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Saí de casa em silêncio, era óbvio que Ohm não queria falar naquele assunto, mas naquela altura tinha-se tornado num mal necessário. Mike foi dispensado, pois Ohm ia conduzir nessa noite.

- Tiraste o carro da garagem?- perguntou a Mike. Ele deu-lhe as chaves.

- Está já na rua patrão.- ele disse retirando-se. Quando cheguei perto do portão da casa e olhei para a rua e tive mesmo de me controlar\, pois quase gritei quando vi Chevrolet corvette laranja estacionado á porta de nossa casa.

- Aquele carro é teu! - constatei o óbvio. Ele olhou para mim.

- Podes pedir-me tudo\, menos conduzi-lo.- ele sorriu entrando no carro.

Okay, a vida ao lado de Ohm nem era tão má assim, não era todos os dias que eu via alguém conduzir um monstro daqueles. Perdi-me completamente a ver ele conduzir, mas a certo ponto despertei e lembrei-me que tínhamos assuntos mais sérios a tratar antes de chegarmos a casa dos pais dele.

- Vais falar do teu ex?- perguntei usando um tom indiferente. Ele olhou para mim de relance e franziu o sobrolho.

- Se tem mesmo de ser...Bem\, o Drake foi meu colega de escola durante alguns anos\, sempre nos demos bem\, estávamos sempre juntos\, éramos inseparáveis. Um dia\, os pais dele mudaram ele de escola do nada e eu fiquei sem saber nada sobre ele. Anos depois vi ele numa audiência\, aparentemente ele era agora é advogado de direito criminal como eu\, mas a diferença é que ele aceita os piores casos\, para defender sempre os assassinos. Quando começámos a namorar isso nunca foi um problema para mim\, porque todos temos de ganhar  vida e nem sempre os réus são culpados\, mas com o tempo comecei a ver que ele tinha mesmo gosto em soltar de volta para as ruas criminosos muitas vezes reincidentes. As coisas em casa começaram a andar tremidas\, porque eu já não me sentia bem com ele\, e ele a certo ponto começou a trabalhar em casos relacionados com a máfia. Um dia recebi um pedido de ajuda por parte de um advogado amigo meu\, ele tinha em mãos um caso relacionado com crianças\, era uma menina de quinze anos que tinha visto demais e por isso tinha sido silenciada. Não costumo pegar em casos relacionados com crianças\, mas quando me disseram que era o Drake que ia estar a defender o assassino nem pensei duas vezes\, porque sabia do que ele era capaz.

- Não me parece que vá simpatizar com essa pessoa...- comentei começando a ficar irritado com o tal de Drake.

- Calma\, espera e ouve-me. Nesse dia cheguei a casa e tivemos uma discussão enorme\, eu queria que ele largasse o caso\, afinal era sobre uma criança\, mas ele disse que podia ser que com aquele caso ele ficasse mais conhecido e arranjasse mais clientes\, era apenas uma questão de dinheiro\, fama\, ele não queria saber de mais nada. Por isso eu não larguei o caso\, ele ficou chateado e com receio que eu ganhasse\, por isso pediu ajuda á máfia\, para que eles desaparecessem com as provas que existiam contra o assassino. Sem provas ele ganhou o caso e o assassino foi posto em liberdade\, mas durante pouco tempo\, pois a mãe da menina matou-o dois dias depois atropelando ele.

- Boa!- exclamei aliviado por saber que um monte de esterco como aquele não estava em liberdade\, mas depois calei-me quando vi o ar carregado de Ohm.- Ela foi presa\, não foi?

- Sim. O juíz sentenciou-a a dez anos de prisão por ter assassinado um "homem inocente".

-Mas ele não era inocente…!

- E onde estavam as provas?- perguntou Ohm muito cansado.- O Drake destruiu as provas\, e mesmo que elas existissem só iam atenuar a pena dela\, tive sorte em conseguir que não a condenassem á morte.

- E esse Drake?

- Bem\, como era de esperar\, no dia em que saiu a sentença dela eu acabei as coisas com ele\, foi apenas uma mera formalidade\, pois desde que ele tinha feito aquilo com as provas que já nem nos falávamos. Desde aí que de vez em quando tenho notícias dele\, mas nunca mais peguei casos em que fosse ele a defesa.

- Não sei o que dizer...- respondi ainda chocado com tudo aquilo. Eu era um criminoso\, eu nunca ia negar isso\, mas pelo menos eu tinha noção de que eu apenas os comia e os depenava\, não matava ninguém\, nem chegava perto de situações dessas.

- Quero que percebas que ele era para os meus pais o genro ideal\, ele não tinha escrúpulos e muitas vezes eu duvidava que a nossa relação não fosse apenas baseada em sexo\, como a nossa é mais ou menos…

Quando o ouvi dizer aquilo fiquei com uma vontade enorme de lhe dar um soco. Como é que ele podia comparar o que tínhamos com o que ele tinha tido com Drake?

- Ainda bem que sabes que o que temos é apenas sexo...- respondi entredentes.- Isso e o facto de me poderes mandar para a cadeia quando quiseres...realmente mudaste de um criminoso maior para um mais pequeno…

O resto da viagem mantive-me calado, não queria que ele entendesse que aquele comentário idiota me tinha deixado afectado.

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Comments

Kenia Silvia

Kenia Silvia

o pobre já sofreu muito

2025-01-29

0

Da Silva Lopes Clinger

Da Silva Lopes Clinger

se apaixonar as vezes é preciso bb

2024-11-24

1

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