...Lembranças e Inquietações...
As primeiras luzes da manhã atravessavam as janelas da casa de Ravi, banhando o ambiente com um brilho suave. Ele estava na cozinha, tomando uma xícara de café enquanto observava Zoe brincar com uma de suas bonecas, e tentou focar-se na tranquilidade do momento. Mas sua mente não cooperava. Por mais que tentasse, o olhar da ruiva da noite passada continuava assombrando seus pensamentos.
Ela parecia uma lembrança deslocada em sua mente, quase como um sonho – etérea e ao mesmo tempo intensa, algo que o desarmava de maneiras que ele mal entendia. Durante anos, Ravi fora um homem de hábitos meticulosos, controlando cada aspecto de sua vida para se manter focado. Mas, agora, havia uma faísca que ele não sabia como apagar, e isso o deixava desconfortável.
Enquanto Zoe brincava, ele voltou a atenção para o seu café, seus pensamentos voltando para a noite anterior e a forma como ela o fitara.
— Isso é ridículo. — Ele pensou em voz baixa, tentando afastar a sensação de vazio que surgira quando Vicente o tirara da boate.
Ele se culpava por essa distração, e agora a sua mente não cooperava, ter uma vida amorosa não era prioridade na sua vida, óbvio que se satisfazia, mais nada além de sexo.
Durante o dia, Ravi tentava se concentrar no trabalho. A VisuArt D’Angelo, que ele cuidava com tanto zelo, estava em fase de crescimento, e havia uma lista interminável de tarefas a cumprir. Reuniões, e-mails, planilhas – ele estava cercado pelo que construíra, e, ainda assim, a presença daquela mulher continuava pairando, intocável, mas constante, então resolveu que iria para casa, trabalharia de lá já que não tinha nenhum compromisso importante, deixou o seu assistente a frente de tudo e sai.
Por fim, Vicente percebeu a inquietação no irmão em casa. Após finalizar algumas ligações, ele apareceu no escritório de Ravi, jogando-se em uma cadeira com um sorriso provocador.
— Desde quando você, o homem de ferro, anda tão distraído, hein?
Ravi, sem levantar os olhos do monitor, tentou disfarçar.
— Só um pouco cansado, nada demais.
Vicente riu, claramente não acreditando.
— Eu te conheço, Ravi. Depois de ontem, você anda com um olhar de quem está em outro lugar. Confessa que é a ruiva.
A menção dela o pegou desprevenido. Vicente o observava atentamente, e Ravi soube que não adiantaria mentir para o irmão. Com um suspiro resignado, ele se recostou na cadeira e admitiu:
— É estranho, mas… não consigo parar de pensar nela.
Vicente sorriu. — Estranho? Isso se chama atração, irmão. Talvez seja o que você está precisando.
Ravi balançou a cabeça. — Não tenho espaço para isso na minha vida, Vicente. Tenho Zoe, a empresa… tudo está em jogo, você sabe disso.
— Você está se escondendo atrás das responsabilidades, Ravi. Zoe é prioridade, claro, mas quem disse que não tem espaço para você? — Vicente o olhava com uma sinceridade que fazia Ravi se sentir exposto. — Não estou dizendo que você deva mudar sua vida, mas quando foi a última vez que você fez algo para si? Qual foi a última vez que você transou?
As palavras de Vicente o deixaram pensativo. Havia tanto tempo desde que ele sequer considerara a possibilidade de algo para si que a ideia parecia quase estranha. Ele passara tanto tempo dedicado a cuidar de Zoe e a garantir o futuro da empresa que, de fato, deixara para trás qualquer sinal de uma vida pessoal.
Ainda assim, as palavras de Vicente ficaram ressoando em sua mente. Durante os dias seguintes, Ravi percebeu que não conseguia esquecer o olhar da ruiva e a sensação que ela trouxera. Ele se pegou checando a agenda com uma frequência inusitada, tentando ver se conseguiria uma pausa para voltar àquela boate, quase como se esperasse vê-la de novo.
Na sexta-feira, quando a noite caiu, ele finalmente cedeu. Pediu a uma babá de confiança para cuidar de Zoe e foi para a boate. O ambiente familiar, com as mesmas luzes, a mesma música alta e a multidão, trouxe de volta a lembrança vívida daquela noite. Ele vagou pelo lugar, observando cada rosto, com uma estranha esperança de que ela estivesse ali.
Mas, claro, não a encontrou. Ela parecia apenas um fantasma da noite anterior, uma memória que insistia em permanecer, mesmo quando tudo ao redor permanecia igual. Ravi ficou por algumas horas, alternando entre a pista e o bar, mas finalmente decidiu que era hora de voltar, e arrastou Vicente para casa. Aquela busca apenas confirmava o quão desconfortável ele estava com o que sentira e com o que isso significava para ele.
Ao chegar em casa, Ravi encontrou Zoe já dormindo. A babá lhe disse que a menina perguntara por ele antes de dormir, e ele sentiu o peso de sua escolha. O compromisso de estar presente na vida dela era algo que ele prezava acima de tudo, mas, ao mesmo tempo, a experiência daquela noite na boate ainda estava cravada em sua mente.
Ele foi até o quarto de Zoe, observando-a dormir com serenidade. Naquele momento, Ravi percebeu que estava em uma encruzilhada. Não podia continuar ignorando a si mesmo, nem deixando de lado o que poderia fazer parte de sua vida. Talvez houvesse uma maneira de equilibrar tudo.
De volta ao trabalho, Ravi estava determinado a colocar a experiência da ruiva no passado. Ele se concentrou nas metas da empresa, fortalecendo seu papel como CEO e organizando as futuras estratégias. Mas, mesmo com tudo em ordem, ele não conseguia esquecer a sensação de conexão que sentira. Era como se aquela experiência estivesse ali para mostrar que ainda havia uma parte dele que ansiava por algo mais, uma emoção que ele não sabia que precisava.
Vicente, sempre atento, notou o esforço do irmão para seguir em frente, mas via também que aquela troca de olhares com a ruiva ainda o deixava inquieto e durante o jantar ele resolveu confronta-ló.
— Está pensando em voltar lá? — Perguntou, curioso.
— Não. Aquela noite já passou. — Ravi respondeu, com um sorriso leve. Mas ambos sabiam que algo havia mudado nele.
— Qual é cara?
— Não Vicente, não insista. — Ravi disse e a conversa foi finalizada.
E assim, ele seguiu com sua rotina, mas ciente de que, em algum lugar dentro de si, aquela breve conexão o fizera refletir. Talvez fosse o início de algo novo, uma faísca que reacendesse algo há muito tempo adormecido.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Beatriz Ferraz
Ravi se anulou ,foi muito radical a forma que ele escolheu levar a vida ,tudo bem que quis se afastar da máfia, mas não precisava se afastar da família assim .
2025-04-10
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Ana Shirley
Acho que Vincente tem alguma ver com isso esse encontro
2025-01-08
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Gislaine Duarte
curiosa p saber sobre ela
2025-01-28
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