Em Busca de Herla, A Maga Suprema

Em Busca de Herla, A Maga Suprema

Capítulo 1: O Selamento da Maga Suprema

A lua cheia iluminava a clareira com uma luz fria e fantasmagórica. As árvores ao redor da Árvore da Eternidade balançavam suavemente ao som do vento, como se tivessem consciência do que estava prestes a acontecer. No centro, cercada por uma barreira mágica pulsante, estava Herla, a mais poderosa maga que o Império de Haison já conhecera.

Ela estava de joelhos, seus cabelos brancos espalhados pelo chão da floresta como uma extensão da luz da lua. A magia que fluía em seu corpo lutava para sair, mas as correntes invisíveis que a prendiam drenavam suas forças. Seus olhos dourados, que antes refletiam poder ilimitado, agora estavam tomados por algo mais profundo: uma tristeza amarga, misturada com a dor da traição.

E, de pé diante dela, estava Elyas. Seu amigo de infância. Seu primeiro amor. O homem que agora segurava as rédeas de seu selamento.

"Por quê?" A voz de Herla era apenas um sussurro, mas a clareira silenciosa pareceu amplificá-la. Era uma pergunta carregada de mil emoções não ditas.

Elyas hesitou. Seus olhos, que costumavam brilhar com curiosidade e afeição, agora estavam obscurecidos pelo medo. Ele não a olhou nos olhos, não ousava. Em vez disso, manteve sua atenção nas palavras do feitiço que ele estava entoando, as mesmas palavras que selariam o destino de Herla.

Por um breve instante, ele se lembrou de outro tempo. Um tempo em que a magia entre eles era uma brincadeira, um laço que os unia como irmãos de alma. Na Academia de Magia de Haisora, os dois eram inseparáveis, compartilhando risadas e promessas sobre como moldariam o futuro do império juntos. Herla, com sua magia natural, e Elyas, com sua mente estratégica, se complementavam. Ela era sua luz, e ele a bússola que a guiava. Mas agora, essa luz ameaçava consumir tudo.

“Você tem que se concentrar!” Elyas sorria debaixo das copas das árvores do pátio da academia, segurando uma pequena chama mágica em sua mão. “Veja, é simples, Herla. Você já controla os elementos de forma natural. Tudo que precisa fazer é focar!”

Herla o observava, meio distraída. Não era exatamente a magia que prendia sua atenção naquele momento, mas o entusiasmo que ele sempre demonstrava. Mesmo quando ela falhava, ele nunca hesitava em acreditar em seu potencial.

“Simples para você, que não tem que lidar com uma força tão caótica,” ela respondeu, embora o sorriso em seus lábios desmentisse qualquer frustração real.

Esses dias pareciam agora tão distantes, como um sonho de uma outra vida.

Ao redor da clareira, os magos que o acompanhavam recitavam encantamentos em uníssono. O poder ancestral que envolvia o local era denso como o ar antes de uma tempestade. Cada palavra dita pelos magos apertava a barreira ao redor de Herla, drenando mais e mais de seu poder. Elyas, no entanto, continuava hesitante. Ele pronunciava as palavras do feitiço com perfeição, mas a cada sílaba sua voz tremia, carregando a sombra da dúvida.

Herla tentou se levantar, uma última tentativa de resistir. Uma onda de magia explodiu de seu corpo, sacudindo a clareira e fazendo as árvores ao redor tremerem. Mas a barreira a envolvia como uma prisão, absorvendo sua energia, sufocando qualquer tentativa de luta.

“Elyas…” Ela chamou por ele novamente, desta vez com mais desespero. A voz dela tremia com a memória dos momentos em que ele era o único que conseguia acalmá-la, a pessoa que sempre acreditava em sua humanidade, mesmo quando outros temiam seu poder.

Mais uma lembrança brilhou em sua mente, tão vívida quanto dolorosa. Lembrava-se de uma tarde em que, tomada por uma explosão incontrolável de poder, quase destruiu a sala de treinamento da academia. Os professores a olhavam com temor, alguns até sugerindo que fosse retirada do curso por sua "instabilidade". Mas Elyas foi o único que a defendeu.

**“Ela é mais forte do que todos nós, mas isso não a torna perigosa,”**ele havia argumentado, a voz firme diante dos mestres. ''Ela só precisa de mais controle. Eu a ajudarei.”

