O Pressentimento Estranho

Acordei com uma sensação sufocante, como se o ar ao meu redor fosse pesado demais para respirar. Tudo parecia normal à primeira vista: os raios de sol atravessando a cortina, o som distante da cidade acordando, o cheiro de café que eu sabia que ainda não tinha feito. Mas algo, algo que eu não consegui nomear, estava fora de lugar. Eu me levantei devagar, o chão frio sob meus pés me trazendo um choque de realidade, mas isso não bastou para afastar a sensação incômoda que cresceu dentro de mim.

Enquanto caminhava pelo corredor até a cozinha, a imagem de Daniel, meu noivo, flutuava em minha mente. Ele havia passado a noite fora. De novo. Não que fosse incomum — ele disse que o trabalho estava consumindo todo o seu tempo, que as reuniões se estendiam até tarde e que era mais prático dormir na casa de um amigo ou até no escritório, onde poderia se concentrar. Mas, algo que desculpa que antes parecia lógico, agora soava vazio. Como uma mentira bem ensaiada, repetida tantas vezes que até o próprio mentiroso já acredita nela.

Eu servi uma xícara de café e me sentei na bancada, olhando para a aliança em meu dedo. O reflexo dourado parecia mais opaco naquela manhã, menos brilhante, como se fossem informações do que estava por vir. O sentimento de que algo estava prestes a mudar me atingiu novamente, dessa vez com mais força. Era quase uma premonição — uma intuição silenciosa, mas clara. Alguma coisa estava prestes a desmoronar, e eu pude sentir.

Pela primeira vez em meses, peguei o telefone e liguei para Daniel. A linha tocou uma, duas, três vezes. Nada. Sem resposta. Ele sempre atendeu, mesmo que fosse para eu dizer que estava ocupado. Um pequeno nó começou a se formar em meu estômago, e, ao invés de insistir, decidi deixar passar. Não queria parecer a noiva insegura que liga para saber onde ele está, o tipo de mulher que sempre temi me tornar.

Coloquei o celular de lado e fui para a sala, tentando me concentrar em qualquer outra coisa. Liguei a televisão, mas as imagens simplesmente passam em câmera lenta, o som era abafado, como se estivesse a quilômetros de distância. Meus pensamentos foram todos focados em Daniel, e, por mais que eu quisesse afastar a sensação ruim, ela estava lá. Presente. Como uma sombra que se recusa a desaparecer.

As últimas semanas passaram como um borrão em minha mente. Daniel estava cada vez mais distante, seus olhares mais evasivos, suas respostas mais curtas. Até nas conversas mais banais, havia algo de errado. O riso fácil, os abraços espontâneos — tudo isso tinha desaparecido. Algo tinha mudado. E agora eu estava aqui, tentando juntar as peças, procurando entender onde eu havia perdido o controle da situação.

De repente, a campainha tocou. Meu coração deu um salto involuntário. Quem poderia ser tão cedo? Caminhei até a porta e, ao abri-la, dei de cara com uma pequena caixa. Sem remetente, sem qualquer identificação. Apenas meu nome escrito de forma simples. Me agachei, peguei a caixa e, com os dedos trêmulos, abri o pacote. Dentro, um envelope. E dentro do envelope, uma foto.

Minha visão ficou turva por um segundo enquanto meus olhos focavam no que eu estava vendendo. Daniel, sentado em um restaurante, com uma mulher. Ela sorriu para ele de um jeito que me fez gelar por dentro. Reconheci aquele rosto imediatamente. Era ela. A ex-namorada que ele disse ter ficado no passado. E lá estavam eles, como se o passado nunca tivesse deixado de existir.

Senti um misto de raiva e sofrimento. O que faltava era que a verdade que eu já temia se tornasse real. Aquilo não era apenas um pressentimento... era um anúncio. O fim foi o mais próximo do que eu imaginava, e agora eu tinha certeza disso. Mas, no fundo da minha mente, uma voz sussurrava algo diferente. Talvez, apenas talvez, eu ainda tivesse tido tempo. E se eu fosse mais rápido do que ele?

A adrenalina começou a percorrer meu corpo. Uma coisa era certa: eu não seria a vítima dessa história. Não dessa vez.

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