Capítulo 18 - A Investigação de Lucas

Os dias que se seguiram à nossa conversa foram silenciosos, mas cheios de tensão. Lucas parecia distante, mas eu sabia que algo estava mudando. Ele não tinha voltado para as escapadas noturnas que faziam nossa casa parecer um hotel. Ao invés de um lar, observando-me em silêncio, quase como se estivesse tentando entender algo que havia ignorado por muito tempo.

Quanto a mim, concentrei-me no trabalho, faculdade, estágio e no meu bebê. A dor de pedir o divórcio ainda me corroía, mas eu precisava proteger minha saúde e a do bebê. Já tinha me esgotado tentando lidar com Francine e as constantes dúvidas de Lucas. Agora, minha prioridade era outra.

Naquela semana, Lucas começou a juntar as peças. Cada vez que Francine aparecia, com mais histórias e manipulações, algo nele parecia se desconectar. Durante uma conversa com ela, ele percebeu como as palavras dela não combinavam com a realidade.

— Lucas, você acredita que Lívia ainda está tentando acabar com a gente? — Francine disse, com sua expressão habitual de vítima.

Ele cruzou os braços, observando-a com um olhar fixo.

— Como assim, Francine? O que ela fez agora?

— Ah, Lucas, você não entende! Ela está espalhando mentiras sobre mim, me ameaçando pelas costas. Até comentou que vai usar o bebê para te prender! — Ela fez uma pausa dramática, enxugando uma lágrima inexistente. — Por que você não se divorcia logo dela?

Lucas estreitou os olhos.

— Como você sabe que Lívia está grávida? Ela acabou de me contar.

Francine congelou por um segundo antes de forçar um sorriso.

— Ah, ouvi rumores... sabe como é, as pessoas comentam.

Lucas percebeu que Francine estava nervosa. Ela sempre parecia ter a resposta perfeita, mas dessa vez, a hesitação dela foi evidente. Algo estava fora do lugar.

Decidido a descobrir a verdade, Lucas começou a investigar mais profundamente o que realmente aconteceu na noite fatídica. Ele sabia que havia sido drogado, mas as circunstâncias daquela noite permaneciam nebulosas. Foi até um dos amigos que estavam presentes no evento e o confrontou.

— Eu preciso que você seja honesto comigo, Rafael. O que aconteceu naquela noite? — perguntou Lucas, com uma seriedade que não deixava espaço para rodeios.

Rafael hesitou antes de responder.

— Olha, cara, você estava mal. Alguma coisa no seu drinque te derrubou. Eu vi quando a sua avó te chamou e vocês subiram as escadas e depois sua avó desceu sozinha, Francine ficou louca atrás de você. Ela parecia preocupada de verdade, mas eu não sei mais nada além disso.

Lucas ficou pensativo. A lembrança de sua avó chamando para conversar e subir as escadas com ela retornava em flashes. Havia algo puro e protetor nela naquela noite.

— E Francine? Onde ela estava? — insistiu Lucas.

Rafael deu de ombros.

— Ela estava por ali, sabe como é. Mas, se quer saber minha opinião, nunca confiei muito nela. Ela parecia mais preocupada em controlar a situação do que em te ajudar.

As palavras de Rafael ecoaram na mente de Lucas enquanto ele começava a aceitar uma verdade desconfortável: Francine tinha manipulado tudo desde o início.

Ao voltar para casa naquela noite, Lucas me encontrou sentada no sofá com um livro na mão. A leitura era minha forma de esquecer os problemas, mas a presença dele me deixou tensa. Eu podia sentir seus olhos sobre mim, como se ele estivesse tentando decifrar algo.

— Você precisa de alguma coisa? — perguntei, sem levantar os olhos do livro.

— Não. Só estou te observando — respondeu ele, em um tom que parecia mais reflexivo do que acusador.

Levantei o olhar, confusa. Lucas não era o tipo de homem que admitia abertamente estar errado, mas algo no olhar dele parecia estar mudando.

— Por quê? — perguntei, desafiadora.

— Porque acho que nunca te observei de verdade antes. Apesar de ter sido amigos por anos.

Engoli em seco, sem saber como responder. Ele desviou o olhar e subiu as escadas, deixando-me sozinha na sala, mas com o coração ainda batendo acelerado por causa de suas palavras.

Dias depois, Lucas decidiu confrontar Francine diretamente. Ele marcou um encontro com ela em um café discreto. Quando ela chegou, com sua postura confiante e olhar manipulador, ele já estava preparado.

— Francine, precisamos falar sobre a noite da festa — começou ele, sem rodeios.

Francine sorriu, ajeitando o cabelo.

— Claro, querido. Sobre o que exatamente?

— Sobre como eu fui drogado e como você tentou usar isso contra a Lívia.

O sorriso de Francine vacilou.

— Eu? Lucas, você sabe que eu nunca faria algo assim. Foi a Lívia que...

Ele levantou a mão, interrompendo-a.

— Pare de mentir, Francine. Já investiguei o suficiente para saber que Lívia tentou me ajudar naquela noite. E agora, com tudo o que aconteceu, estou começando a ver quem você realmente é.

Francine tentou retrucar, mas Lucas se levantou, jogando algumas notas na mesa para pagar o café.

— Isso acaba aqui. Não vou mais permitir que você manipule minha vida.

Naquela noite, Lucas voltou para casa mais cedo. Encontrei-o na sala, onde ele parecia perdido em pensamentos. Quando me viu, levantou-se imediatamente.

— Lívia, podemos conversar?

Eu o encarei, hesitante, mas assenti.

— O que foi agora, Lucas?

Ele respirou fundo, parecendo genuinamente arrependido.

— Eu... queria te pedir desculpas. Por tudo. Por não ter te ouvido, por ter acreditado nas mentiras da Francine, por ter te ignorado...

Minhas mãos tremeram, e senti as lágrimas ameaçando cair novamente.

— Lucas, eu não preciso das suas desculpas. Preciso de ações. Preciso saber que você vai nos proteger, a mim e ao bebê.

Ele assentiu, os olhos fixos nos meus.

— E é isso que vou fazer, Lívia. Vou corrigir meus erros, e vou fazer o que for necessário para nos proteger. Me dê uma chance, não peça o divórcio apesar que eu mereço.

Havia sinceridade em sua voz, mas parte de mim ainda estava relutante em acreditar.

Lucas começou a demonstrar que queria mudar. Ele me observava com mais atenção, participava das conversas e, acima de tudo, parecia genuinamente interessado no bem-estar do bebê. Me ajudava com o café da manhã, passava no hospital na hora do almoço para saber se estava me alimentando bem, me ajudava no jantar.

Mas, enquanto ele tentava reconquistar minha confiança, uma coisa era certa: Francine não iria desistir tão facilmente.

Eu sabia que nossa luta ainda estava longe de acabar, mas, pela primeira vez em meses, senti que Lucas estava realmente ao meu lado.

Agora, cabia a nós enfrentar o que viesse e proteger a nova vida que estávamos prestes a trazer ao mundo.

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