Ele a ajudou, de fato. Foi com ele que Herla aprendeu a dominar suas habilidades, a canalizar o vasto poder dentro dela. Ele a fazia se sentir segura.

Mas a única resposta que ela recebeu agora foi o silêncio. Um silêncio mais cruel do que qualquer palavra que ele pudesse dizer.

A dor era quase insuportável. Não física, mas uma dor que vinha da alma. Herla sentia cada gota de poder sendo arrancada de seu corpo, sua magia—sua essência—desaparecendo nas correntes invisíveis que a seguravam. Ela, que havia protegido o império, que havia derramado seu sangue pela paz, agora era tratada como um monstro. Como uma ameaça.

Elyas, por outro lado, tentava não se permitir sentir. As palavras que ele pronunciava em um tom monótono não eram as suas, mas as do rei Alarion. O soberano, paranoico com a força de Herla, havia se convencido de que ninguém, nem mesmo sua maior aliada, deveria possuir tanto poder. Mas Elyas sabia, no fundo, que aquela não era a escolha certa. O feitiço não era uma medida de proteção, mas de controle.

Ele se lembrou de uma conversa com o rei. "Você está hesitante, Elyas. Eu sei ela é sua amiga, mas o poder dela... é imprevisível. Você, mais do que ninguém, entende o que acontece quando alguém tem força demais. O império já quase caiu por causa de magos como ela." Elyas, influenciado pelo medo de Alarion, começou a se distanciar de Herla, vendo nela a ameaça que o rei tanto pregava. Agora, ele se perguntava quando havia parado de acreditar nela e começado a acreditar nas mentiras do império.

Com sua visão começando a escurecer, Herla se entregou ao inevitável. No entanto, ela ainda tinha uma última carta. Concentrando o que restava de suas forças, ela lançou um feitiço sutil, quase imperceptível. Uma pequena porção de sua magia fluiu para a Árvore da Eternidade, escondida dos olhos de seus captores. Se um dia ela acordasse, aquele fragmento seria sua âncora para recuperar o que fora tirado.

Enquanto o feitiço de selamento alcançava seu clímax, Elyas recitou as palavras finais. A barreira ao redor de Herla brilhou intensamente, e em um instante, ela foi tomada pela escuridão. Mas, nos últimos segundos antes de perder a consciência, ela olhou para Elyas uma última vez. E viu em seus olhos algo que ele nunca admitiria: culpa.

Tudo ao redor de Herla começou a desaparecer. O mundo em que ela vivia há tanto tempo, o império que ela havia ajudado a proteger, se desvanecia em sombras enquanto sua mente se afundava em memórias do passado.

Haisora, a capital do Império de Haison, surgia em seus pensamentos. Lembrava-se das altas torres da academia, das risadas que compartilhava com Elyas enquanto treinavam juntos. Naquela época, a magia era uma dádiva, algo que ambos celebravam com orgulho. O mundo parecia simples, as responsabilidades eram distantes, e o poder dela era visto como uma bênção.

Mas, à medida que seu poder crescia, o medo também cresceu. O rei Alarion, que inicialmente a respeitava, começou a vê-la como algo a ser temido. O poder de Herla era diferente de qualquer outro que o império já havia testemunhado, e com essa diferença veio a desconfiança. Ela não sabia exatamente quando começou, mas sentiu o afastamento. Elyas se tornava mais distante a cada dia, até que um abismo se formou entre eles, movido pelo medo que o rei havia plantado em seu coração.

Agora, à beira de ser selada, Herla se perguntava: **Eu sou um monstro?** Ela olhava para si mesma, para o poder que fluía em seu corpo, e se questionava se o que os outros viam nela era apenas medo de algo incompreendido. **Mereço ser amada?** A pergunta ecoou em sua mente, mas antes que encontrasse uma resposta, a escuridão a envolveu por completo.

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O mundo continuou a girar. Décadas se passaram. O nome de Herla lentamente se perdeu nas histórias do império, transformando-se em uma lenda distante, algo contado para assustar as crianças. Elyas Vergaard, por outro lado, deixou um legado duradouro, reestruturando a Academia de Magia, a instituição que agora moldava o futuro do império. O poder que ele temia, ele tentou controlar, e sua visão de um mundo onde a magia era regulada tomou forma.

Mas o selo de Herla não duraria para sempre.

