Capítulo 5

...Ravi Narrando ...

Enquanto o filme começava, recebi uma notificação em meu celular. Era uma mensagem do meu irmão, Vicente, dizendo que estava planejando vir até Chicago. A possibilidade disso me deixou inquieto; não sabia se era a hora certa para Zoe conhecer um familiar.

Os pensamentos se agitaram na minha mente. Por um lado, Vicente sempre foi uma presença constante e querida na minha vida. Ele era meu gêmeo, e a conexão entre nós era inegável. No entanto, sua chegada trazia à tona uma série de sentimentos que eu estava relutante em enfrentar. A ideia de apresentar Zoe à família, especialmente quando a conexão dela com o passado era tão complexa, me deixou hesitante.

A perda de seus pais ainda era uma ferida aberta em meu coração e quando aquele horror aconteceu eu nunca tinha me sentido tão perdido. Assumir a paternidade em meio ao luto não foi fácil, mas sempre fiz o meu melhor para dar a ela um lar seguro e amoroso.

Eu sabia que, apesar dos meus irmãos e meus pais estarem vivos, a introdução de Zoe ao mundo deles poderia ser problemática. Eles ainda estavam ligados à máfia, isso nunca mudaria, e eu não queria que Zoe fosse exposta a isso.

— Papai, você está bem? — perguntou Zoe, puxando-me de volta à realidade.

— Estou sim, abelhinha. Só pensando em algumas coisas — respondi, tentando esconder minha apreensão.

— Eu quero saber sobre a sua família! — ela exclamou, com curiosidade.

Era um desejo compreensível, e, embora eu quisesse que ela conhecesse meus pais e irmãos, eu não sabia se seria prudente. O que eu poderia dizer a ela sobre uma família marcada pela dor e pelo perigo?

— Vamos deixar isso para depois, tá bom? Por enquanto, que tal fazermos uma fortaleza com almofadas? — sugeri, tentando mudar de assunto.

Zoe sorriu, e sua felicidade iluminou a sala. Enquanto nós construíamos a fortaleza, me perguntei como eu poderia explicar a verdade sobre sua família sem entrar em detalhes que ainda eram dolorosos para mim. Eu queria protegê-la, mas também não queria que ela se sentisse desconectada de suas raízes.

Após algumas horas de brincadeira e risadas, a fortaleza estava pronta. Olhando para a estrutura feita de almofadas e cobertores, percebi que a inocência de Zoe era o que eu precisava proteger a todo custo. Eu não poderia permitir que o passado a afetasse. Era meu dever como pai.

No entanto, enquanto os dias passavam, a mensagem de Vicente continuava ecoando na minha mente. Ele queria nos encontrar e, se eu não aceitasse, poderia causar um afastamento ainda maior entre nós. Vicente sempre teve um jeito de fazer com que as pessoas ao seu redor se sentissem importantes, bom, ao menos quando ele gostava da pessoa. Porém, com o passar dos anos se tornou carismático e encantador, e eu sabia que a visita dele poderia trazer alegria, mas também complicações.

Uma noite, enquanto Zoe dormia, decidi que precisava conversar com Ravena. Ela tinha sido uma parte essencial da nossa vida e poderia me dar um bom conselho, afinal, eu já havia desabafado com ela sobre o meu passado, com o tempo ela me perguntou sobre a nossa família e eu achei necessário que ela soubesse, felizmente nada da nossa relação mudou.

— Ravena, você tem um minuto? — perguntei, enquanto ela lavava a louça na cozinha.

— Claro, Ravi. O que está acontecendo? — Ela virou-se para mim, com um sorriso acolhedor.

— Recebi uma mensagem do Vicente. Ele quer vir para Chicago e conhecer Zoe. Não sei se devo deixar isso acontecer — confessei, sentando-me à mesa, eu já havia conversado com ela outras vezes, mais saber que agora era real, e que o meu irmão queria nos visitar me deixou inquieto.

Ravena parou de lavar a louça e me olhou atentamente. — Eu entendo seu receio, mas você também precisa considerar o que isso pode significar para você e para ela. Vicente é seu irmão, e Zoe é parte da sua família.

— Sim, mas minha família é complicada. Os meus pais... — comecei a dizer, mas Ravena me interrompeu.

— Você não pode deixar que o passado defina o futuro da Zoe. A família é importante, e ela merece saber de onde vem. Mas você também deve estabelecer limites. É sua responsabilidade protegê-la — aconselhou Ravena, com sabedoria.

As palavras dela ressoaram em mim. Eu sabia que Ravena tinha razão, mas o medo ainda me consumia. O passado não era apenas um conceito abstrato; era uma realidade que havia moldado quem eu sou e o que eu queria ser.

— Vou pensar nisso, Ravena. Obrigado por ouvir — respondi, apreciando seu apoio.

