Juro que no momento em que ouvi ele dizer que era o nosso aniversário preferia que o chão se tivesse aberto debaixo de mim. Valia a pena perguntar se eu tinha entendido bem? E se a resposta fosse a mesma?
Olhei para Kayo e optei pela saída mais fácil: ignorei o que ele tinha dito.
Vou para casa, este dia não foi fácil. Acho que já consegues ir para casa sozinho, certo?
Era o dia do nosso aniversário. - voltou ele a repetir desviando o olhar das estrelas, olhando para mim.
E agora? Eu devia continuar a ignorar, ou desviar o assunto?
Não sei do que falas. - respondi virando costas para ir para casa, mas ele agarrou-me por um braço.
Tens a certeza que não te lembras? Naquele dia fazíamos dois anos que tínhamos começado a namorar, ou o que quer que aquilo fosse...
Ainda a agarrar-me por um braço puxou-me de maneira a que eu ficasse voltado de frente para ele, e nessa altura olhei ele nos olhos: havia mágoa, ódio, eram tudo sentimentos dos quais eu tinha sempre fugido quando terminei com ele.
Não era para te lembrares. - respondi assumindo a postura mais calma que eu conseguia ter naquele momento.
Não me contaste porquê?!- ele perguntou já com a voz trémula de raiva.- Devias ter-me contado!
Não era suposto tu teres memórias! - quase gritei começando a perder a calma. - Quando me foste designado eu nem sabia quem eras, só quando vi o teu crachá é que vi quem eras. Achas que eu queria isto?! Nunca me passou pela cabeça ter de "lidar" contigo novamente.
"Lidar"?! A sério? - ele gritou cada vez mais apertando o meu braço.
Eu já não sabia como podia lidar com ele. A minha vontade era abraçá-lo, mas eu sabia que dali a pouquíssimo tempo alguém me ia chamar e ele ia ser enviado para outro supervisor. Mas agora, o facto dele se lembrar de mim mudava tudo: não tinha sido eu a fazer nada, ele lembrava-se, porque tinha havido um erro qualquer, por isso tecnicamente se eu e ele voltássemos ao que éramos não haveria punição, pois a culpa não tinha sido nossa...MAS NO QUE RAIO EU ESTAVA A PENSAR?!
Okay, desculpa, foi uma péssima resposta. Larga-me primeiro, já me estás a magoar.
Kayo largou o meu braço, mas continuou a olhar para mim como se estivesse á espera que eu fosse fugir a qualquer momento.
Sentei-me e olhei para as minhas pernas durante momentos, eu tinha de pensar bem antes de voltar a dizer o que quer que fosse, mas o problema é que eu não tinha jeito nenhum com as palavras:
O que queres agora? Morreste. E agora?
Vi na cara de Kayo que eu estava a ultrapassar um limite e depois poderia não haver ponto de retorno, e nem mesmo eu sabia se era isso que eu queria.
Quero saber por que razão acabaste comigo. Apenas isso e depois seguimos em frente como se nada tivesse acontecido.
Vais estar a bater numa tecla já muito velha. Esquece isso. - disse-lhe tentando não remexer muito no passado, no que me doía mais.
Eu sei, mas quero saber, preciso de saber. - pediu ele com a voz trémula e desta vez não era de raiva. Evitei olhar para ele.
Porque tinha de ser. - respondi secamente. - Tu eras um carninha, e eu um ceifeiro. Que futuro íamos ter? Eu ia ter de esperar que morresses, ou eu ia reencarnar e não me lembrar mais de ti. Que opções havia? Eu não vou reencarnar tão cedo, aliás não quero. Apenas decidi que não tinhas de te empenhar numa relação que não ia ter futuro…
E eu não tinha opção de escolha? Não podia decidir o que eu queria?
Não. Não te prendas a quem não te pode dar nada. - respondi simplesmente. Levantei-me deixando ele sentado ainda no banco de cabeça baixa.
Era aquela a melhor opção: por mais que me doesse eu não podia ter ele na minha vida, dar-lhe esperanças de um futuro que não ia existir.
Tínhamos terminado e agora ele tinha tido finalmente a conclusão que precisava.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments