Capítulo 4

Lia Thomas

Acho que dormi a tarde inteira, vou até o banheiro que é muito pequeno e só tem basicamente um box apertado, um espelho e um vaso sanitário. Olho meu rosto no espelho e vejo como está inchado, faço uma massagem para ajudar a melhorar a situação, e entro no banho quente para o sangue circular com mais facilidade.

Molho meus cabelos me permitindo sentir o calor daquela água, por todo meu corpo. Eu tenho que dar um jeito de sair dessa casa o mais breve possível, se o noivo da Beatrice for tão insuportável quanto ela eu não sei o que será de mim.

Aqueles pensamentos tomam conta de mim e quando eu saio do chuveiro com meus cabelos pingando, olho no espelho e vejo como meus olhos que são verdes estão com uma coloração diferente, as vezes isso acontece. Por minha pele ser muito clara, fico bem vermelha devido a temperatura da água.

Vou me secar, e colocar uma roupa minha barriga já está roncando e vou ver se encontro Germana para saber se tem alguma coisa que eu possa comer, visto uma calça moletom e uma blusinha regata, não faço ideia se já está muito tarde da noite, meu celular descarregou e não tive nem cabeça de colocar para carregar.

Vou até a cozinha e as luzes estão apagadas, só existe uma meia luz pela qual vou me guiando, ao chegar na cozinha vejo em cima do fogão algo separado e em cima tem o nome Lia, acho que Germana deixou isso para mim.

Me sento cuidadosamente para não fazer nenhum tipo de barulho, e aprecio minha comida, parece que eu não me alimentava tinha muito tempo, estava uma delícia, foi um acalento ao meu estômago quase vazio.

Eu estava completamente distraída me alimentando, quando sinto uma presença naquela quase completa escuridão, escuto uma voz masculina bastante intensa e um pouco rouca

Homem: Acho que você deve ser a Lia - Eu viro imediatamente para a direção dele, e sinto uma corrente elétrica me invadir quando cruzamos os olhares- Eu sou seu cunhado, David Connor

Lia: o-olá Sr. David, me desculpa por incomodar você eu só vim aqui comer e já estou voltando para o meu quarto, prometo não atrapalhar você.

David: Calma garota, parece que viu uma assombração, eu não sabia que assustava tanto assim - fala e dá um sorriso de canto de boca que me fez sentir como se borboletas quisessem me atravessar- pode continuar sua janta, eu apenas vim tomar um pouco de água.

Lia: Tudo bem Sr. David, eu já estou quase acabando

David: Por favor, não me chame de Sr. que eu me sinto mais velho do que eu sou

Lia: Tudo bem, eu vou tentar - o seu olhar é penetrante, e profundo, eu sinto algo estranho em mim que não sei explicar, enquanto ele está com seus olhos grudados aos meus- desculpe, mas vou me retirar não quero atrapalhar mais, boa noite.

Digo me levantando automaticamente e deixando a louça na pia, vou saindo sem nem dar tempo para ele responder alguma coisa.

Vou quase que correndo até o quarto que parece que não chegarei nunca, eu nunca senti algo parecido com isso, e foi um pouco estranho.

Entro no quarto e sento na cama com esperança de que aquela sensação passe logo e de que eu consiga organizar minhas ideias com rapidez.

Vejo no relógio do celular que ainda não passou das 10 da noite, e eu estou completamente sem sono e aqui dentro desse quarto não tem absolutamente nada para fazer.

Fico ali dentro esperando o tempo passar, e parece que o tempo se arrasta, eu não estou mais conseguindo ficar aqui dentro, estou me sentindo sufocada, e decido ir até o jardim para respirar um pouco de ar puro.

Sempre gostei de flores, e aqui existe uma enorme variação delas, vou andando para fora do quarto sem ter nem noção de como chegarei até lá fora novamente, e se o David ainda está lá.

Vou rezando para não cruzarmos novamente o caminho, e consigo chegar até o jardim sem esbarrar com ninguém, respiro um pouco aliviada, tenho sorte de isso aqui ser muito grande e ter muita coisa para eu olhar até que o sono venha novamente.

Por um segundo lembro dos meus pais e meus olhos se enchem de lágrimas, sinto um forte aperto no peito e a respiração não está me ajudando. Sento na grama na tentativa de voltar a sentir meu corpo em seu estado normal, e alguns minutos depois vejo que consegui.

Me deito na grama, ignorando o frio mesmo estando com uma calça moletom e um agasalho, acho que isso não é o suficiente. Surpreendemente aquele frio me causa uma sensação de dor e de prazer ao mesmo tempo que eu não consigo explicar.

Fico olhando atentamente para o céu que está incrivelmente cheio de estrelas, encaro elas por um longo período, e sinto como se meus pensamentos se esvaíssem e minha cabeça fosse um grande vazio.

Sinto todo o meu corpo congelar, e não sei como mas fecho os olhos por uma fração de segundos. E não sei quanto tempo passo ali, estranhamente sinto alguém me puxar e me colocar no colo.

Quando abro os meus olhos, vejo os olhos verdes mais penetrantes que vi na vida, aquela barba que estava impecável e um cheiro amadeirado, sensual invadem meu nariz e colapsam meu sistema nervoso, sentir o seu toque no meu corpo me faz ter muitas sensações que eu não poderia sentir.

Isso é errado em tanto níveis que eu nem consigo descrever.

Inebriada por aquele perfume, me perco em pensamentos que logo são interrompidos por uma voz grossa

David: Você não deveria fazer isso, está muito frio lá fora e sua estrutura não te permite passar por isso sem pelo menos estar coberta de casacos -fala isso me colocando no chão perto da lareira do que parece ser uma biblioteca- está tudo bem com você?

Fico nervosa só de ouvir a voz dele, e nem sei o que pensar

Lia: Não foi intencional, estava sem sono e resolvi olhar as flores, me deitei um pouco para ver as estrelas também e fechei os olhos sem perceber, o frio até que foi uma ótima companhia - olho nos seus olhos e parecem que labaredas de fogo estão prestes a me invadir-.

David: Se precisar de alguém para conversar, eu estou aqui, pode ficar a vontade que eu não mordo ninguém, apenas se me pedirem- fala me lançando um olhar que me queimou inteira por dentro-.

Lia: Não precisa se preocupar comigo, eu já estou bem

Falo e vou saindo quando sinto sua mão me puxar e colar os nossos corpos deixando sua boca perto o suficiente para que eu possa sentir o cheiro do álcool que sai dela, ele segura minha cintura com uma única mão forte o suficiente para eu sentir minhas pernas ficarem trêmulas

David: Não precisa fugir todas as vezes que nós encontrarmos - eu consigo me afastar um pouco e normalizar meus pensamentos.

Lia: Eu não estou fugindo, só não quero fazer você perder seu tempo comigo, estou indo me deitar pois estou cansada

Falo e saio, dessa vez não permitindo ele me alcançar, eu não sei o que foi isso, mas tenho certeza que não deve ser uma coisa certa.

Lia Thomas

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