Os últimos dias tinham sido um respiro de alívio, mas também carregavam uma tensão discreta, como uma sombra que se esconde nas esquinas da mente. Francine finalmente estava fora de nossas vidas, pelo menos por enquanto. Era como se uma tempestade tivesse se dissipado, deixando um céu limpo, mas com nuvens ainda à espreita. Lucas continuava vindo do trabalho para casa, e a sua presença parecia mais carregada de significado. Ele ainda não dizia muito, mas havia uma mudança sutil em sua postura, uma quietude diferente que me fazia acreditar que talvez ele estivesse tentando enxergar as coisas com mais clareza.
No entanto, eu me forçava a não deixar minhas expectativas criarem raízes. Depois de tudo o que aconteceu, minha prioridade era o bebê. Lucas tinha que provar a si mesmo antes de tentar provar qualquer coisa a mim. Eu precisava ver ações concretas, um esforço genuíno para reparar os danos que sua indiferença havia causado.
Naquele fim de semana, Mila sugeriu um jantar em família na mansão. Dona Ester também convidou meus pais. “Vai ser uma oportunidade perfeita para relaxarmos depois de semanas tão tumultuadas”, disse ela com aquela voz suave que sempre me acalmava. Apesar da minha relutância inicial, acabei concordando. O desejo de reconectar com as pessoas que amava falava mais alto.
— Vai ser bom para todos nós — Mila insistiu ao telefone, sua convicção quase contagiante.
Assim que cheguei à mansão da família Montenegro, fui recebida com um abraço caloroso e o aroma reconfortante de comida caseira. A mesa estava posta com toalhas brancas e talheres brilhantes, e a conversa fluía entre Mila, Ester e Lucas, meus pais, o pai dele e sua irmã. Era uma cena quase normal, algo que eu não vivia há tanto tempo que parecia um sonho distante.
Estávamos terminando o jantar quando Ester começou a se sentir mal. Pousou o garfo no prato e segurou o peito com uma expressão de desconforto que fez meu coração disparar.
— Ester, o que houve? — perguntei, aproximando-me rapidamente.
— Não sei, minha querida. Só um mal-estar — respondeu ela, tentando disfarçar sua agitação, mas o suor em sua testa contava outra história.
Sem pensar duas vezes, levei Ester para o sofá e comecei a examiná-la. Seu pulso estava acelerado e ela parecia ligeiramente pálida. Peguei minha bolsa e tirei um pequeno estojo com itens médicos que sempre carrego — um reflexo da minha experiência adquirida no hospital e do meu instinto de médica protetor.
— Respire fundo para mim, Ester. Vamos garantir que não seja nada sério — pedi com firmeza.
Enquanto realizava os procedimentos básicos, percebi que Lucas observava tudo em silêncio, encostado na porta da sala. Ele parecia surpreso, como se nunca tivesse me visto dessa forma antes — forte e decidida.
Mila estava ao meu lado também ajudando; trouxe água e toalhas enquanto seu olhar transparecia preocupação.
— Lívia, o que você acha que pode ser? — ela perguntou com a voz trêmula.
— Parece só uma indisposição. Talvez um pico de pressão ou algo que comeu — respondi calmamente — mas acho melhor observarmos por algumas horas por precaução.
Depois de algum tempo angustiante de espera e monitoramento cuidadoso, Ester começou a melhorar. Embora ainda estivesse se sentindo fraca, já parecia mais estável.
— Obrigada, minha querida. Você tem um dom para cuidar das pessoas — disse Ester ao segurar minha mão com um sorriso fraco que iluminou seu rosto pálido como um raio de sol após a tempestade. “Está no caminho certo”, acrescentou ela com aquela sabedoria silenciosa dos mais velhos.
— Não foi nada, Dona Ester. O importante é que está se sentindo melhor agora — respondi humildemente.
Enquanto Ester descansava no sofá cercada pelo amor da família preocupada por ela, fui até o lavabo para lavar as mãos e limpar a mente das tensões do dia. Lucas me seguiu silenciosamente e pela primeira vez em dias estivemos sozinhos.
Ele encostou-se na bancada da pia com os braços cruzados enquanto me observava intensamente.
— Você é... incrível com as pessoas — disse ele depois de alguns segundos de silêncio pesado.
Olhei para ele surpresa; suas palavras eram como música suave em meio ao caos.
— É o que faço, Lucas. Cuidar é a minha profissão e é algo que eu amo profundamente — respondi sinceramente.
Ele desviou o olhar para longe como se estivesse refletindo sobre algo mais profundo.
— Acho que nunca realmente percebi isso — confessou ele lentamente.
Havia uma sinceridade em sua voz que me deixou desconcertada; eu queria acreditar nele mas era difícil deixar as feridas do passado serem esquecidas tão facilmente. Se fosse há alguns meses atrás eu teria ficado feliz com o elogio; no entanto agora parte de mim ainda estava cautelosa e hesitante.
— Talvez porque você nunca quis ver realmente — respondi sem querer parecer rude mas também sem suavizar minhas palavras; precisava ser honesta naquele momento crucial.
Ele suspirou pesadamente passando as mãos pelos cabelos num gesto nervoso.
— É… talvez eu realmente não tenha olhado direito antes.
Por um momento ficamos em silêncio; ele parecia querer dizer mais mas as palavras não saíam como se houvesse algo intransponível entre nós dois.
Mais tarde naquela noite quando todos já estavam indo embora vi Lucas ajudando Dona Ester a ir para o quarto com Mila ao seu lado; ele parecia preocupado mas também demonstrava uma ternura genuína que eu não via há tempos. Aquela cena tocou meu coração: era como se houvesse uma nova camada na nossa relação começando a surgir lentamente entre as fissuras do passado conturbado.
Quando voltamos para casa após aquela noite tumultuada mas cheia de pequenos momentos significativos ele ficou em silêncio novamente; no entanto algo na maneira como me olhou antes de subir para o quarto deixou-me inquieta e esperançosa ao mesmo tempo. Era como se pela primeira vez ele estivesse vendo a verdadeira mulher com quem se casou: forte mas ferida; determinada mas vulnerável.
No entanto eu sabia que esse momento inesperado de proximidade ainda não era suficiente para apagar tudo o que aconteceu entre nós; Lucas tinha muito o que reconstruir após ter deixado tantas coisas desmoronarem ao seu redor nos últimos tempos. Mas pela primeira vez em muito tempo senti uma pequena chama acender dentro de mim: talvez houvesse uma chance dele finalmente entender o que eu sempre tentei mostrar: que este casamento poderia ter sido algo real se ele tivesse permitido isso antes das sombras tomarem conta do nosso amor.
Agora restava esperar pacientemente para ver o que ele faria com essa nova visão começando a surgir diante dele; cada dia seria um passo nessa jornada repleta de incertezas mas também repleta de esperanças renovadas onde poderíamos nos reencontrar em meio ao caos da vida juntos novamente como parceiros verdadeiros na luta pelo nosso futuro e pela felicidade do nosso bebê querido.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
gata
Eu só acho que a autora tá querendo terminar logo esse livro.
2025-01-07
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