Capítulo 6

25 de fevereiro de 2015

Narra Lucas

Naquela noite, os pais de Ryan deixaram que ele dormisse em minha casa. Era o aniversário de minha mãe que estava completando seus 33 anos. Meu pai preparou um churrasco, meus tios trouxeram os vinhos e todos jantamos com alguns amigos. Ryan, Raul e Bianca e os pais dela também estavam presentes, só não estava o Matheus, a hiena. Depois do jantar, os adultos ficaram no quintal conversando, enquanto Lucas e seus amigos foram para a sala e colocaram o filme “João e Maria: Caçadores de Bruxas.”

Nos sentamos no sofá e começamos a assistir ao filme. Raul sentou perto de Bianca e eu de Ryan. Raul e Bianca ficaram conosco até o fim do filme e já estava dando 21:30 da noite. Meus pais se despediram dos convidados e eu pedi aos pais de Ryan para que ele pudesse ficar conosco esta noite, eles concordaram. Ficamos jogando Minecraft até 22:20 e eu percebi que Ryan me via com um olhar meio pervertido.

Eu ficava olhando para ele, mas tentava disfarçar o olhar. Nós estávamos no modo sobrevivência e do nada, ele me ataca e eu sorrio, atacando ele também.

Nós começamos a brigar no Minecraft e depois começamos a fazer uma guerra de travesseiro no sofá, e do nada eu escorrego e acabo puxando ele. Eu caio deitado no sofá e Ryan cai em cima de mim. E segurando meus dois braços, ele diz:

Eu venci, você perdeu!

Eu tento me livrar dele, mas ele é bem forte.

Quando eu consigo me levantar, ele me dá uma chave pelo pescoço e esfrega as patas na minha cabeça. Eu me livro de novo e agora encaro ele no sofá, mostro os dentes com cara de lobo mau e digo:

E agora? Quem venceu?

Oh não, o lobo mau! — diz Ryan, enrolando um pano vermelho na cabeça quando escuto a porta do quarto de meus pais se abrindo com minha mãe aparecendo nas escadas e dizendo — Não façam muito barulho, meninos — e voltou para o quarto fechando a porta. Nós ficamos na sala até às 11 horas quando minha mãe aparece de novo e fala para irmos dormir.

Mas antes de dar 11 horas, colocamos outro filme de terror chamado “A garota da capa vermelha”. A protagonista era a chapeuzinho vermelho, que era perseguida pelo lobisomem. Ocasionalmente, eu fazia cara de lobo mau e mostrava os dentes

para Ryan. Ele ria e, ao mesmo tempo, parecia meio assustado, eu mordia o seu rosto, rosnava e Ryan me empurrava. Ele já estava meio assustado e quando o filme acabou, subimos as escadas e fomos dormir.

Ryan colocou sua roupa de dormir e eu a minha. Ele se deitou em um colchonete e eu na minha cama.

Ryan estava com um pouco de medo, eu podia ver isso. Eu resolvi pregar uma peça nele ao fingir que estava me transformando em lobisomem. Como o quarto estava meio escuro e meus olhos brilhavam, eu comecei a me contorcer na cama e rosnar o seu nome. Ryan tentou se levantar do colchão, mas eu puxei ele pelo rabo. Ele se soltou e tentou alcançar a porta, mas ela estava trancada.

Eu fui na direção dele com as garras e dentes à mostra, rosnando e Ryan começa a pedir para parar, fazendo aquele barulho que os guaxinins fazem quando estão sem saída. Achei tão engraçado que comecei a rir dele e ele, meio zangado, pegou um sapato, jogou na minha direção e voltou para a cama. Eu fiquei rindo dele e ele se deitou meio emburrado. Eu volto para minha cama e digo:

Você tá com medo do lobo? — ele confirmou com a cabeça.

Deita aqui — eu disse a ele.

Ele se deitou no meu lado meio emburrado.

O pelo dele era tão quentinho e aconchegante que eu gostava de ficar perto, eu digo:

Boa noite, guaxinim.

E ele diz:

Boa noite, lobisomem — eu dou um rosnado e fecho os olhos. Narra Ryan

Tive um sonho estranho naquela noite. Lucas e eu estávamos na escola em nossas carteiras, a professora pediu para apresentarmos o trabalho e do nada a nossa roupa sumiu na frente de todo mundo. Todos ficaram rindo da gente e tirando fotos.

Meu Deus! Quão vergonhoso isso era — eu pensei e do nada, Lucas acabou me beijando na frente de todo mundo e estávamos só de cueca

Ele se vira e eu fico por baixo dele. Ele me dá um beijo na boca, eu retribuo enquanto ele me encarava com seus olhos pretos e eu ficava imóvel com a impressão de que estava acontecendo um curto circuito na minha mente

Eu caí em mim e acertei um tapa no rosto dele sem querer

— Desculpas ! - disse para ele e ele também disse um desculpas !

O que nós acabamos de fazer ? — pergunta Ryan, olhando para Lucas.

Desculpa, Ryan — diz Lucas — foi por impulso , Não, a culpa foi minha —- disse o guaxinim

Os dois ficaram estranhos.

Ryan voltou para o colchonete e Lucas ficou na sua cama e se perguntou, confuso, o que tinha sido aquilo.

Uma confusão estava se formando na cabeça de Ryan. Ele gostava muito de Lucas, mas não se imaginava fazendo aquilo com o seu melhor amigo. Eu não sou gay — disse Ryan, a si mesmo

No dia seguinte

Desculpa, foi só um impulso, não vai acontecer de novo — disse Ryan.

Tudo bem, deixa isso pra lá, vamos esquecer isso — Lucas diz isso, desviando o olhar.

Ryan e Lucas haviam gostado da sensação daquele primeiro beijo , mas se os pais deles descobrem com certeza daria um grande problema, já que não só seus pais, mas também o país era bastante homofóbico.

Ryan pensamento

É melhor a gente manter isso em segredo — disse Ryan, sorrindo.

Ok — disse Lucas, corando. Narrador narrando

Ryan e Lucas descem as escadas como se nada tivesse acontecido.

Queria fazer isso de novo — pensou Ryan.

Essa sensação foi estranha, mas boa — Lucas pensou.

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