Algo no coração da Floresta de Velorium começou a mudar. As barreiras que a continham, enfraquecidas pelo tempo, começavam a falhar. Um poder antigo, esquecido, estava prestes a despertar. E com ele, um novo capítulo para o mundo que a traiu.

Herla despertaria. E o império de Haison, que tanto lutou para controlá-la, não estava preparado para o que estava por vir.

A escuridão parecia infinita, como um vazio frio e sem fim. Herla flutuava entre memórias e o abismo que a consumia, incapaz de discernir o tempo ou o espaço. Era como se sua própria consciência estivesse se fragmentando, sua essência se diluindo na vastidão. Não havia mais som, nem toque, apenas o eco de uma pergunta que permanecia imortal em sua mente.

Eu sou um monstro? Mereço ser amada?

Então, aos poucos, algo mudou. Um calor, fraco, mas reconfortante, começou a emergir na escuridão. Inicialmente era apenas uma fagulha, mas foi crescendo, se espalhando como uma chama alimentada por uma brisa delicada. Herla se concentrou nesse calor. Ela reconhecia aquilo, era sua própria magia, o resquício que havia deixado para trás antes do selamento. Estava lá, pulsando, esperando por ela.

Em meio à vastidão negra de Herla, a Árvore da Eternidade brilhou como uma sombra distante de luz prateada. Ela ainda podia sentir a conexão frágil que havia criado com a árvore, um fio de esperança em um mundo que tentou apagá-la. Esse feitiço poderia ser a chave para seu retorno, mas isso exigiria paciência. Muito tempo havia passado, mas Herla sabia que, cedo ou tarde, o selo enfraqueceria.

Ela flutuava entre a consciência e a inconsciência, aguardando o momento certo.

Enquanto sua magia se mantinha adormecida, suas memórias voltaram, agora mais vívidas do que nunca. Lembranças de Elyas, não como o homem que a selou, mas como o garoto que segurava sua mão enquanto os dois sonhavam com um futuro diferente.

A primavera em Haisora era sempre especialmente vibrante, as cerejeiras no pátio da Academia florescendo com uma intensidade que fazia o mundo parecer em câmera lenta. Herla e Elyas costumavam sentar-se sob aquelas árvores, trocando ideias sobre os futuros que imaginavam.

“Eu serei conselheiro real, e você… você será a maga suprema do império!” Ely “Juntos, seremos imparáveis.”

Herla riu, balançando a cabeça enquanto uma pétala de cerejeira caía em seu cabelo. “Suprema? Isso soa terrivelmente solitário. Prefiro ser apenas... eu.”

Elyas franziu o cenho, como se o conceito de Herla não ser a maior maga do império fosse impensável. “Mas você é diferente de qualquer outra pessoa, Herla. Você tem o poder para mudar o mundo, para proteger as pessoas. Como alguém tão forte quanto você poderia ser ‘apenas’ Herla?”

Ela olhou para ele com um meio sorriso. “Talvez eu queira ser vista como mais do que apenas poder. Talvez eu queira ser... normal.”

Normal. Uma palavra que parecia cada vez mais distante conforme os anos passavam. O poder de Herla só crescia, e com ele, a admiração se transformava em medo. Elyas não parecia perceber isso no início, mas conforme os desafios aumentavam, ele começou a se distanciar. Primeiro foi sutil, mas Herla sempre sentiu que havia algo entre eles, algo não dito, que crescia como uma sombra silenciosa.

De volta à escuridão do selo, Herla sentia uma tristeza profunda ao revisitar essas memórias. Elyas…, seu nome flutuava em sua mente, cheio de dor e arrependimento. Ela sabia que ele não tinha começado a vê-la como um monstro por conta própria. O império e sua obsessão pelo controle do poder plantaram as sementes da desconfiança. Elyas foi apenas o instrumento da vontade de Alarion.

Mas ainda assim, isso não apagava a traição. Elyas, o garoto que prometeu estar ao seu lado para sempre, agora era o homem que a prendeu, que pronunciou as palavras que a apagaram do mundo. Você me abandonou….

FIM DO CAP 1

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Comments

paguem o meu wi-fi

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Top, tomara que ela recupere o seu poder e faça o império queimar em ruínas (mesmo q os atuais cidadãos não tenham culpa, seus ancestrais tiveram, ela deu o sangue pra proteger eles e eles a agradeceram lhe selando pq n conseguiam lhe tirar a vida) ela deu destrui-los como eles a destruíram e então encontrar a sua felicidade

2024-10-15

1

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