15

Acabei por adormecer no chão. No dia seguinte fui acordado por Kira, que já tinha ido a casa trocar de roupa e tinha voltado para acordar.

- Vamos, está na hora. - disse ele ajudando-me a levantar do chão.- Tens a audiência daqui a uma hora. O Kayo foi-me designado hoje Khao.

Assimilei a notícia e tentando ser o mais indiferente possível fui tomar banho. O nó na garganta continuava lá e por momentos posso jurar que tive a sensação que ia morrer de novo, mas não, isso era impossível.

Quando saí do banho, quase em modo zombie, vesti-me sem sequer olhar no espelho: naquele momento eu estava a sentir um enorme vergonha de mim mesmo, sentia que de alguma maneira estava a trair o Kayo.

- Já sabes como vais fazer? -perguntou Kira mal saí do quarto pronto.

- Sei. Vais buscar ele?

- Ele deve estar á minha espera. - suspirou - Não me sinto bem com isto. Ele devia saber o que se está a passar.

- Para quê? Achas que já não me sinto mal com isso? Ele não precisa de saber. - abri a porta de casa e deu de caras com Kayo que estava no corredor a fechar a porta do apartamento dele. Mal nos viu fez um sorriso, mas era o sorriso mais triste que eu já tinha visto. Foi um sorriso que me deixou o coração em pedaços.

- Ele entendeu tudo mal. - murmurei para mim mesmo.

- Não percebi. - disse Kira empurrando-me ligeiramente para fechar a porta do meu apartamento.

- Ele pensa que eu e tu temos alguma coisa. - eu acabei por dizer.

- Deve ser... - riu Kira, mas depois ao olhar para Kayo olhou para mim de repente. - Não pode. Ele não pode estar a pensar isso!

- Deixa-o pensar. - pedi a ele num murmuro.- Enquanto ele pensar nisso vai-se manter afastado.

Kira trancou a porta e meteu as chaves do apartamento na minha mão.

- Vou lá ter com o teu ex quase marido. - disse com um sorriso amável que me dizia que ele percebia o que eu estava a passar.

- Olha! - gritei-lhe.

- Que foi? - perguntou voltando para trás.

- Nada de janelas com ele se faz favor. - pedi-lhe num murmuro para que Kayo não me ouvisse.

- Okay chefe! - disse ele a sorrir. - Mas logo temos noite de sidra!

- Não, logo á noite eu compro o whisky. - eu disse fazendo Kira dar um pulinho no ar.

Kira chegou perto de Kayo e ouvi ele dizer claramente.

- Vamos embora, o Khao vai para a sede hoje.

Assim que saí do meu condomínio fui ter com o Yuri á sede. Yuri era o meu supervisor, ele tinha um feitio que nem eu mesmo percebia: havia dias em que lhe podíamos pedir o que quer que fosse, e noutros dias nem valia a pena sequer falar com ele, porque se fosse preciso até com livros nos atirava.

Ao chegar ao gabinete de Yuri reparei que já se ouviam vozes lá dentro e fiquei á escuta.

- Seja qual for a situação ele vai ficar designado a ele. - dizia uma mulher de voz estridente.

- Mas temos sempre de analisar o pedido. - dizia ele numa tentativa de seguir as regras que ele tanto amava.

- Não, neste caso não se aplica. Precisamos que o Kayo fique com ele, pois ele no futuro irá para um dos cargos mais altos, tal como estava o nosso ex-lider. Precisamos de ter a certeza que nada lhe acontece até lá!

- Mas eles tinham um relacionamento! - quase gritou Yuri tentando manter o controlo no tom de voz.

- "Tinham", disse bem, tinham, por isso não temos de nos preocupar mais. Acabou a reunião.

- Mas não o vão ouvir?!

- Não.

Entrei na sala a tempo de ver Irina pegar na mala e ajeitar os óculos: ela era a executora do submundo. Todas as decisões importantes passavam pelas mãos dela, quando se tratavam de recursos ou de rejeições de ceifadores para darem acompanhamento aos novatos era ela quem ia ao local presidir a essas reuniões. Naquela, pelos vistos, a decisão já estava tomada, e só ia ser mudada caso algo de grave acontecesse, como eu dizer que Kayo ainda tinha lembranças.

- Preciso de falar consigo. - pedi-lhe mal a vi, mas ela olhou-me de alto abaixo como se estivesse a olhar para um demónio de baixa categoria e riu-se.

- Já não é preciso, já sei do que se trata.

- Há pormenores que desconhece.

- Já conheço todos. - respondeu ela voltando a ajeitar os óculos na ponta do nariz e respirando fundo.

- Não conhece, isso lhe garanto. - arrisquei sabendo que estava a cavar a minha sepultura novamente.

Irina aproximou-se de mim e quase a falar-me ao ouvido disse tão baixo que pensei estar a sonhar quando ela falou.

- Se está a falar da parte dele ter memórias, sim, nós sabemos. Agora faça o que lhe compete. E não mexa mais no assunto.

O meu mundo caiu naquele momento.

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