Capítulo 5

...Alyssa Narrando...

Eu ainda não conseguia entrar na minha antiga casa, isso ainda levaria um pouco mais de tempo. Mais ao menos no restante do dia consegui ajudar a minha mãe a preparar alguns alimentos que ela vendia no trailer da família.

Quando a minha mãe saiu com o meu pai, me sentei nas escadas e me perdi em pensamentos, como a minha vida podia ter mudado tanto assim, eu olhei para a casa ao lado e senti um aperto no peito, a casa que conquistamos com tanto esforço não tinha vida, uma lágrima solitária saiu, eu fechei os olhos e respirei fundo, a vida sem o Harry ia ser muito difícil.

— Oi, oi? Está me ouvindo? — Dona Rejane me chamava.

— Oi, me desculpe eu… nada, não é nada. O que vocês querem? — Perguntei no plural porque Hanna também estava lá.

— Saber como está? — Hanna ressaltou 

— Ainda não sei como responder essa pergunta. Mas, e vocês? 

— Nós estamos indo bem! Um dia de cada vez.

— É, eu sei como é! 

— Bom, vou deixar vocês aí, preciso fazer o jantar. — Dona Rejane disse desanimada.

— A minha mãe fez bastante comida, por que não chama o meu sogro… Quer dizer o senhor Robert e vem jantar aqui. 

Dona Rejane percebeu a tristeza estampada no meu rosto e aceitou, chamou Robert, eu preparei a mesa e os servi.

— A sua mãe sempre cozinhou bem! — Dona Rejane fala levando mais uma colherada a boca.

— Mamãe, a senhora admitindo isso? — Hanna falou sorrindo

— Se alguém aqui disser isso a ela, eu vou negar. — Afirmou Rejane e todos riram.

— E você Alyssa, o que planeja fazer? — Robert perguntou.

— Não sei, amanhã vou sair para procurar emprego, preciso me ocupar.

— Está certa, precisa mesmo fazer isso, eu fico feliz em vê-la tentando. — Robert completa.

— Obrigada, mais não quero nada no meu ramo, quero algo que me torne praticamente invisível, só quero ocupar a minha mente.

— Bom, estão contratando na empresa que eu trabalho, sei que não é o que está acostumada, mais eles até que pagam "bem". Logo terminarei a faculdade e agradeço a esse emprego que está me ajudando a pagar o meu curso. — Hanna fala.

— Pode ser, amanhã mesmo irei com você. — Digo e Hanna sorrir.

Terminamos de jantar e eu sirvo sorvete para eles, coloco a louça na lava-louças, conversamos por bastante tempo, eu faço um café e continuamos, e então os meus pais chegam.

— Estão engordando as minhas custas? — A minha mãe fala assim que os ver a mesa.

— O QUÊ? — Dona Rejane grita sem largar o sorvete, que comia pela terceira vez — Quem quer comer a sua comida? É horrível! — Ela completa e sabemos que vem uma discussão por aí.

— Tenho mãos de fadas, a sua comida que deve ser horrível, olhe só para o seu marido e a sua filha, tão magrinhos. — Minha mãe fala com aquele olhar de pena que chega a ser engraçado.

— Antes magrinhos do que ser rolha de poço! 

— O que você disse? — Mamãe diz brava

As duas correm em torno da mesa e aquilo é muito engraçado, Robert e Hanna arrastam Dona Rejane para casa e o meu pai segura a minha mãe.

— Não quero essa gente aqui em casa! — Minha mãe diz arrumando as roupas.

— A sua comida é maravilhosa, eles são atraídos pelo cheiro. — Digo e a minha mãe abre um sorriso. — Vou me deitar, amanhã sairei com a Hanna, vou atrás de um emprego.

— Filha, pode voltar para o hotel, o seu ex chefe já disse que sempre terá uma vaga lá para você, ou para aquela empresa onde estava estagiando, sempre te elogiaram. — Minha mãe fala.

— Não, esses lugares estão carregados de lembranças, eu não vou conseguir, quero algo novo, pode não ser o que eu espero, mais… 

— Não precisa nos explicar, faça o que quiser filha. — O meu pai fala percebendo o meu desconforto.

Dou um beijo de boa noite neles e vou me preparar para dormir.

Na manhã seguinte acordo cedo, faço a minha higiene, visto uma calça jeans e uma blusa de manga, pego o meu casaco e bolsa, tomo café e recebo uma mensagem da Hanna, pedindo para que eu vá às onze horas, até a agência.

Respondo com um “tudo bem” mais ja saio de casa, quero andar pelas ruas, e é exatamente o que eu faço, após horas caminhando chego a agência. 

Tem outras mulheres lá, das mais variadas idades, vou até a moça da recepção passo o meu nome e ela me manda aguardar, me acomodo e espero chegar a minha vez, se eu soubesse que seria por ordem de chegada teria vindo antes.

— Alyssa Davis. — Uma mulher finalmente me chama, me levanto e entro na sala, sento e ela me olha de cima a baixo. — Você já trabalhou com limpeza antes? 

— Sim.

— Você é muito bonita para trabalhar nesse ramo, bom, aqui diz que já trabalhou de atendimento de caixa, recepcionista, cozinheira, área de estética, contabilidade, mas não diz nada sobre limpeza. — A mulher acrescentou olhando o meu currículo.

— Eu sei que aí não diz nada sobre limpeza, mais nos meus cargos anteriores sempre deveríamos fazer algo se não tivesse clientes, e a limpeza fazia parte.

— Porque quer esse trabalho? Como o seu currículo você consegue coisa melhor.

Eu já ia falar quando o telefone dela tocou, ela me pediu um minuto, e pelo seu semblante a coisa não era boa, quando a ligação foi encerrada ela colocou o telefone no gancho e continuou de olhos fechados.

— Nem quase morrendo esse homem deixa de ser um cretino. — Ela resmunga. — Tem certeza que é isso que quer?

— Sim, senhora!

— Tudo bem, vamos fazer um teste de avaliação, você começa amanhã, vamos te dar o uniforme e você assinará alguns papéis, preciso que organize esses documentos e me traga, não precisa depressa. — Ela fala me entregando um papel.

— Tudo bem. Obrigada.

— Passe na recepção, vão te informar aonde você deve ir pegar o seu uniforme e te passar o endereço.

— Sim senhora.

Saio da sala respirando aliviada, pensei que ela não me daria uma chance, mas, consegui o emprego! Pego o meu uniforme e a recepcionista fala que me mandará o endereço em breve, volto para casa, os meus pais ficam felizes, mesmo não sendo o que querem para mim, gradualmente eu volto a me redescobrir, e esse emprego era só temporário, talvez fosse o que eu precisava no momento.

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