Urso

Lívia

A coisa que mais me apavorava aconteceu, como ele descobriu? Eu iria contar, óbvio! Em algum momento eu iria, eu só não esperava que ele descobrisse assim de repente. Eu sabia que devia ter mantido distância, muitas dúvidas pairam sobre a minha cabeça e se quiser tentar tirar ela de mim?

- não sei do que estar falando.

Minto.

- e meu?

- não!

- então não nega que tenha um filho.

- libera o meu caminho

- conversa comigo ou eu faça um escândalo aqui na porta do seu trabalho.

- quantos anos você tem mesmo?

- e você? que anda brincando de se esconder!

- eu não me escondi de ninguém

- então, porque parou de ir no meu escritório? Não responde as minhas mensagens? Bloqueou o meu número?

Uma chuva começou a cair, ele estava ficando todo molhado e parecia que não iria liberar o meu caminho tão cedo.

- entra no meu carro.

Ele deu a volta e entrou, e eu dei ré de volta para o estacionamento.

- Tá, eu não fui ao escritório porque estava com vergonha.

- de que?

- da confusão que eu fiz, aquele mal-entendido.

- isso é bobagem

- e quanto às mensagens e ligações, a minha filha estava baixando jogos da internet, encheu ele de vírus e ele pifou, ele tá na assistência.

- então o nosso filho é uma menina.

- ela não é sua, ela é apenas minha.

- deixe de mentir tenho certeza que e.

- eu dormi com outro cara no mesmo mês que fiquei com você.

Eu não posso permitir que ele cogite em ter algum tipo de relacionamento com a minha filha.

- não diga isso. Fala que é mentira.

- não tenho porque mentir. Agora, por favor, eu tenho que ir buscar ela na escola. E bem, agora você não precisa me procurar, agora que sabe que sou uma mãe solteira isso deve acabar com o seu interesse em mim.

Ele estava em silêncio, apenas saiu do carro e foi embora. Eu sou uma pessoa horrível como eu tive a coragem de mentir assim? Eu sou egoísta e patética, ele e pai da minha filha eu não posso provar ele disso.

Cheguei na escola da Liz, onde ela me esperava toda animada.

- mamãe, porque demorou?

- porque a sua mãe é uma bobona

Ela me abraça.

- não diz uma coisa horrível dessa, você é a melhor mãe do mundo.

Eu a carrego no colo, logo mais eu não darei conta de pegar ela no braço.

- o seu aniversário tá chegando, o que vai querer com o presente?

Sem pensar duas vezes, ela responde.

- vamos ao planetário

- perfeito

já em casa após o jantar e o banho estou a ajudando com a lição de casa.

- filha!

- sim, mamãe.

- você tem curiosidade sobre o seu pai?

- não!

- tem certeza? Não quer conhecer ele? e se ele quiser te conhecer.

- mamãe, você quer que eu conheça ele?

- filha essa e uma decisão sua o seu pai não teve culpa de nada.

- para mamãe.

Ela começa a chorar.

- você quer que eu conheça ele para senhora se livrar de mim, não é isso?

- filha, não!

- você pensa que eu não percebo o quanto eu atrapalho a sua vida? Eu tento ser uma boa garota, mas você não tem vida por causa de mim e culpa minha.

Ela desaba a chorar, eu abraço-a forte.

- filha nunca mais repita isso. Você é a minha vida, a única razão de me esforçar tanto é para você ter o mundo.

- mas mamãe você já é o meu mundo, eu só preciso de você.

- você também e o meu mundo.

Foi um chororó, eu não sabia que a Liz se sentia assim, a cada dia ela cresce cada vez mais e ela já tá uma mocinha, estou com ela na cama a fazendo dormir.

- mamãe, para a nossa visita no planetário eu posso levar um amiguinho?

- ele e da sua turma, posso levar a classe inteira.

- ele não é da minha turma, mas queria muito levar ele.

- tudo bem.

Assim, que ela pega no sono vou checar o celular que busquei após o fim das aulas da Liz, agora ele tá em perfeito estado, abro a caixa de mensagens e tem várias mensagens dele e assim que eu visualizo ele já manda outra.

_ a sua filha já tá dormindo?

_ acabei de por ela na cama.

_ pode sair por uns minutos?

_ não posso deixar ela sozinha.

_ vamos ficar no carro, na frente do prédio. Por favor e importante.

_ tá bom!

Ligo para a naná apenas para ela ficar aqui no apartamento enquanto eu vou lá falar com ele, tenho medo de deixar ela sozinha em casa mesmo sendo rápido. Minutos depois, assim que desço vejo ele encostado no carro.

- oi!

Antes de qualquer coisa ele me abraça, repita bem fundo, parece recarregar as energias.

- obrigado por ter vindo.

Ele se afasta e abre a porta do carro e lá no banco do carro um presente.

- já estou grande para ganhar urso de pelúcia.

Ele sorri, e passa a ponta do dedo no meu nariz.

- o urso e para a sua filha e as flores são para você.

- isso foi muito atencioso da sua parte.

- vem entrar no carro aqui tá muito frio.

O carro estava quentinho, mesmo assim ele retirou uma manta da parte de trás do carro e colocou sobre as minhas pernas.

- toma isso.

Ele me entrega um copo com chocolate quente.

- você é muito pequena, tem que se aquecer ou pode acabar ficando doente.

- Francis!

- Lívia, me escute.

Eu fico em silêncio e então ele começa a falar.

- Eu te quero tanto que eu poderia morrer, eu não ligo se a sua filha não e a minha eu a quero, eu posso ser um bom pai para ela então por favor me der uma chance. Pense por um tempo e enquanto isso eu posso mostrar o quanto eu estou falando sério aí quando você não estiver com mais dúvida use isso.

- um colar?

- isso! Um colar de compromisso, que confirma que você me quer, como namorado por enquanto pelo menos.

- essa e uma boa proposta.

- isso!

Ele me beija todo feliz.

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