...Ravi Narrando...
Eu achava que me acostumaria com a ideia de ter Emily por perto. Afinal, era só mais uma funcionária, alguém para cuidar da Zoe e manter a rotina da casa. Mas agora, com ela longe, a casa parecia diferente – vazia de um jeito que me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.
Era apenas um fim de semana, mas parecia uma eternidade. Desde que Emily começou a trabalhar aqui, os dias tinham ganhado um novo ritmo. Algo mudou na mansão com a presença dela – era como se um brilho discreto tivesse entrado junto com ela pela porta, um calor que preenchia os espaços sem alarde, mas que agora, com ela longe, deixava cada canto vazio e silencioso demais.
Eu me peguei pensando nela várias vezes durante o sábado. Cada pequena lembrança me invadia a mente como um perfume suave, a forma como ela inclinava a cabeça, prestando atenção em cada palavra de Zoe, ou o sorriso breve que escapava quando ela conseguia animar a menina depois de um dia cansativo. Detalhes que eu nem tinha certeza de ter notado antes, mas que agora, em sua ausência, me pareciam claros demais.
Quando passei pela sala de brinquedos, encontrei Zoe, brincando com uma boneca e com o olhar meio triste. Ela ergueu os olhos para mim, e o comentário escapou antes que eu pudesse impedir.
— O que houve, abelhilha? Alguma coisa te incomodando?
Ela suspirou, como se estivesse carregando um peso muito maior do que seus poucos anos de vida.
— Sinto falta da tia Emily… Ela sempre brinca comigo e conta histórias antes de dormir. E você? Não sente falta dela, papai?
Senti o impacto da pergunta como se alguém tivesse me dado um soco leve no peito. Eu? Sinto falta dela? Minha primeira reação foi negar, afastar a ideia como um incômodo passageiro. Mas, no fundo, eu sabia que não era tão simples assim.
— Claro, abelhilha — Murmurei, acariciando seus cabelos. — Ela é especial, não é?
Zoe assentiu, com um sorriso melancólico.
Enquanto ela continuava brincando, eu saí da sala com uma sensação inquietante. Eu precisava de respostas. Precisava entender por que aquela jovem de cabelos ruivos, que deveria ser apenas uma funcionária, estava me afetando tanto. Quando avistei Ravena no jardim, podando algumas plantas, decidi que era hora de descobrir mais sobre Emily.
— Ravena — chamei, tentando soar casual enquanto me aproximava.
Ela levantou os olhos, um sorriso leve nos lábios. Era o jeito dela, sempre compreensiva.
— Oi, Ravi. Precisa de alguma coisa?
Eu hesitei, mas decidi ir direto ao ponto.
— Sabe, estive pensando… você que a indicou para o trabalho, então, queria saber um pouco mais sobre a Emily.
Ravena parou o que estava fazendo e me observou por alguns segundos. Parecia tentar entender o que realmente eu estava perguntando. Eu estava esperando alguma provocação, uma expressão de quem percebeu o que eu tentava evitar admitir. Mas Ravena apenas assentiu, com um olhar gentil.
— Bem, Emily é… diferente das outras pessoas que você deve ter conhecido, Ravi — começou ela, com um tom mais grave do que o habitual. — Ela passou por muita coisa. Coisas que deixaram marcas, mesmo que ela tente escondê-las. Mas, ainda assim, ela não deixou de ser uma boa pessoa, não perdeu o seu jeito doce.
Aquelas palavras fizeram um nó se formar no meu peito. Era uma sensação estranha, incômoda. Eu me sentia impotente diante daquela imagem de Emily. Marcas? Que tipo de dor ela carregava? E por que isso me importava tanto?
— O que você quer dizer com “passou por muita coisa”? — Perguntei, tentando disfarçar o tom de preocupação que escapou sem querer.
Ravena sorriu, um sorriso triste e compreensivo.
— Emily não fala sobre seu passado com facilidade, Ravi. Ela aprendeu a se proteger desse jeito, acho. E não é qualquer um que ganha a confiança dela. Se quer saber sobre ela pergunte para ela, você tem um passado e poderia usar isso ao seu favor se não quiser perguntar diretamente para ela.
Essas palavras ficaram ecoando na minha mente. “Aprendeu a se proteger.” O que alguém como ela precisava enfrentar para se tornar assim? Essa pergunta rondou minha cabeça como uma sombra. De repente, eu me senti irritado. Não com Emily, mas com qualquer um que tivesse sido responsável por essa dor que ela escondia tão bem.
— Você sabe exatamente o que aconteceu? — arrisquei, minha voz saindo um pouco mais tensa do que eu queria.
Ravena pareceu ponderar, escolhendo com cuidado as palavras antes de responder.
