Capítulo 15: Francine e suas histórias e a desconfiança de Lucas

Os últimos meses têm sido uma montanha-russa de emoções. Lucas e eu estamos casados há quase três meses, e tudo o que deveria ser um início de vida a dois perfeito tem sido obscurecido por uma sombra constante: Francine.

Eu tento me concentrar nas pequenas alegrias. O simples fato de saber que estou grávida deveria ser o suficiente para preencher meu coração com felicidade, mas tenho medo de contar para Lucas. Não é que eu duvide dele, mas Francine é como uma erva daninha em nossas vidas, se agarrando a tudo e distorcendo a realidade.

Minha mãe é a única que sabe sobre a gravidez, além do meu pai. Eles têm sido meu refúgio nesse momento, mas sei que não posso esconder isso para sempre. Lucas precisa saber. O problema é que, sempre que penso em contar, a voz venenosa de Francine ecoa na minha cabeça, e o medo de como ela pode usar essa informação para tentar fazer alguma coisa com meu bebê.

Na última semana, Francine intensificou suas manipulações e mentiras. Hoje pela manhã, Lucas chegou em casa com uma expressão perturbada. Ele parecia perdido em pensamentos, mas eu sabia que algo o incomodava profundamente.

Mais tarde, ele saiu dizendo que precisava resolver algumas coisas no hospital para a avó. Era só uma desculpa, claro. Lucas sempre evitava discutir o que realmente sentia, mas eu conhecia seus padrões. Ele sempre chega em casa pela manhã, toma banho, troca de roupas e às vezes toma café comigo, e isso, de alguma forma, me da esperança.

Do lado dele, Francine continuava agindo. Ela foi ao encontro de Lucas mais cedo naquele dia, inventando mais uma de suas histórias. Segundo ela, eu teria ido até sua casa durante o almoço e a ameaçado.

— Lucas, eu não sei mais o que fazer... Lívia apareceu aqui hoje, no meio do dia, e disse coisas horríveis. Ela me ameaçou. Disse que, se eu não sair da sua vida de vez, ela vai me destruir. Eu estou com medo de verdade — dramatizou Francine, com os olhos cheios de lágrimas cuidadosamente calculadas.

Lucas, embora inicialmente preocupado, começou a conectar os pontos. Durante o almoço, ele foi até o hospital buscar uns exames para a avó. Ficou um tempo na lanchonete ao lado do refeitório e, enquanto aguardava, viu algo que o deixou desconcertado: eu estava lá. Almoçando com um grupo de colegas de trabalho, rindo e completamente alheia às mentiras de Francine.

Lucas me observou por um longo tempo, escondido, tentando entender como aquilo fazia sentido. Se Lívia estava no hospital nesse horário, como ela poderia ter ido à casa de Francine ao mesmo tempo.

Naquela tarde, fui para a casa dos meus pais para conversar com minha mãe. Sentia que estava chegando ao limite. Precisava desabafar. Enquanto me servia uma xícara de chá, ela me olhou com aquele olhar carinhoso que sempre pareceu capaz de ler meus pensamentos.

— Você está inquieta, Lívia. É sobre Lucas ou sobre a Francine? — ela perguntou, calmamente.

Suspirei, sentando-me à mesa com ela.

— Os dois, mãe. E tem mais uma coisa... Eu estou grávida, preciso contar para Lucas e sua família.

Ela sorriu, seu rosto iluminando-se com a notícia.

— Minha filha! Que alegria! Por que você não contou antes? Até que enfim decidiu.

— Porque estou com medo. Francine está manipulando tudo, mãe. Tenho receio de que, se Lucas souber, ela use isso para machucar meu bebê.

Minha mãe segurou minhas mãos.

— Você não pode deixar o medo te consumir, Lívia. Lucas tem o direito de saber. E mais, acho que está na hora de você se abrir com as outras pessoas que te apoiam. A Ester e a Mila. Elas sempre te acolheram.

Assenti, sentindo as lágrimas brotarem nos olhos.

— Você tem razão. Não posso continuar vivendo com medo. Vou contar para Dona Ester e Mila. Elas precisam saber a verdade, e talvez isso ajude Lucas a enxergar as coisas com clareza.

Minha mãe sorriu, apertando minhas mãos.

— Isso mesmo, minha filha. Você é forte. Não deixe ninguém roubar sua felicidade. Você aceitou as imposições de Lucas e parou no tempo, só assistindo Francine aprontar.

Enquanto eu conversava com minha mãe, Francine estava em sua casa, tramando mais um ataque. Lucas, ainda tentando processar o que viu no hospital, decidiu confrontar.

— Francine, precisamos conversar. Sobre o que você disse que a Lívia te ameaçou... Tem certeza disso?

Francine, ao perceber a dúvida em sua voz, intensificou sua atuação. Colocou-se em uma postura frágil, as mãos tremendo levemente enquanto enxugava uma lágrima inexistente.

— Claro que tenho, Lucas! Você acha que eu inventaria uma coisa dessas? Ela veio aqui, me olhou nos olhos e disse que acabaria comigo.

Lucas balançou a cabeça, confuso.

— Mas no horário que você disse, eu vi Lívia almoçando no hospital. Ela estava lá com colegas, rindo, como se nada tivesse acontecido.

Francine hesitou por um momento, mas rapidamente se recuperou.

— Você acha que ela não tem aliados, Lucas? E se ela mandou alguém no lugar dela? Não sei como, mas estou com medo de verdade!

Lucas estreitou os olhos, começando a perceber as inconsistências nas palavras de Francine. Mas antes que pudesse pensar mais a fundo, ela segurou sua mão com força.

— Lucas, eu não posso viver com essa ameaça constante. Eu sonho em ser sua esposa, em construir uma vida com você, mas, com Lívia me perseguindo, tenho medo até de sair de casa! Você não vê? Ela está te manipulando para me destruir.

— Francine, você está a pedir que eu faça o quê? — perguntou ele, com a voz baixa.

Ela apertou ainda mais sua mão.

— Estou pedindo que você se separe dela, Lucas. Por favor. Não quero morrer antes de realizar meu sonho de estar ao seu lado.

Lucas respirou fundo, soltando a mão de Francine e se levantando.

— Preciso pensar sobre isso.

Francine o observou sair, frustrada por não conseguir a resposta imediata que queria, mas satisfeita por ter plantado mais dúvidas na mente dele.

Enquanto Lucas enfrentava as mentiras de Francine, eu estava decidida a acabar com aquela situação de uma vez por todas. Minha mãe tinha razão: Mila minha sogra e Dona Ester sempre me apoiaram, e agora era o momento de envolvê-las.

Naquela noite, escrevi uma mensagem para Mila, pedindo para encontrá-la no dia seguinte. Era hora de revelar não apenas a verdade sobre Francine, mas também sobre a gravidez. Eu sabia que não seria fácil, mas estava pronta.

Francine pode tentar manipular Lucas o quanto quiser. Mas eu não vou mais ficar em silêncio.

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