Nos dias seguintes, a luta interna continuou. Vicente mandava mensagens sobre como estava animado para vir e ver Zoe. Eu relutava, hesitando entre abrir a porta para um novo capítulo ou continuar a proteger o que havia construído.

Naquela noite, enquanto Zoe dormia tranquilamente, decidi finalmente responder a Vicente. Dizer que ele poderia vir, mas sob certas condições. Queria que ele entendesse que a segurança de Zoe era a prioridade e que ele precisaria respeitar nossas regras.

Com um suspiro profundo, digitei a mensagem: "Oi, Vicente! Estou animado para te ver, mas precisamos ter uma conversa séria sobre a visita. Quero que você conheça a Zoe, mas preciso garantir que estamos todos seguros".

Após enviar a mensagem, senti um peso sair das minhas costas. Eu ainda tinha dúvidas, mas a sensação de estar tomando as rédeas da situação me deu um pouco de conforto.

Quando Vicente respondeu rapidamente, confirmando que estaria em Chicago na próxima semana, uma mistura de ansiedade e expectativa me invadiu. Eu estava prestes a abrir uma porta que poderia levar a um futuro incerto, mas também era uma chance de fazer a coisa certa.

Nos dias que se seguiram, preparei Zoe para a visita de Vicente, conversando com ela sobre a importância da família. Expliquei que ela ia conhecer alguém que fazia parte da sua história. Ela estava empolgada e cheia de perguntas.

— Ele vai ser legal, papai? — perguntou Zoe, com um brilho nos olhos.

— Sim, ele é muito legal. É o meu irmão, e ele tem uma aparência muito parecida com a minha — respondi, tentando preparar Zoe para a semelhança que ela encontraria.

Quando o dia finalmente chegou, uma onda de nervosismo me atingiu. Zoe estava animada, mas eu ainda me perguntava se havia tomado a decisão certa.

— Papai, o tio Vicente vai trazer presentes? — Zoe perguntou, com os olhos brilhando.

— Eu não sei, querida, mas o que importa é que ele vai estar aqui para te conhecer. Vamos nos preparar! — respondi, tentando esconder minha própria ansiedade.

À medida que o tempo passava, a porta se abriu e Vicente entrou, com um sorriso largo e um ar de entusiasmo que fez meu coração acelerar. Era o momento de encarar o passado e abrir um novo capítulo na vida de Zoe.

— Irmãozinho! — Vicente exclamou, vindo em minha direção para um abraço caloroso. — É tão bom te ver!

— Igualmente, Vicente. — Eu sorri, mas meu olhar logo se voltou para Zoe, que observava a cena com uma mistura de curiosidade e expectativa.

Vicente se agachou na altura de Zoe e estendeu as mãos. — Oi, pequena! Você deve ser a Zoe. Eu sou o tio Vicente!

Zoe olhou de Vicente para mim, confusa. — Você é igual ao meu papai!

Rimos juntos, e Vicente continuou: — É verdade! Nós somos gêmeos. Você sabia que os gêmeos têm uma conexão especial?

— Não! — Zoe respondeu, com os olhos arregalados de surpresa.

Vicente sorriu e piscou para ela. — Sim! Às vezes, nós até conseguimos pensar a mesma coisa ao mesmo tempo. Quer tentar? O que você está pensando agora?

— Eu estou pensando que estou com fome! — Zoe declarou, fazendo Vicente rir.

— Então, vamos comer algo antes de começarmos nossas aventuras — sugeri, aliviado ao ver a interação leve entre os dois.

Enquanto nos dirigíamos à cozinha, Vicente começou a fazer perguntas para Zoe sobre suas brincadeiras e a escola. A conexão entre eles se fortalecia a cada momento. Zoe parecia tão fascinada com Vicente que eu me senti um pouco à vontade.

A refeição foi repleta de risadas e histórias, e, por um breve momento, eu me esqueci das minhas preocupações. Vicente falava sobre suas aventuras e prometeu levar Zoe a um parque de diversões no próximo fim de semana. Olhando para a alegria no rosto da minha filha, percebi que talvez a visita de Vicente fosse realmente uma boa ideia.

No entanto, a consciência de que a máfia estavam por trás de tudo ainda me perturbava, afinal, os conflitos ainda existiam, não queria que Zoe fosse exposta a isso, e eu precisava continuar de alguma maneira, protegendo a inocência dela.

Depois do almoço, Vicente se virou para mim. — E aí, irmão, como você tem lidado com tudo? Zoe é uma garotinha incrível, e você fez um trabalho maravilhoso.

— Obrigado, irmão. É um desafio, mas estou fazendo o meu melhor para garantir que ela tenha uma infância feliz — respondi, sentindo o peso das minhas responsabilidades.

— Você sabe que sempre pode contar comigo, certo? — Vicente disse, colocando a mão no meu ombro.

Nessa hora, eu percebi que, apesar das complicações do passado, ter Vicente por perto era uma oportunidade de reescrever parte da história, e Zoe poderia criar novas memórias.

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