— Sei de algumas coisas, mas acho que esse assunto é algo delicado, prefiro que ela te fale quando se sentir confortável. Bem, eu morava no mesmo bairro que elas, o pai da Emily sumiu no mundo, ela foi criada pela mãe e uma tia. Ela tinha sonhos, como qualquer jovem, mas a vida colocou obstáculos demais no caminho dela. Foi forçada a amadurecer antes do tempo, a carregar responsabilidades que muitos adultos não aguentariam.
Eu mantive o olhar fixo em Ravena, esperando mais detalhes, embora parte de mim quisesse muito saber mais. Já era desconfortável imaginar Emily passando por dificuldades, mas ouvir aquilo em palavras concretas… Me fez sentir uma inquietação misturada com uma raiva surda, como se alguém tivesse invadido o espaço que ela tanto tentava proteger.
— Ela parece… forte. Como se nada pudesse abalar — murmurei, quase para mim mesmo.
— Ela é forte, sim — Ravena respondeu, com um toque de admiração. — Mas isso não significa que não sinta. Ela apenas aprendeu a guardar a dor bem no fundo, onde ninguém possa alcançar.
Essas palavras me atingiram com uma clareza brutal. Era isso. Emily não era só forte; ela era alguém que suportava. E agora, enquanto tentava imaginar tudo o que ela tinha enfrentado ou enfrentava, minha vontade de protegê-la aumentava.
Ravena continuou:
— Ela tem uma irmã mais nova, e faz de tudo para garantir um futuro para ela, para a mãe e para a tia. Cada escolha que Emily faz é para elas, não para ela mesma, lembre-se disso.
Um peso se formou no meu peito. Agora, cada sorriso que ela dava, cada gesto sutil, parecia ter um significado mais profundo, um eco de alguém que lutava todos os dias por pessoas que amava. E ali, sozinho com Ravena, eu percebi que, mesmo tentando ignorar, ela já havia se tornando alguém especial para mim.
— Ela… tem alguém? — perguntei, incapaz de evitar a curiosidade.
Ravena balançou a cabeça, o sorriso dela se tornando uma expressão de compaixão.
— Ela está sozinha. Se teve alguém, Ravi, é apenas uma ilusão. Emily guarda cicatrizes, marcas que você talvez nunca veja.
— Que cicatrizes? Você pode ser mais clara?
— Olha, Ravi… Emily carrega algumas marcas do passado e do presente. — Ela faz uma pausa pensando melhor no que vai dizer. — Não é algo que ela gosta de comentar, mas foi forçada a amadurecer muito cedo. Ela tinha sonhos, uma vida toda pela frente, mas as circunstâncias acabaram jogando muitos obstáculos no caminho.
Minhas mãos se fecharam em punhos quase por reflexo. Eu queria saber mais, mas algo no olhar de Ravena me dizia que Emily não gostaria que saísse por aí falando sobre isso e Ravena também não era do tipo que sairia contando da vida dos outros, já que sabia sobre o meu passado e guardou a sete chaves. Mesmo assim, minha preocupação não diminuía.
— Ela parece mais jovem do que aparenta ser — murmurei, tentando não soar invasivo. — E tem alguma coisa nela que me deixa inquieto.
Ravena me lançou um sorriso de lado, como se eu tivesse finalmente captado algo que ela já sabia há tempos.
— Emily é uma guerreira, Ravi. Poucas pessoas conseguem manter o brilho nos olhos depois de tudo o que ela enfrentou. Mas ela nunca deixou de lutar, e… bem, acredito que Zoe e você trazem uma leveza à vida dela.
Ravena percebeu minha quietude e continuou:
— Ela é discreta, sabe? Só se abre quando confia plenamente. E, sinceramente, acho que está começando a ver essa casa como um refúgio.
Essas palavras mexeram comigo. Um refúgio? Fiquei em silêncio, tentando digerir o que aquilo significava para mim. Senti algo inesperado, uma vontade de proteger Emily de tudo o que quer que ela tenha passado – de quem quer que tenha feito ela sentir essas dores.
— Obrigado, Ravena — murmurei, mais sério do que pretendia.
Ela assentiu, sem fazer mais perguntas. Ravena entendia o que não precisava ser dito, e eu admirava essa sensibilidade dela.
Voltei para a mansão com a mente cheia de perguntas e a mesma vontade de entender quem era essa mulher. A verdade é que a presença dela estava em cada canto daquela casa. Mesmo longe, Emily conseguia deixar marcas por onde passava e ele já havia deixado a sua marca em mim.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Beatriz Ferraz
Ravi ,querido, está na hora do mafioso que habita em vc acordar !
2025-04-10
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pila souza
Acorda Ravi sabemos q a tempos vc não usa o seu lado mafioso comece a usar investigue fale até com o hacker marido de Amélia fale com seu irmão acorde pois vc já está sendo vigiado faz tempo com toda certeza o seu inimigo já está um paço em sua frente.
2025-01-02
1
daniely aparecida
meu Deus investiga
assim vc ajuda ela
aí que desespero
2025-02-06
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