4 - O Plano de Francine

Eu nunca confiei em Francine, e a cada dia que passava, tornava-se mais evidente que ela também não confiava em ninguém além de si mesma. Mas naquela noite, eu não fazia ideia do quanto ela estava disposta a ir para alcançar o que queria. O que parecia ser apenas uma festa se transformaria em um jogo perigoso, onde as regras eram moldadas pela ambição desmedida de uma mulher que sempre soube como manipular aqueles ao seu redor.

Francine era uma beleza estonteante, isso era inegável. Sempre impecavelmente vestida, sua maquiagem era uma obra de arte que disfarçava a insegurança que pulsava sob sua superfície. Ela tinha um namorado rico, Lucas Montenegro, e parecia estar vivendo o sonho de qualquer jovem da alta sociedade: festas glamourosas, jantares requintados e promessas de um futuro luxuoso. Mas por trás daquele sorriso ensaiado, havia um desespero mal disfarçado, como se ela estivesse constantemente à beira de um abismo.

Os pais de Francine eram donos de um restaurante que já havia conhecido dias melhores. Quando a crise começou a afetar os negócios, sua mãe não se importou e continuou a gastar como se nada estivesse errado: roupas caras, tratamentos de beleza e joias. Enquanto isso, seu pai lutava para manter o restaurante à tona, mas a falta de apoio da família e a má administração o levaram a uma situação crítica. A pressão era insuportável, e eu podia ver isso em seus olhos sempre que seu nos encontrava.

A mãe de Francine depositava todas as suas esperanças no casamento da filha com Lucas. Para ela, esse seria o bilhete dourado para tão sonhada alta sociedade — o sonho que nunca conseguiu realizar por conta própria. Mas eu sabia que Francine não amava Lucas; ele era apenas um meio para um fim. Durante esses anos em que estão juntos, ela o manipulou com maestria, jogando com sua aparência de fragilidade e com a falsa imagem de uma jovem sensível e delicada.

Mas havia outra verdade ocultada sob camadas de falsidade: desde a adolescência, Francine tem um relacionamento secreto com um garoto que ela conheceu na França, agora ele está formado em medicina e faz residência em um renomado hospital na Itália. Era por ele que seu coração batia verdadeiramente; no entanto, esse amor era incompatível com suas ambições desmedidas. Lucas era o caminho mais fácil para garantir o futuro luxuoso que ela tanto almejava.

Naquela noite específica, Francine tinha um plano meticulosamente elaborado. A festa da matriarca da família Montenegro era o cenário perfeito para seu golpe final. Ela pretendia drogar Lucas com uma substância invisível e levá-lo para um quarto onde fingiria ter uma noite de paixão. No dia seguinte, ele acordaria em pânico e vergonha, acreditando ter tirado sua “inocência”, e assim ela pressionaria para se casar.

Com tudo pronto — a substância escondida em sua bolsa — ela se aproximou dele durante a festa com um sorriso angelical nos lábios.

— Amor, achei que você estava me evitando — disse ela com uma voz doce e melodiosa enquanto entregava a taça de champanhe já preparada.

Ele pegou o copo sem desconfiar de nada e tomou um gole despreocupadamente.

— Claro que não! Estou só colocando as conversas em dia — respondeu ele jovialmente antes de se afastar para falar com Dona Ester.

Francine sentiu uma onda de frustração subindo dentro dela. O sucesso do seu plano dependia dele terminar aquela bebida rapidamente. Então decidiu observar à distância, esperando o momento certo para agir.

Mas quando Lucas não retornou após algum tempo, sua impaciência começou a crescer como uma tempestade prestes a desabar. Primeiro procurou entre os convidados no salão principal; depois foi até o jardim iluminado pela luz suave das lanternas penduradas nas árvores. Ninguém tinha visto Lucas.

Desesperada e irritada, subiu as escadas até o seu quarto na esperança de encontrá-lo antes que algo ou alguém pudesse interromper seus planos e acabar tudo completamente. Ao chegar ao corredor dos quartos, deu de cara com Dona Ester.

— Francine! O que faz aqui em cima? — A matriarca perguntou com um sorriso gentil mas claramente desconfiado.

— Eu estava procurando o Lucas... Ele subiu com a senhora e não o viu descer e fiquei preocupada — respondeu Francine, forçando um sorriso.

Dona Ester a encarou por alguns segundos antes de responder:

— Não se preocupe, querida! Pedi que ele resolvesse algo para mim. Logo ele estará de volta.

Aquelas palavras foram como um golpe no estômago para Francine; tudo parecia desmoronar ao seu redor. Fingindo tranquilidade, desceu novamente para o salão da festa enquanto sua mente fervilhava em frustração e raiva.

De volta ao salão magnífico repleto de convidados bem vestidos rindo e dançando sob as luzes brilhantes do lustre central, ela tentou parecer despreocupada enquanto conversava forçadamente com alguns colegas da faculdade. Mas sua mente estava longe dali; não conseguia deixar de notar que Lívia também não estava por perto.

Onde essa garota se meteu?, pensou irritada enquanto procurava por qualquer sinal entre os rostos conhecidos.

Francine sentia uma presença ameaçadora crescendo ao redor dela; Eu, Lívia representava algo inesperado em seus planos meticulosamente arquitetados — uma sombra indesejada em meio ao seu espetáculo cuidadosamente ensaiado.

O tempo passou como areia escorregadia entre seus dedos; cada segundo parecia mais longo do que o anterior enquanto ela tentava manter as aparências na festa animada ao mesmo tempo em que seu plano escorregava lentamente pelo ralo da incerteza e frustração.

E naquela noite fatídica — embora ainda não soubesse disso — o controle sobre Lucas começava a escorregar das mãos de Francine como areia fina entre os dedos... E à medida que as peças do quebra-cabeça começavam a se mover inesperadamente, todos nós estávamos prestes a descobrir até onde cada um estaria disposto a ir por amor ou ambição...

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