Kira bateu a porta e ficou tudo silencioso. Kayo estava parado em frente a mim e eu gradualmente fui acalmando. Voltei costas e sentei-me novamente na poltrona.
Então é isso? - ele falou finalmente ainda ficando na entrada do apartamento.
Isso o quê? - perguntei baixo baixando a cabeça.
Estás chateado comigo porque me suicidei...Por isso é que não me queres perto de ti. No fundo, é isso que te incomoda.
Não, não é isso. Não preciso de saber o que se passou contigo, só não acho normal teres-te suicidado. Tinhas uma vida toda pela frente. O resto são problemas meus.
O Kira contou-me. Eu sei desses teus problemas. Guerras existem, e tu tiveste de participar de uma, como era de esperar houve mortos, feridos…
Mulheres e crianças. - respondi quando as lágrimas começaram a cair pelo meu rosto. - Mulheres e crianças. Achas mesmo que tenho o direito de voltar ao mundo depois do que fiz? Eu estava lá quando o meu capitão meteu a bomba no orfanato e não consegui salvar ninguém, morri lá dentro na tentativa de salvá-los. Sabes qual foi a paga? O capitão mandou executar a minha família, porque eu era um traidor...Perdi tudo naquele dia...
Já pagaste por isso, certo?
Eles dizem que sim, mas eu acho que não. Ainda oiço os gritos deles quando fecho os olhos...
Sabes o que eu acho? - perguntou ele aproximando-se de mim.
Não comeces… -pedi olhando para ele, eu conhecia todas as expressões dele e se eu não arranjasse uma rota de fuga aquela noite ia acabar de uma maneira que nenhum de nós esperava.
Levantei-me da poltrona quase aos tropeções e quando deu por mim estava encostado á porta do meu quarto. Kayo pôs-se em frente a mim e apoiou os dois braços na porta de maneira a que eu não fugisse: o aroma a canela voltou a deixar-me anestesiado, aquele cheiro que ele tinha era único e fazia-me ficar duro automaticamente, por isso eu evitava sempre chegar muito perto dele. Lembro-me que no dia em que o tinha visto pela primeira vez ele estava num bar e eu tinha ido lá recolher uma alma. Quando o meu olhar se cruzou com o dele eu percebi que vários problemas vinham a caminho, mas não quis saber, e naquele momento , ali com ele a olhar para mim, eu sabia que estava a andar sob cascas de ovos e que a qualquer momento eu ia cair em tentação.
Acho que andas a fugir de mim… - ele disse baixando a cabeça e dar-me um beijo muito leve no pescoço fazendo-me ficar arrepiado.
Pára...- pedi sem grande convicção. Ele riu. Era aquele riso de alguém muito convencido, mas o problema é que ele tinha a fama e o proveito. Eu nunca tinha entendido como um homem lindo como ele tinha olhado para mim e penso que nunca irei saber, mas naquele momento eu estava demasiado dividido: ou deixava ele avançar e íamos acabar os dois na cama, ou ia meter um travão e isso provavelmente ia ser a machadada final entre nós. Mas eu queria mesmo acabar assim? Eu sei que tinha dito que ele tinha a conclusão dele, mas para mim isso nunca se tinha posto em causa, porque eu mal o via o meu coração gritava por ele e era apenas a minha força de vontade que mandava nesses momentos, mas naquele preciso momento estava a faltar-me.
Queres mesmo que eu pare?- perguntou ele enquanto continuava a beijar-me o pescoço.- É que eu acho que se for a ver, parte de ti não quer que eu pare...- ele começou a descer a mão e enfiou-a debaixo da minha t-shirt subindo até ao meu peito.
Preciso mesmo que pares...- eu pedi. Novamente sem ser convincente e mordi o meu lábio inferior. Ele levantou a cabeça e olhou-me nos olhos.
Queres que pare mesmo? Última vez que te pergunto. Depois podes ter a certeza que nunca mais te toco.
Sim.- eu disse finalmente ajeitando os meus óculos para me dar um ar mais sério. - Já acabou á imenso tempo...e tu...bem tu tens de seguir em frente e não me chateares mais com este assunto.
Kayo baixou os braços e eu pude sair de perto dele respirando de alívio. Mantive-me de costas para ele e maneira a que ele não nota-se o quão duro eu estava, e quase rezei para que ele não me obrigasse a virar para ele.
Sabes, - começou ele, desta vez com uma voz trémula- eu já te conheço tão bem que até os teus tiques sei de cor. Ainda não me esqueci que quando estás nervoso ou a mentir mordes sempre o teu lábio...
Sabem aquele nervoso miudinho que vai crescendo quando temos a plena noção que fomos descobertos? Sim, pois é, naquele momento até as minhas mãos começaram a ficar transpiradas quando ele me puxou por um braço para me beijar.
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