3. Dylan

Ela diz:

__É, andei ouvindo umas histórias. 

Até passo as mãos nos olhos agora. Ela segura minha mão e eu abro meus olhos olhando pra ela agora que diz:

__Tudo vai ficar bem. 

Quem dera eu acreditasse realmente nisso, mas eu sorrio mesmo que de forma forçada. Um carro preto com pinta de importado passa em nossa frente, sempre achei isso um contraste, morar em um bairro pobre logo ao lado de um bairro rico onde  a maioria dos empresários tem sedes de suas empresas. 

Olhando para o carro me lembro de algo que me aconteceu há alguns anos atrás, mas esqueço disso quando Claire se levanta e diz:

__Preciso ir pro trabalho. 

Eu digo:

__Ainda na lanchonete?

Ela sorri sem graça e diz:

__Ainda.

Eu digo:

__Não foi isso que eu quis dizer.

E completo:

 __Que bom que ainda tem um trabalho digno.

Ela sabe que me refiro ao que está acontecendo com o meu irmão e sorri dizendo:

__Passa lá depois. 

Eu digo:

__Claro. 

...

Assim que Claire saiu me levantei e vim pra casa, meu irmão nem está mais seguro aqui sozinho. Vejo em seu quarto que ele já dorme, deve ser por causa dos remédios. Vou pro meu quarto, me deito em minha cama ainda pensando em como vou arranjar uma maneira de resolver isso. Passo a mão e meu rosto mais uma vez. Vejo meu antigo pôster de um carro preto esportivo que peguei de uma revista na época e colei na parede. 

Então me lembro daquele carro que vi mais cedo e da lembrança que isso me trouxe. 

Eu tinha 17 anos e estava lavando minha bicicleta com uns moleques perto da saída da rua. Quando um carro preto parou perto de mim, logo o vidro da porta de trás foi aberto e um homem jovem com pinta de empresário daqueles das empresas da rua em frente me disse:

__Olá, sabe me dizer se essa rua vai até a sexta com a Birmigham? 

Eu me levantei, ele encarou meu corpo talvez porque eu estivesse sem camisa e meio molhado e disse a ele: 

__Acho que você sabe que sim, tem cara que vai para lá todos os dias. E creio que seu carro tenha GPS. 

Ele sorriu, retirou os óculos e disse: 

__Tem razão, eu só queria mesmo falar com você. 

Já vi esses caras pararem aqui, conversarem com caras da minha idade e levarem eles para algum lugar em troca de dinheiro ou presentes. Eu não vou mesmo cair nessa. Não dou muita confiança e volto a lavar minha bicicleta e ele diz:

__Não gostaria de dar uma volta?

Ele sabe que sei o que ele pretende e digo com firmeza:

__Não, obrigado. 

Matt me grita de longe e eu respondo. O cara no carro fica me olhando e então diz:

__Então tudo bem.

Ele dá ordens ao motorista e seguem adiante, mas antes de subir o vidro ele me olha mais uma vez. Mas lá a frente vejo ele falando com outro cara que depois de pouca conversa já entra no carro com ele. 

Vi aquele mesmo carro passar algumas vezes perto de mim, mas nunca mais o vidro abaixou para eu ter certeza de que era o mesmo cara. Então dias depois o vi na televisão, um milionário com uma empresa de publicidade de sucesso, Tristan Manson. Eu só pensei no quanto as pessoas não faziam ideia do que ele fazia quando passava por aqui, já que do seu lado estava uma super modelo.  

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