Capítulo 13

...Emily Narrando ...

Os dias após a boate passaram como um borrão, cheios de incertezas e silêncio. Mesmo longe daquele lugar, o peso do que havia acontecido ali me perseguia. Eu tentava manter a rotina, ajudar minha mãe e garantir que minha irmã e minha tia estivessem bem, mas por dentro eu sentia uma inquietação que não sabia como controlar. Era como se uma parte de mim estivesse em suspenso, esperando algo, qualquer coisa, que pudesse me tirar desse ciclo.

Então, numa manhã cinzenta, quando eu já estava certa de que tudo continuaria igual, o telefone da minha mãe tocou. Olhei para o visor, reconhecendo o número, mas duvidei de meus próprios olhos. Aquele nome trazia uma mistura de lembranças e de uma vida que parecia ter sido deixada para trás.

Era Ravena, uma antiga vizinha do bairro. Não nos falávamos havia anos, desde que ela se mudara para outro bairro, não sabia que a minha mãe tinha contato com ela, havia uma época em que elas conversavam quase todos os dias.

Ravena sempre foi uma mulher generosa, com um jeito leve de lidar com a vida, e foi uma das poucas alegrias que minha mãe teve durante aqueles anos difíceis. Ver o nome dela na tela do telefone era inesperado, quase surreal. Respirei fundo antes de atender.

— Alô? — falei, tentando não deixar transparecer a surpresa em minha voz.

— Emily! — respondeu ela, animada. — Quanto tempo, minha querida! Como você está?

— Estou bem, e a senhora?

— Também estou bem minha querida.

— Que bom, a minha mãe está descansando agora, mais posso avisar que a senhora ligou.

— Não, não liguei para falar com a sua mãe, e sim com você!

A familiaridade no tom de voz dela me trouxe uma sensação de conforto. Conversamos por alguns minutos sobre coisas triviais, e foi como se o tempo tivesse retrocedido. Mas então ela foi direto ao ponto, com a mesma franqueza de sempre.

— Estou ligando por um motivo específico, na verdade, — ela disse, e eu pude ouvir o sorriso em sua voz. — Tenho uma proposta de trabalho para você.

Minha mente começou a trabalhar em mil direções. Trabalho. Era algo que eu queria há muito tempo, mas minha vida sempre parecia me prender, me impedir de sair em busca de novas oportunidades.

— Que tipo de trabalho? — perguntei, tentando conter a ansiedade que me invadia.

— Vou ser direta, querida. Meu patrão, Ravi, precisa de alguém para cuidar da filha dele, Zoe. Ela é uma menina doce, mas precisa de atenção e carinho, e eu pensei que você seria perfeita para o papel, já que converso as vezes com a sua mãe, ela me contou a situação de vocês, sei que você é uma boa moça.

A proposta me pegou de surpresa.

— Você acha que eu seria uma boa escolha? — perguntei, hesitante. — Não tenho experiência com crianças.

— Ah, Emily, tenho certeza de que você daria conta — Ravena respondeu com confiança. — E a Zoe é uma menina encantadora. Além disso, a oferta inclui moradia, então você teria um lugar seguro e confortável para ficar, longe de qualquer problema.

Moradia. Aquela palavra ecoou na minha mente, trazendo consigo uma onda de possibilidades. Um lugar seguro… longe de tudo que me prendia. Poderia ser minha chance de escapar, de recomeçar em um ambiente novo, onde talvez ele não pudesse me encontrar. Mas, ao mesmo tempo, senti um receio crescer dentro de mim. Sair daqui significaria deixar minha família para trás. E se algo acontecesse enquanto eu estivesse fora?

— Eu… não sei, Ravena, é uma mudança e tanto — respondi, minha voz baixa, quase receosa.

Ravena parecia entender meu dilema. Ela fez uma pausa, dando-me espaço para processar, e então respondeu com um tom suave, mas firme.

— Emily, eu sei que não é uma decisão fácil. Mas pense nas oportunidades que isso pode trazer. Você poderia trabalhar, guardar algum dinheiro e, quem sabe, dar um novo rumo à sua vida. Pense nisso, não precisa decidir agora.

