquecer todos os meus problemas.
Olho para o lado, e lá está ele. Como pode? Ele se levanta e sai, e eu fico na dúvida se vou embora ou se fico. Minha bebida chega e eu viro de uma vez. Vou ficar. Se ele estiver incomodando, ele que saia. Vou virando uma atrás da outra, até que vou ao banheiro e daí eu não me lembro de mais nada.
Acordo já na minha cama. Olho para o relógio e já são 13h35 da tarde. Me levanto e vou fazer a minha higiene, parecendo que fui atropelada por uma carreta. Saio de casa para ir conversar com a assistente social, pois ele quer que as crianças depõem. Elas têm boas idades, não deve ter esquecido o que a mãe fez, mas para garantir, me sento e falo com elas.
— Você sabe porque está aqui? — pergunto para o mais velho de 10 anos primeiro, e ele acena com a cabeça.
— Porque meu pai está preso por matar a minha mãe.
— Você sabe porque ele fez isso?
— Porque ela estava enfiando a nossa cabeça na água, deixando a gente sem respirar. — Pronto, isso é tudo que eu tinha que ouvir. Me levanto e falo com a assistente social que eles precisam estar prontos amanhã para depor, mas eu mesmo venho buscá-los e ela pode acompanhar.
Vou embora, anotando algumas coisas no meu caderno, distraída, e de repente, bato em algo, fazendo tudo que estava nas minhas mãos cair. Me abaixo, mas vejo os sapatos sociais de alguém que não me ajuda a juntar as minhas coisas, e eu odeio esse tipo de gente. Pego tudo e me levanto, dando de cara com o Ed.
— Poderia ter me ajudado, ou mudou tanto que não sabe o que é ser humano? — Ele cruza os braços e serra os olhos.
— Ontem me fudi todo por sua culpa. Além dos duzentos dólares que tive que gastar com você, ainda tive que tomar remédio para dormir.
— Duzentos dólares? Com que eu te dei essa despesa? — Ele ri, mas aquela risada irônica, sem graça nenhuma. Ele me conta sobre o carro que quebrei o vidro e do taxista que eu enrolei para mostrar onde era a minha casa. Fecho os meus olhos, tentando esconder a minha vergonha.
— Se não sabe beber, não bebe. E não usa a bebida para esquecer, pois não adianta nada. — Vou até o meu carro, coloco a pasta em cima do capô, pego o talão de cheque e preencho ele com trezentos dólares e entrego para ele. — Que isso?
— O dinheiro que você gastou e mais um pouco, pelo trabalho que teve comigo. Se estamos certos, tenha um excelente dia, meritíssimo.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Flavia Felix
Ela era uma menina. Sofreu pela morte dos pais, foi obrigada a se afastar do namorado. Ela sofreu muito
2025-02-18
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Janayna Santana
Te ama sim, só está magoado ainda pq as coisas entre vocês não ficaram claras
2025-02-09
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Erica Jesus
Ah meu Deus essa dupla vai me dar cólicas de tanto rir😂😂😂
2025-03-09
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