Fiquei em silêncio, absorvendo cada palavra. A oferta era tentadora, mas também assustadora. Aceitar significaria enfrentar o desconhecido, sair da zona de conforto e arriscar tudo por um pouco de liberdade. Mas, ao mesmo tempo, percebi que essa poderia ser a única oportunidade que eu teria para construir uma vida longe de ameaças, longe dos olhares vigilantes de alguém que me mantinha cativa.

Finalmente, respirei fundo, sentindo uma determinação que não sentia há tempos.

— Eu… vou pensar, Ravena — respondi, sentindo um nó na garganta. — Agradeço muito por se lembrar de mim e pela confiança. Vou pensar com carinho.

— Claro, querida. Tome o tempo que precisar. Mas lembre-se: às vezes, o destino coloca uma chance em nossas mãos, e cabe a nós decidir se queremos aproveitá-la ou não.

Conversamos mais um pouco e ela me contou sobre o ocorrido com o seu marido, o serviço seria temporário, mas, pagaria bem!

Após algum tempo, nos despedimos, e eu fiquei ali, com o telefone na mão, ainda absorta nas palavras dela. O que eu faria?

A proposta de Ravena ecoou em minha mente durante o restante do dia. A chance de mudar de ares, de deixar para trás os medos e as sombras que me aprisionavam, parecia uma possibilidade de renascimento. E, enquanto a noite caía, uma sensação de certeza tomou conta de mim. Era um salto no escuro, mas, talvez, exatamente o que eu precisava.

Com um misto de ansiedade e expectativa, peguei o telefone e disquei o número de Ravena. Enquanto o tom de chamada soava, minhas mãos suavam, e uma leve pontada de dúvida surgiu. Mas antes que eu pudesse repensar a decisão, Ravena atendeu.

— Emily! — ela atendeu com a mesma energia calorosa. — Como você está?

Respirei fundo antes de responder, sentindo uma onda de alívio ao ouvir a familiaridade na voz dela.

— Ravena… eu pensei sobre o que você me disse — respondi, tentando conter o nervosismo. — E eu aceito a sua oferta. Vou cuidar da Zoe.

Do outro lado da linha, ouvi Ravena soltar uma exclamação de alegria.

— Que maravilha, Emily! Eu sabia que você tomaria a decisão certa! — ela exclamou, a felicidade evidente em sua voz. — Vai ser ótimo ter você por perto. E sei que Zoe vai adorar você.

Uma pontada de insegurança ainda borbulhava em mim, mas ouvir o entusiasmo de Ravena me deu um pouco mais de confiança. Ela então começou a me explicar os detalhes com paciência e atenção, descrevendo o bairro nobre onde ela vivia e onde eu também trabalharia. Era um mundo completamente diferente do meu, um lugar onde as ruas eram limpas e seguras, as casas imponentes e, ao que parecia, os moradores, sempre atentos à vida uns dos outros.

— Emily, eu cuido para que as condições sejam as melhores possíveis para você — garantiu ela. — E, além disso, Ravi é muito reservado. Você terá bastante privacidade enquanto estiver cuidando da Zoe.

— Agradeço demais, Ravena — respondi, sentindo um alívio se espalhar pelo meu peito. — Estou nervosa, admito. Mas, ao mesmo tempo, ansiosa para começar.

— É normal, querida, mudar sempre dá um frio na barriga — respondeu Ravena. — Mas vou estar aqui para ajudar em tudo que precisar. Vou mandar uma mensagem com o endereço e as instruções, e podemos começar quando você se sentir pronta.

Nos despedimos, e quando terminei a ligação, encarei o pequeno cômodo em que estava. Aquela ligação marcava o início de uma nova fase. Eu sabia que não seria fácil, mas sentia que estava no caminho certo.

Alguns dias, aviseia Ravena que estava pronta, e no dia seguinte, deixei um bilhete para minha mãe explicando minha saída e que logo estaria em casa.

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Comments

Vilma Teixeira Roquete

Vilma Teixeira Roquete

Que seus familiares sejam protegidos tbmm....já estou agoniada...

2025-02-21

0

Soninha

Soninha

Vc pode sair da máfia, mas a máfia nunca Sairá de vc.
Uma vez mafioso, sempre mafioso.

2025-03-03

1

Maria Lima De Souza

Maria Lima De Souza

Nossa! que situação.

2025-02-26

0

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